São Paulo, terça-feira, 04 de agosto de 2009

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Livros celebram o centenário de Burle Marx

"Modernidade Verde" e catálogo de mostra no MAM mostram como o paisagista ajudou a definir o modernismo brasileiro

Novos textos avaliam legado do artista que desenhou o calçadão de Copacabana e outros projetos clássicos do paisagismo moderno no país

Américo Vermelho - 19.ago.88/Folha Imagem
Roberto Burle Marx num dos jardins que projetou no
edifício sede da Petrobras, no centro do Rio


SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

Roberto Burle Marx só descobriu a flora brasileira quando foi tratar um problema nos olhos em Berlim, onde viu espécimes daqui no jardim botânico de lá. Da mesma forma que Tarsila do Amaral só descobriu as cores do Brasil em viagens com o francês Blaise Cendrars.
São dois artistas que inventaram o modernismo brasileiro a partir de uma visão estrangeira, mastigada à moda antropofágica, para extrair um caldo local.
No centenário de nascimento do maior paisagista do país, comemorado hoje, dois livros recém-lançados tentam explicar de que maneira seus projetos de jardins ajudaram a moldar o moderno brasileiro.
"Modernidade Verde", de Guilherme Mazza Dourado, liga as paisagens curvilíneas de Burle Marx (1909-1994) às formas arredondadas de Jean Arp e Fernand Léger, artista que também influenciou Tarsila.
Como boa parte dos biógrafos de Burle Marx, Mazza Dourado tenta provar que o paisagista fez mais que transpor os traços de suas pinturas a seus projetos de jardins. A diferença é que se propõe a fazer isso com base em documentos do artista.
"Busquei romper com visões construídas sobre visões e voltar às fontes originais, que são projetos, cartas, depoimentos", diz Dourado. "Minha proposta é fazer um revisionismo de ideias, datação de projetos."
O autor reproduz até trechos do diário de Burle Marx, que narrava suas expedições pelo interior do país à procura de novas plantas. Mais do que dados sobre sua obra, são testemunhos de um momento de descoberta estética e alguns episódios trágicos -um dos relatos narra a morte do arquiteto Rino Levi, que sofreu uma parada cardíaca na viagem.
Não por acaso, Burle Marx acabou emprestando seu nome a mais de 50 espécies de plantas, número que dimensiona sua obsessão pela flora do país. E as curvas de pétalas e caules apareceram depois nos jardins do Ministério de Educação e Saúde, projeto de Le Corbusier, no Rio, e nos desenhos gigantes do calçadão de Copacabana.
Seus projetos paisagísticos e grande parte de sua produção artística estão em mostra agora em cartaz no Museu de Arte Moderna de São Paulo. O catálogo da exposição, compilado pelo curador Lauro Cavalcanti, também traz uma série de textos de especialistas que interpretam a obra de Burle Marx.
No que chama de "livro-síntese", Cavalcanti diz examinar o "poliedro humano" que foi Burle Marx, um dos últimos dos "artistas totais" -arquiteto, pintor, paisagista, tapeceiro.


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