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Gossip levanta bandeira de mulheres e gordinhas
Liderada pela carismática Beth Ditto, banda lança elogiado álbum disco-punk
Em entrevista, a vocalista conta por que não gosta de eufemismos ao falar sobre o próprio corpo e desanca o machismo no pop e no rock
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
Beth Ditto é líder e vocalista
do Gossip, uma das mais quentes e divertidas bandas do rock
americano. Mas há mais em
Beth Ditto. Ela é gorda. Faz
questão de ressaltar o fato e
compra briga com quem prefere utilizar eufemismos.
"Quando dizem "acima do peso" ou mesmo "obeso", dão a entender que existe um peso correto para seu corpo, e isso não é
correto. Gosto da palavra "gorda", vejo como algo positivo, de
alguém que se sente bem com o
corpo que tem, em vez de tentar modificá-lo. Você não precisa ser magro para ser bem-sucedido e saudável. Eu, por
exemplo, tenho pressão baixa...", diz ela, com uma gargalhada, à Folha.
Beth Ditto fala coisas que
normalmente não são ditas pelos popstars e, com seu The
Gossip, faz parte de uma geração de mulheres que retomam
a bandeira do feminismo e, de
uma maneira ou de outra, denunciam o machismo que toma conta do rock e do pop.
Pode vir na forma de discurso, como é o caso do Gossip, de
tiradas desbocadas, como as da
inglesa Lily Allen, 21, que vive
cutucando os meninos das novas bandas de rock (ela, cujo recente disco "Alright, Still" chegou ao topo da parada, os chama de "posers"), ou de canções
irônicas, como as de Tigarah,
japonesa que canta funk carioca.
Voltando ao Gossip, quando
não está cantando com sua voz
lustrosa e carregada de soul
music que a fez ser comparada
a Etta James e Nina Simone,
Beth Ditto solta a língua.
"O mainstream e a mídia são
dominados por artistas masculinos. A [revista] "Rolling Stone", por exemplo... se eu ler
mais alguma coisa sobre o Bob
Dylan, sou capaz de vomitar.
Ele é ótimo, tudo bem, mas tem
tantas outras coisas acontecendo... Bandas de gente que não
são homens, não são heterossexuais, não são bonitinhos."
A banda acaba de lançar nos
EUA o terceiro álbum, "Standing in the Way of Control",
carregado de músicas de energia punk e balanço dance
-canções como "Listen Up" e a
faixa-título estão ganhando remixes e sendo tocadas em clubes de Londres a São Paulo.
"É importante manter os ouvidos abertos para música, para
não fazer o mesmo disco para
sempre. Este é um pouco mais
dançante, estamos com um baterista diferente, foi uma progressão natural", diz, referindo-se aos álbuns anteriores,
"Movement" (2003) e "That's
Not What I Heard" (00).
Dificilmente algum dos discos do Gossip (além de Ditto, o
guitarrista Brace Paine e a baterista Hannah Bilie) sairá no
Brasil; para ouvir o grupo sem
sair de casa, basta ir ao perfil da
banda no MySpace
(www.myspace.com/gossipband) ou ao site da gravadora
(www.killrockstars.com).
White Stripes, YYY
Quando começou a ser notado, o Gossip fazia parte de uma
cena que envolvia também
bandas que pouco depois viriam a estourar:
"Costumávamos tocar com
White Stripes, Yeah Yeah
Yeahs, Raveonettes, quando
ninguém os conhecia. Na época, havia ao redor muita gente
da indústria, das gravadoras.
Muitos assinaram com grandes
gravadoras, mas acho que, com
a gente, eles não sabiam o que
fazer. Éramos um pouco mais
crus, menos pop. Hoje, temos
mais conexão com grupos como Erase Errata e Les George
Leningrad", afirma. Em seguida, completa: "Ah, e com um
grupo muito bom de São Paulo,
o Dominatrix".
O Gossip, que passou pela
Europa e se prepara para uma
extensa turnê norte-americana, fala de coisas sérias, mas
nos discos e nos shows, o negócio é outro. "Não escrevemos
canções de protesto ou coisas
do tipo. Fazemos músicas para
serem tocadas em shows, para
divertir todo mundo. Não levamos as coisas muito a sério, damos risada o tempo todo."
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