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"ROGER, O CONQUISTADOR"
Independente vê rito de passagem
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL
Junte num mesmo balaio dicionários, ciência, psicologia,
religião, biologia, filosofia, piadas
e o que mais estiver à frente que
nem assim o mais dedicado dos
estudiosos terá à mão as ferramentas para definir com exatidão
o que é um homem.
Conhecemos, antes de mais nada, as atitudes. Mais do que isso,
vemos à exaustão os padrões de
como ser, agir e pensar. "Roger, o
Conquistador" trabalha com dois
seres ao redor desses modelos:
Roger (Campbell Scott), um quarentão cínico, e seu sobrinho Nick
(Jesse Eisenberg), adolescente
que se prepara para vestir a máscara de adulto.
Nessa comédia dramática com
ares de "Sex and the City" para
homens, o diretor Dylan Kidd
-cujo recente "Segunda Chance" estreou na última sexta no
Brasil- debutava em 2002 no
Festival de Veneza, onde ganhou
prêmios para iniciantes.
Não falta simpatia ao longa, já
que ele parte de diálogos espertos
e "tocantes", carta na manga dos
filmes independentes norte-americanos. Roger, por exemplo, é
um publicitário, expert na tática
de guerrilha de "fazer os outros se
sentirem miseráveis" quando
percebem que falta algo às suas vidas. Com lábia afiada, vende seus
produtos na mesma velocidade
com que tenta convencer as mulheres a irem à sua cama.
Esse mesmo homem, que da
boca para fora tem as respostas
para tudo, irá levar um fora de sua
amante e chefe (Isabella Rossellini) e tentará embutir o sensível
Nick nos moldes de sedutor.
Consumidor voraz em potencial, Nick tem o claro sonho de
consumo de conquistar mulheres
e perder a virgindade, já que saiu
de sua cidadezinha para Manhattan em busca de conselhos do tio.
Se a meta é clara, terá que passar
por uma noite nebulosa atrás de
rabos-de-saia como Jennifer
Beals, em que ritos de passagem
não são muito claros, uma vez que
a própria noção de masculinidade
vem de uma fonte enganadora
que não se sustenta por si só.
Se o "sexo está em todos os lugares", como apregoa Roger, Nick
será especial apenas enquanto
mantiver sua cegueira em relação
a um paraíso inacessível. Quando
tenta ser apenas mais um comprador, põe em jogo a sua individualidade. A partir daí, será mais
um a não se perguntar o que é o
homem, afinal.
Roger, o Conquistador
Direção: Dylan Kidd
Lançamento: Videofilmes (R$ 42, em média)
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