São Paulo, sexta-feira, 04 de agosto de 2006

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Gossip levanta bandeira de mulheres e gordinhas

Liderada pela carismática Beth Ditto, banda lança elogiado álbum disco-punk

Em entrevista, a vocalista conta por que não gosta de eufemismos ao falar sobre o próprio corpo e desanca o machismo no pop e no rock


THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

Beth Ditto é líder e vocalista do Gossip, uma das mais quentes e divertidas bandas do rock americano. Mas há mais em Beth Ditto. Ela é gorda. Faz questão de ressaltar o fato e compra briga com quem prefere utilizar eufemismos.
"Quando dizem "acima do peso" ou mesmo "obeso", dão a entender que existe um peso correto para seu corpo, e isso não é correto. Gosto da palavra "gorda", vejo como algo positivo, de alguém que se sente bem com o corpo que tem, em vez de tentar modificá-lo. Você não precisa ser magro para ser bem-sucedido e saudável. Eu, por exemplo, tenho pressão baixa...", diz ela, com uma gargalhada, à Folha.
Beth Ditto fala coisas que normalmente não são ditas pelos popstars e, com seu The Gossip, faz parte de uma geração de mulheres que retomam a bandeira do feminismo e, de uma maneira ou de outra, denunciam o machismo que toma conta do rock e do pop.
Pode vir na forma de discurso, como é o caso do Gossip, de tiradas desbocadas, como as da inglesa Lily Allen, 21, que vive cutucando os meninos das novas bandas de rock (ela, cujo recente disco "Alright, Still" chegou ao topo da parada, os chama de "posers"), ou de canções irônicas, como as de Tigarah, japonesa que canta funk carioca.
Voltando ao Gossip, quando não está cantando com sua voz lustrosa e carregada de soul music que a fez ser comparada a Etta James e Nina Simone, Beth Ditto solta a língua.
"O mainstream e a mídia são dominados por artistas masculinos. A [revista] "Rolling Stone", por exemplo... se eu ler mais alguma coisa sobre o Bob Dylan, sou capaz de vomitar. Ele é ótimo, tudo bem, mas tem tantas outras coisas acontecendo... Bandas de gente que não são homens, não são heterossexuais, não são bonitinhos."
A banda acaba de lançar nos EUA o terceiro álbum, "Standing in the Way of Control", carregado de músicas de energia punk e balanço dance -canções como "Listen Up" e a faixa-título estão ganhando remixes e sendo tocadas em clubes de Londres a São Paulo.
"É importante manter os ouvidos abertos para música, para não fazer o mesmo disco para sempre. Este é um pouco mais dançante, estamos com um baterista diferente, foi uma progressão natural", diz, referindo-se aos álbuns anteriores, "Movement" (2003) e "That's Not What I Heard" (00).
Dificilmente algum dos discos do Gossip (além de Ditto, o guitarrista Brace Paine e a baterista Hannah Bilie) sairá no Brasil; para ouvir o grupo sem sair de casa, basta ir ao perfil da banda no MySpace (www.myspace.com/gossipband) ou ao site da gravadora (www.killrockstars.com).

White Stripes, YYY
Quando começou a ser notado, o Gossip fazia parte de uma cena que envolvia também bandas que pouco depois viriam a estourar:
"Costumávamos tocar com White Stripes, Yeah Yeah Yeahs, Raveonettes, quando ninguém os conhecia. Na época, havia ao redor muita gente da indústria, das gravadoras. Muitos assinaram com grandes gravadoras, mas acho que, com a gente, eles não sabiam o que fazer. Éramos um pouco mais crus, menos pop. Hoje, temos mais conexão com grupos como Erase Errata e Les George Leningrad", afirma. Em seguida, completa: "Ah, e com um grupo muito bom de São Paulo, o Dominatrix".
O Gossip, que passou pela Europa e se prepara para uma extensa turnê norte-americana, fala de coisas sérias, mas nos discos e nos shows, o negócio é outro. "Não escrevemos canções de protesto ou coisas do tipo. Fazemos músicas para serem tocadas em shows, para divertir todo mundo. Não levamos as coisas muito a sério, damos risada o tempo todo."


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