São Paulo, quinta-feira, 04 de agosto de 2005

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ERUDITO

Compositor Dieter Schnebel apresenta sua obra "Maulwerke" e é uma das estrelas da 40ª edição do festival em SP

Música Nova destaca a vanguarda alemã

IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Resgatando suas origens, o Festival Música Nova tem como principal destaque, em 2005, um autor alemão que esteve na ponta das vanguardas musicais dos anos 60 e 70: Dieter Schnebel, 75.
Schnebel estudou teologia e música em Freiburg e chegou a se ordenar pastor luterano. "Ele podia ser visto em um grande evento de vanguarda em Munique, e, no dia seguinte, oficiando um culto religioso", lembra o compositor Gilberto Mendes, 82, diretor artístico do festival.
Mendes criou o Música Nova em 1962, época em que começou a freqüentar, como bolsista, os cursos de verão realizados na cidade alemã de Darmstadt. Entre os docentes, estavam nomes como Henri Pousseur, Pierre Boulez e Karlheinz Stockhausen.
"Schnebel é um grande representante dessa linha que deu origem à nossa música. Pessoalmente, é muito diferente do Stockhausen, que tem toda aquela arrogância", compara. "Ele é uma espécie de John Cage alemão, só que mais participativo. Nos anos 70, veio participar dos Cursos Latino-Americanos de Música Contemporânea, eventos que funcionavam como resistência à ditadura e que traziam autores europeus de renome, como o Luigi Nono."
Schnebel supervisiona, no sábado, a estréia brasileira da versão de uma de suas obras mais expressivas, "Maulwerke", para órgãos de articulação e aparelhos de reprodução, interpretada pelo KaG (Kunstarbeiders Gezelschap, ou Associação de Trabalhadores em Arte), grupo europeu dirigido pelo brasileiro radicado na Bélgica, Álvaro Guimarães.
Outra atração européia é o Ensemble Orchestral Contemporain, de Lyon, que, sob a direção de Daniel Kawka, executa no dia 9 um programa de música francesa, homenageando Hughes Dufourt e incluindo obras de compositores-chave do século 20, como Edgard Varese ("Octandre") e Pierre Boulez ("Derive 1").
No dia seguinte, a pianista britânica Joanna MacGregor faz uma apresentação eclética, na qual composições próprias convivem com o renascentista inglês William Byrd, o barroco germânico de Johann Sebastian Bach, o pianismo contemporâneo do húngaro György Ligeti e os tangos de Astor Piazzolla.
Entre os grupos brasileiros, a Banda Sinfônica do Estado de São Paulo, amanhã, sob a batuta de Abel Rocha, faz uma apresentação dedicada exclusivamente a compositores nacionais, com destaque para a primeira audição mundial do bem-humorado "Concerto para Violino e Banda", do mineiro Eduardo Guimarães Álvares, com solo de Luiz Amato.
A Orquestra Sinfônica Municipal de Santos toca em São Paulo no dia 12, enquanto, no dia 19, a Orquestra de Câmara da USP apresenta um programa 100% brasileiro, no qual o fagotista Fábio Cury sola no "Concertino" de Francisco Mignone para seu instrumento e também nas "Nove Variações para Fagote e Orquestra de Cordas", do baiano Lindembergue Cardoso.
O Festival Música Nova celebra, em 2005, sua 40ª edição. "O festival é a minha sarna. Não consigo me livrar dele", diz Mendes. Neste ano, a direção executiva é assinada por Lorenzo Mammì (diretor do Centro Universitário Maria Antonia, da USP) e Luiz Gustavo Petri (regente titular da Orquestra Municipal de Santos). Além de São Paulo, os concertos também ocorrem nas cidades de Santos e Campinas.


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