São Paulo, segunda-feira, 04 de agosto de 2008

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"Quis colocar um espelho na história"

No livro "Esquadrão Guilhotina", Guillermo Arriaga aborda a Revolução Mexicana para analisar a América Latina atual

Roteirista de longas como "21 Gramas" e agora diretor, mexicano lança obra na Bienal do Livro e destaca a importância dos roteiristas


EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

Formado em história, o mexicano Guillermo Arriaga escreve seus romances e roteiros com um pé no passado e outro no presente. Em "Esquadrão Guilhotina", que lança na Bienal do Livro de São Paulo, Arriaga se volta para a Revolução Mexicana (1910-1920), numa trama farsesca com paralelos com o México de hoje: o advogado Feliciano Velasco disfarça sua origem aristocrata para se aproximar do revolucionário Pancho Villa e vender-lhe uma guilhotina. Acaba cooptado como "compañero". "Feliciano é um personagem que representa o que mais detesto politicamente", diz Arriaga, 50, à Folha. "Detesto todo esse conservadorismo, mercantilização e falta de ideais. O que quero representar aqui é um pouco do que acontece agora com o México. Há classes políticas que, para conseguir se manter no poder, são capazes de fazer qualquer coisa. E isso é algo que acontece em toda a América Latina." Se em "Um Doce Cheiro de Morte", seu último livro a sair no Brasil, a inspiração foi o escritor Juan Rulfo (1917-1986), de "Pedro Páramo", em "Esquadrão Guilhotina" a influência veio de outro mexicano, Martín Luis Guzmán (1887-1976), autor de romances ligados à Revolução Mexicana. "Ele é considerado o melhor prosador em língua espanhola de sua época. Tinha um espanhol impecável, era um intelectual e foi secretário particular de Pancho Villa. Portanto, um participante muito ativo da própria revolução", conta. ""Esquadrão" é inspirado nele, mas sob uma perspectiva do humor. Pois o humor acaba por permitir aprofundar-se nas motivações de um ser humano." Arriaga conta que desde criança teve uma fascinação especial por história. Devorava livros de história, se interessava pelas guerras, ia a museus etc. Para ele, a história não é somente uma reprodução da realidade, mas tem também a ver com as mentiras que a rodeiam, a ficção, o mito. "Com "Esquadrão Guilhotina", quis fazer uma reflexão sobre a história a partir da perspectiva da ficção e da mentira. Para colocar um espelho novo na história, que a ilumine de outra maneira, de uma perspectiva contemporânea."

Estréia na direção
Autor do roteiro premiado em Cannes de "Três Enterros" e do roteiro indicado ao Oscar de "Babel", Arriaga teve sua estréia na direção, o longa "The Burning Plain", selecionada para a principal mostra competitiva do Festival de Cannes. Segundo ele, a direção foi uma das melhores experiências profissionais que teve em sua vida. E serviu para confirmar a importância que dá ao roteiro na autoria de um filme -algo que motivou seu rompimento com o diretor Alejandro González Iñárritu, seu parceiro em três filmes, como "Amores Brutos". "Agora mais do que nunca, depois de ter sido produtor de um filme e diretor de outro, além de escritor, defendo a importância que tem um roteirista, sobretudo se é uma obra original", pondera. "Acredito que no escritor se manifesta o mundo interno do filme, seus temas, sua vida. É sumamente importante quem escreve o filme. E isso digo também agora depois da experiência como diretor." O escritor, que não vê diferença entre os roteiros, romances e contos que escreve -"tudo é literatura"-, ressalta que sua vinda à bienal é a chance de estar perto dos seus leitores brasileiros. "Não há honra maior do que ser lido em outro país", diz ele, que termina a conversa contando sua última boa surpresa com o Brasil, país que visita pela sétima vez. "Recebi outro dia uma carta de um presídio no Estado de São Paulo dizendo que o "Búfalo da Noite" era um dos livros favoritos da biblioteca de lá. Mas que só havia um. Perguntaram se eu não podia mandar outros. Esse tipo de carta me motiva muito. Foi escrita em portunhol. Quero ver direito de onde veio para mandar uns 50 exemplares."

ESQUADRÃO GUILHOTINA
Autor: Guillermo Arriaga
Tradução: Carla Branco
Editora: Gryphus
Quanto: R$ 29,90 (158 págs.)
Lançamento: na Bienal do Livro de São Paulo: 16/8, às 19h, na mesa "Páginas da Sétima Arte", com Marçal Aquino e Fernando Bonassi



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