São Paulo, sábado, 04 de setembro de 2010

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67º FESTIVAL DE CINEMA DE VENEZA

Sofia Coppola volta a seduzir Veneza

Após enfrentar controvérsias com "Maria Antonieta", cineasta lança o longa "Somewhere" com boa aceitação

Novo trabalho satiriza show business com história de reencontro entre ator decadente com a filha de 11 anos


Vincenzo Pinto/France Presse
A diretora Sofia Coppola posa para foto com a atriz Elle Fanning, que estrela seu novo filme, "Somewhere", em Veneza

ANA PAULA SOUSA
ENVIADA ESPECIAL A VENEZA

Os aplausos à entrada da sala em que acontecem as entrevistas coletivas não deixavam dúvida. "Somewhere" (em algum lugar), de Sofia Coppola, tinha encantado. Camisa azul clara, sorriso sereno, a diretora olhou para os jornalistas que acompanham o festival com indisfarçável satisfação.
Foi também com bom humor que ela recebeu a primeira pergunta, provocação a uma cena do filme que ridiculariza uma entrevista coletiva. Um jornalista reproduziu, sem tirar nem pôr, uma das perguntas do roteiro. Mas foi absolutamente amistoso o encontro de Coppola com a imprensa.
Após enfrentar certa controvérsia no Festival de Cannes, com o filme "Maria Antonieta" (2006), a filha do diretor Francis Ford Coppola voltava a seduzir a todos com "Somewhere".
O estilo dela, delicado sem ser afetado, irônico sem ser mordaz, reaparece em perfeita harmonia nesse filme sobre o mundo do show business e sobre a vida que gira no vazio.

DECADÊNCIA "COOL"
O filme se passa no lendário hotel Chateau Marmont, localizado em Los Angeles. Nele, o ator Johnny Marco (Stephen Dorff) atravessa os dias entre mulheres, comprimidos, uns copos de uísque e uma Ferrari.
Marco encarna aquela decadência meio "cool" que, na mídia, costuma surgir travestida de glamour.
"É um personagem que vive apenas a superficialidade das coisas, mas, ao encontrar a filha, se aproxima de alguma coisa real", define a cineasta, autora também do roteiro. "É alguém num momento de transição."
O roteiro acompanha o reencontro desse homem com a filha de 11 anos (Elle Fanning). A intimidade entre os dois será construída com poucas palavras, poucos acontecimentos. O tema pai e filha, tão comum no cinema, é tratado com autenticidade por Coppola.

TELEGATTO
O longa apega-se apenas ao essencial, aos elementos visuais que, sozinhos, são capazes de narrar a história.
Coppola só deixa de ser sutil nos momentos em que escancara o mundo do estrelato. Crescida, ela própria, no show business, a cineasta ri com gosto ao mostrar o prêmio Telegatto, dado por uma TV italiana.
Também muito divertidos são os números eróticos que o ator contrata para, de braço quebrado, poder distrair-se no hotel. De maneira geral, porém, tudo no filme é sutil.
Sofia Coppola é daquelas artistas que acreditam que é possível ser crítico e delicado ao mesmo tempo. Ela não vê o mundo com olhos ingênuos, mas tampouco desacreditou de tudo.
É sobretudo nesse afeto que reside a beleza de seus filmes.


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