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Após protestos, governo libera fumo nos palcos
Secretaria de Justiça decide pelo "princípio da insignificância" e suspende proibição ao cigarro em cena; atores comemoram medida
JOSÉ ORENSTEIN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O fumo em cena nos espetáculos teatrais não será mais
proibido, de acordo com nota à
imprensa divulgada ontem pela
Secretaria de Justiça do Estado. A Lei Antifumo, que entra
em vigor no Estado de São Paulo a partir de sexta-feira, dia 7,
inclui teatros entre os ambientes proscritos.
Mas, nesta segunda-feira, o
governo decidiu pela suspensão da proibição, por julgar que
"o fumo em cena, quando necessário para uma peça de teatro, é irrelevante do ponto de
vista de prejudicar as outras
pessoas". A proibição nas outras dependências do teatro
que não o palco permanece. A
decisão foi tomada com base no
"princípio da insignificância",
que considera desnecessário
punir um ato ilegal considerado pequeno.
Como noticiado pela Ilustrada no último domingo, a interdição do uso de cigarros em cena vinha preocupando artistas, que deveriam
pedir autorização judicial se
quisessem fumar no palco.
Segundo o secretário de Justiça, Luiz Antonio Guimarães
Marrey, "foi feita uma ponderação de valores entre a finalidade de proteção da saúde pública e a de garantia da liberdade artística". De acordo com
Marrey, após discussão interna, pesou mais esta última, e
por isso está liberado o uso de
cigarros pelos atores no palco.
O governador do Estado de
São Paulo, José Serra, já teria
inclusive manifestado sua posição favorável à liberação para
algumas pessoas ligadas à classe teatral e apenas confirmou
sua opinião, segundo Marrey.
Ainda de acordo com o secretário, trata-se de um esclarecimento em face da polêmica
surgida no setor teatral e os
agentes do governo estadual
que vão fiscalizar a lei serão
orientados a não multar os teatros que promoverem peças
com cigarros. "Mas é bom salientar que o fumo continua
proibido nos teatros e casas de
espetáculos. Só está liberado o
uso pelos atores no palco quando a cena exigir", diz Marrey.
O ator e diretor Celso Frateschi, que se dizia incomodado
com a interferência da lei no
teatro elogiou a medida.
"Corrige-se a tempo um retrocesso que seria como uma
censura. Não se pode permitir
nenhum avanço sobre a liberdade artística; é extrememente
positiva a notícia."
A atriz Mika Lins, em cartaz
com "Memórias do Subsolo",
uma peça em que o cigarro é
elemento fundamental, também aprova a mudança. "Estou
feliz, acho que o governador teve bom senso. Vetar um elemento de cena seria como andar para trás -há 25 anos, a
gente fazia espetáculo para a
censura. Ele percebeu que não
fazia sentido manter essa medida. Não é só pela minha peça,
é uma questão maior, do cerceamento à liberdade artística.
Fico satisfeita."
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