São Paulo, segunda-feira, 04 de setembro de 2006

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GUILHERME WISNIK

Disposições espaciais


Exposição de jovens formados nos anos 80 e 90 é termômetro da arquitetura contemporânea da cidade

COMEÇOU , na semana passada, no Centro Universitário Maria Antonia, a exposição "Coletivo: Arquitetura Paulista Contemporânea" (em cartaz até 12 de novembro). Apesar de pequena, trata-se de uma importante mostra da produção contemporânea, reunindo uma seleção de trabalhos de seis relevantes grupos de arquitetos de São Paulo ligados por um fio geracional: formaram-se pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP entre 1986 e 96. São eles os seguintes escritórios: MMBB, SBPR, Projeto Paulista, Núcleo de Arquitetura, Andrade Morettin e Una Arquitetos.
São, portanto, jovens cuja obra já alcança notoriedade nacional. Prova disso é a grande quantidade de projetos vitoriosos em concursos públicos, como a Câmara Legislativa do Distrito Federal (1989), o Pavilhão do Brasil na Expo 92 em Sevilha (1990), a Agência Central e o Espaço Cultural dos Correios (SP, 1997), a Ampliação da Faculdade de Medicina da USP (SP, 1998), o Memorial da República em Piracicaba (2002) e o Edifício de Habitação Social na Sé (SP, 2004). Além disso, todos esses escritórios têm obras recentes de escolas públicas feitas com estrutura pré-moldada.
Além de ter uma montagem clara e atraente para qualquer visitante, a exposição é um bom termômetro do estado atual da arquitetura brasileira sediada em São Paulo. Percebe-se nela um rigor aliado a uma contensão formal que atesta a sobrevivência dos princípios modernos no país, em contraste com o raciocínio plástico e compositivo baseado na distorção volumétrica, predominante no contexto internacional. Mas o que, no fundo, percorre essa produção como questão latente é uma atitude comum perante a cidade: a preocupação em projetar o edifício segundo um horizonte urbano.
Significativamente, com a retomada dos concursos, os seminários acadêmicos e os planos públicos de reestruturação urbana a partir da modernização do sistema de trens urbanos, iniciou-se uma reflexão consistente nas escalas metropolitana e regional. Que modelos adotar diante de uma "cidade genérica" como São Paulo? Nem o revivalismo nostálgico da cidade histórica européia, com gabarito e tipologia uniformes, nem a monumentalidade escultórica de marcos urbanos.
Na escala da metrópole, a correção discreta e disciplinadora desses desenhos paulistas procura vincular-se às redes infra-estruturais da cidade (rios, eixos de transporte, sistemas de áreas públicas), revelando a potencialidade arquitetônica desses aparatos técnicos. Recusando o controle ilusório sobre a iniciativa privada (uniformização dos edifícios, quarteirões), esses projetos se postulam como arranjos programáticos, ou "disposições espaciais", em vez de "forma urbana".
Aqui, mais do que nunca, nota-se a herança formadora da "escola paulista" de Vilanova Artigas e, sobretudo, de Paulo Mendes da Rocha, para quem "o que desenha a imprevisibilidade da vida é uma construção, nítida e rigorosamente técnica, mas que não determina fim, modo e meio, programa. Ampara a indeterminação, a imponderabilidade da liberdade individual".


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