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"Quis colocar um espelho na história"
No livro "Esquadrão Guilhotina", Guillermo Arriaga aborda a Revolução Mexicana para analisar a América Latina atual
Roteirista de longas como "21 Gramas" e agora diretor, mexicano lança obra na Bienal do Livro e destaca a importância dos roteiristas
EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL
Formado em história, o mexicano Guillermo Arriaga escreve seus romances e roteiros
com um pé no passado e outro
no presente. Em "Esquadrão
Guilhotina", que lança na Bienal do Livro de São Paulo, Arriaga se volta para a Revolução
Mexicana (1910-1920), numa
trama farsesca com paralelos
com o México de hoje: o advogado Feliciano Velasco disfarça
sua origem aristocrata para se
aproximar do revolucionário
Pancho Villa e vender-lhe uma
guilhotina. Acaba cooptado como "compañero".
"Feliciano é um personagem
que representa o que mais detesto politicamente", diz Arriaga, 50, à Folha. "Detesto todo
esse conservadorismo, mercantilização e falta de ideais. O
que quero representar aqui é
um pouco do que acontece agora com o México. Há classes
políticas que, para conseguir se
manter no poder, são capazes
de fazer qualquer coisa. E isso é
algo que acontece em toda a
América Latina."
Se em "Um Doce Cheiro de
Morte", seu último livro a sair
no Brasil, a inspiração foi o escritor Juan Rulfo (1917-1986),
de "Pedro Páramo", em "Esquadrão Guilhotina" a influência veio de outro mexicano,
Martín Luis Guzmán (1887-1976), autor de romances ligados à Revolução Mexicana.
"Ele é considerado o melhor
prosador em língua espanhola
de sua época. Tinha um espanhol impecável, era um intelectual e foi secretário particular de Pancho Villa. Portanto,
um participante muito ativo da
própria revolução", conta. ""Esquadrão" é inspirado nele, mas
sob uma perspectiva do humor.
Pois o humor acaba por permitir aprofundar-se nas motivações de um ser humano."
Arriaga conta que desde
criança teve uma fascinação especial por história. Devorava livros de história, se interessava
pelas guerras, ia a museus etc.
Para ele, a história não é somente uma reprodução da realidade, mas tem também a ver
com as mentiras que a rodeiam, a ficção, o mito.
"Com "Esquadrão Guilhotina", quis fazer uma reflexão sobre a história a partir da perspectiva da ficção e da mentira.
Para colocar um espelho novo
na história, que a ilumine de
outra maneira, de uma perspectiva contemporânea."
Estréia na direção
Autor do roteiro premiado
em Cannes de "Três Enterros"
e do roteiro indicado ao Oscar
de "Babel", Arriaga teve sua estréia na direção, o longa "The
Burning Plain", selecionada para a principal mostra competitiva do Festival de Cannes. Segundo ele, a direção foi uma das
melhores experiências profissionais que teve em sua vida. E
serviu para confirmar a importância que dá ao roteiro na autoria de um filme -algo que
motivou seu rompimento com
o diretor Alejandro González
Iñárritu, seu parceiro em três
filmes, como "Amores Brutos".
"Agora mais do que nunca,
depois de ter sido produtor de
um filme e diretor de outro,
além de escritor, defendo a importância que tem um roteirista, sobretudo se é uma obra original", pondera. "Acredito que
no escritor se manifesta o mundo interno do filme, seus temas,
sua vida. É sumamente importante quem escreve o filme. E
isso digo também agora depois
da experiência como diretor."
O escritor, que não vê diferença entre os roteiros, romances e contos que escreve -"tudo é literatura"-, ressalta que
sua vinda à bienal é a chance de
estar perto dos seus leitores
brasileiros. "Não há honra
maior do que ser lido em outro
país", diz ele, que termina a
conversa contando sua última
boa surpresa com o Brasil, país
que visita pela sétima vez.
"Recebi outro dia uma carta
de um presídio no Estado de
São Paulo dizendo que o "Búfalo da Noite" era um dos livros
favoritos da biblioteca de lá.
Mas que só havia um. Perguntaram se eu não podia mandar
outros. Esse tipo de carta me
motiva muito. Foi escrita em
portunhol. Quero ver direito de
onde veio para mandar uns 50
exemplares."
ESQUADRÃO GUILHOTINA
Autor: Guillermo Arriaga
Tradução: Carla Branco
Editora: Gryphus
Quanto: R$ 29,90 (158 págs.)
Lançamento: na Bienal do Livro de
São Paulo: 16/8, às 19h, na mesa "Páginas da Sétima Arte", com Marçal
Aquino e Fernando Bonassi
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