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Crítica/música
Reinvenções de Iggy e Bowie chegam ao país
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL
Em 1977, não havia definição melhor do que
"pateta" para o vocalista dos Stooges, Iggy Pop. Caricatura ambulante de si mesmo,
o cantor estava na pior. Atolado
nas drogas, vinha de uma internação em um hospital psiquiátrico. Anos de excessos à frente
de sua revolucionária banda
enfim chegavam para cobrar
sua dívida. Iggy era apenas uma
piada, um artista decadente de
um grupo falido.
"The Idiot", o histórico álbum de título sintomático que
registra sua saída do limbo e
marca o início de uma vigorosa
carreira solo, enfim ganha edição em CD no Brasil. No embalo, chega também "Scary Monsters" (1980), de David Bowie, o
artista que estendeu uma (interesseira) mão amiga para o renascimento de Iggy. Durante
um curto período de tempo, foram uma espécie de primo pobre e primo rico do rock. O encontro aparece bem romantizado no filme "Velvet Goldmine" (1998), de Todd Haynes.
Bowie, já um superstar no
Reino Unido, começava um auto-exílio em Berlim. Fascinado
pelas experiências eletrônicas
das bandas do chamado krautrock, dava início a um série de
três discos sob essa influência.
Fã de Iggy, Bowie decidiu
produzir "The Idiot". Foi neste
álbum que o americano encontrou novas formas de soltar a
voz, mais grave e menos estridente. Sua música desacelerava, ganhando tons mais soturnos -um cruzamento entre James Brown, Kraftwerk e Jim
Morrison, como disse à época.
Se em 1969, com o Stooges,
Iggy soltava as sementes do
punk (que nascia "oficialmente" em 1977), com "The Idiot",
ele ajudava a definir as bases do
pós-punk, que dominou a virada para os anos 80 -diz a lenda
que este é o disco que Ian Curtis, o vocalista do Joy Divison,
ouvia antes de se matar.
Com Iggy já reinserido na cena musical, e após finalizar sua
trilogia berlinense, Bowie foi a
Nova York buscar novos caminhos, entre eles o cinema -é
sua fase mais ativa como ator,
em filmes como "Fome de Viver". "Scary Monsters" abre a
década com Bowie mais próximo do rock convencional.
Era o momento de exorcizar
seus fantasmas -o hit "Ashes
to Ashes" reencontra o personagem alter ego Major Tom.
Com o estouro do disco seguinte, "Let's Dance" (1983), Bowie
seria um astro mundial.
Obras que testemunham viradas artísticas, "The Idiot" e
"Scary Monsters" ainda reverberam. Iggy vê a proliferação de
novas bandas que veneram o
pós-punk; já Bowie ainda foge
do estigma de nunca mais ter
gravado um disco realmente
bom desde então. Hoje, são
apenas primos distantes.
THE IDIOT
Artista: Iggy Pop
SCARY MONSTERS
Artista: David Bowie
Lançamentos: EMI
Quanto: R$ 27, em média, cada um
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