São Paulo, sexta-feira, 04 de agosto de 2006

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Crítica/música

Reinvenções de Iggy e Bowie chegam ao país

BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em 1977, não havia definição melhor do que "pateta" para o vocalista dos Stooges, Iggy Pop. Caricatura ambulante de si mesmo, o cantor estava na pior. Atolado nas drogas, vinha de uma internação em um hospital psiquiátrico. Anos de excessos à frente de sua revolucionária banda enfim chegavam para cobrar sua dívida. Iggy era apenas uma piada, um artista decadente de um grupo falido.
"The Idiot", o histórico álbum de título sintomático que registra sua saída do limbo e marca o início de uma vigorosa carreira solo, enfim ganha edição em CD no Brasil. No embalo, chega também "Scary Monsters" (1980), de David Bowie, o artista que estendeu uma (interesseira) mão amiga para o renascimento de Iggy. Durante um curto período de tempo, foram uma espécie de primo pobre e primo rico do rock. O encontro aparece bem romantizado no filme "Velvet Goldmine" (1998), de Todd Haynes.
Bowie, já um superstar no Reino Unido, começava um auto-exílio em Berlim. Fascinado pelas experiências eletrônicas das bandas do chamado krautrock, dava início a um série de três discos sob essa influência.
Fã de Iggy, Bowie decidiu produzir "The Idiot". Foi neste álbum que o americano encontrou novas formas de soltar a voz, mais grave e menos estridente. Sua música desacelerava, ganhando tons mais soturnos -um cruzamento entre James Brown, Kraftwerk e Jim Morrison, como disse à época.
Se em 1969, com o Stooges, Iggy soltava as sementes do punk (que nascia "oficialmente" em 1977), com "The Idiot", ele ajudava a definir as bases do pós-punk, que dominou a virada para os anos 80 -diz a lenda que este é o disco que Ian Curtis, o vocalista do Joy Divison, ouvia antes de se matar.
Com Iggy já reinserido na cena musical, e após finalizar sua trilogia berlinense, Bowie foi a Nova York buscar novos caminhos, entre eles o cinema -é sua fase mais ativa como ator, em filmes como "Fome de Viver". "Scary Monsters" abre a década com Bowie mais próximo do rock convencional.
Era o momento de exorcizar seus fantasmas -o hit "Ashes to Ashes" reencontra o personagem alter ego Major Tom. Com o estouro do disco seguinte, "Let's Dance" (1983), Bowie seria um astro mundial.
Obras que testemunham viradas artísticas, "The Idiot" e "Scary Monsters" ainda reverberam. Iggy vê a proliferação de novas bandas que veneram o pós-punk; já Bowie ainda foge do estigma de nunca mais ter gravado um disco realmente bom desde então. Hoje, são apenas primos distantes.


THE IDIOT     
Artista: Iggy Pop

SCARY MONSTERS     
Artista: David Bowie
Lançamentos: EMI
Quanto: R$ 27, em média, cada um


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