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ERUDITO
Compositor Dieter Schnebel apresenta sua obra "Maulwerke" e é uma das estrelas da 40ª edição do festival em SP
Música Nova destaca a vanguarda alemã
IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Resgatando suas origens, o Festival Música Nova tem como
principal destaque, em 2005, um
autor alemão que esteve na ponta
das vanguardas musicais dos
anos 60 e 70: Dieter Schnebel, 75.
Schnebel estudou teologia e
música em Freiburg e chegou a se
ordenar pastor luterano. "Ele podia ser visto em um grande evento
de vanguarda em Munique, e, no
dia seguinte, oficiando um culto
religioso", lembra o compositor
Gilberto Mendes, 82, diretor artístico do festival.
Mendes criou o Música Nova
em 1962, época em que começou a
freqüentar, como bolsista, os cursos de verão realizados na cidade
alemã de Darmstadt. Entre os docentes, estavam nomes como Henri Pousseur, Pierre Boulez e Karlheinz Stockhausen.
"Schnebel é um grande representante dessa linha que deu origem à nossa música. Pessoalmente, é muito diferente do Stockhausen, que tem toda aquela arrogância", compara. "Ele é uma espécie
de John Cage alemão, só que mais
participativo. Nos anos 70, veio
participar dos Cursos Latino-Americanos de Música Contemporânea, eventos que funcionavam como resistência à ditadura e
que traziam autores europeus de
renome, como o Luigi Nono."
Schnebel supervisiona, no sábado, a estréia brasileira da versão
de uma de suas obras mais expressivas, "Maulwerke", para órgãos de articulação e aparelhos de
reprodução, interpretada pelo
KaG (Kunstarbeiders Gezelschap,
ou Associação de Trabalhadores
em Arte), grupo europeu dirigido
pelo brasileiro radicado na Bélgica, Álvaro Guimarães.
Outra atração européia é o Ensemble Orchestral Contemporain, de Lyon, que, sob a direção
de Daniel Kawka, executa no dia 9
um programa de música francesa,
homenageando Hughes Dufourt
e incluindo obras de compositores-chave do século 20, como Edgard Varese ("Octandre") e Pierre
Boulez ("Derive 1").
No dia seguinte, a pianista britânica Joanna MacGregor faz uma
apresentação eclética, na qual
composições próprias convivem
com o renascentista inglês William Byrd, o barroco germânico
de Johann Sebastian Bach, o pianismo contemporâneo do húngaro György Ligeti e os tangos de
Astor Piazzolla.
Entre os grupos brasileiros, a
Banda Sinfônica do Estado de São
Paulo, amanhã, sob a batuta de
Abel Rocha, faz uma apresentação dedicada exclusivamente a
compositores nacionais, com destaque para a primeira audição
mundial do bem-humorado
"Concerto para Violino e Banda",
do mineiro Eduardo Guimarães
Álvares, com solo de Luiz Amato.
A Orquestra Sinfônica Municipal de Santos toca em São Paulo
no dia 12, enquanto, no dia 19, a
Orquestra de Câmara da USP
apresenta um programa 100%
brasileiro, no qual o fagotista Fábio Cury sola no "Concertino" de
Francisco Mignone para seu instrumento e também nas "Nove
Variações para Fagote e Orquestra de Cordas", do baiano Lindembergue Cardoso.
O Festival Música Nova celebra,
em 2005, sua 40ª edição. "O festival é a minha sarna. Não consigo
me livrar dele", diz Mendes. Neste
ano, a direção executiva é assinada por Lorenzo Mammì (diretor
do Centro Universitário Maria
Antonia, da USP) e Luiz Gustavo
Petri (regente titular da Orquestra
Municipal de Santos). Além de
São Paulo, os concertos também
ocorrem nas cidades de Santos e
Campinas.
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