São Paulo, domingo, 04 de setembro de 2005

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"ROGER, O CONQUISTADOR"

Independente vê rito de passagem

BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL

Junte num mesmo balaio dicionários, ciência, psicologia, religião, biologia, filosofia, piadas e o que mais estiver à frente que nem assim o mais dedicado dos estudiosos terá à mão as ferramentas para definir com exatidão o que é um homem.
Conhecemos, antes de mais nada, as atitudes. Mais do que isso, vemos à exaustão os padrões de como ser, agir e pensar. "Roger, o Conquistador" trabalha com dois seres ao redor desses modelos: Roger (Campbell Scott), um quarentão cínico, e seu sobrinho Nick (Jesse Eisenberg), adolescente que se prepara para vestir a máscara de adulto.
Nessa comédia dramática com ares de "Sex and the City" para homens, o diretor Dylan Kidd -cujo recente "Segunda Chance" estreou na última sexta no Brasil- debutava em 2002 no Festival de Veneza, onde ganhou prêmios para iniciantes.
Não falta simpatia ao longa, já que ele parte de diálogos espertos e "tocantes", carta na manga dos filmes independentes norte-americanos. Roger, por exemplo, é um publicitário, expert na tática de guerrilha de "fazer os outros se sentirem miseráveis" quando percebem que falta algo às suas vidas. Com lábia afiada, vende seus produtos na mesma velocidade com que tenta convencer as mulheres a irem à sua cama.
Esse mesmo homem, que da boca para fora tem as respostas para tudo, irá levar um fora de sua amante e chefe (Isabella Rossellini) e tentará embutir o sensível Nick nos moldes de sedutor.
Consumidor voraz em potencial, Nick tem o claro sonho de consumo de conquistar mulheres e perder a virgindade, já que saiu de sua cidadezinha para Manhattan em busca de conselhos do tio.
Se a meta é clara, terá que passar por uma noite nebulosa atrás de rabos-de-saia como Jennifer Beals, em que ritos de passagem não são muito claros, uma vez que a própria noção de masculinidade vem de uma fonte enganadora que não se sustenta por si só.
Se o "sexo está em todos os lugares", como apregoa Roger, Nick será especial apenas enquanto mantiver sua cegueira em relação a um paraíso inacessível. Quando tenta ser apenas mais um comprador, põe em jogo a sua individualidade. A partir daí, será mais um a não se perguntar o que é o homem, afinal.


Roger, o Conquistador
   
Direção: Dylan Kidd
Lançamento: Videofilmes (R$ 42, em média)


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