São Paulo, domingo, 04 de setembro de 2011

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ANÁLISE

'Nevermind' venceu a barreira entre a cena 'indie' e o 'mainstream'

Álbum de 91 tirou Michael Jackson das paradas e abriu passagem para que o rock alternativo chegasse à MTV

ANDRÉ BARCINSKI
CRÍTICO DA FOLHA

A influência de "Nevermind" não foi só musical mas comportamental também. Nunca, em quase meio século de rock, uma banda de som tão extremo e anticomercial chegara ao topo das paradas.
O punk tinha vencido Michael Jackson.
Se hoje pode soar estranho chamar a música do Nirvana de "punk", é preciso voltar 20 anos para tentar entender o fenômeno que foi "Nevermind".
Em 1991, era virtualmente impossível uma banda da cena alternativa fazer sucesso no "mundo real". Era clara a separação do "mainstream".
Fãs de bandas independentes ouviam rádios universitárias, compravam discos em lojas alternativas e liam fanzines. Os outros 99% da humanidade viam a MTV. "Nevermind" foi o disco que acabou com essa barreira.
Ali estava uma banda que juntava credibilidade "indie" a um som capaz de contagiar até o ouvinte mais careta. Uma mistura inédita de punk, heavy metal e melodias de FM. Um disco que conseguia ser para todos.
"Nevermind" saiu em 24 de setembro de 1991. A prensagem inicial foi de 50 mil cópias. Se chegasse a 100 mil, seria um marco. No ano seguinte, chegaria a vender 300 mil cópias. Por semana.
O resultado foi uma corrida das grandes gravadoras em busca do "novo Nirvana".
Centenas de bandas foram contratadas a peso de ouro. Selos independentes foram comprados por corporações. Em pouco tempo, a cena alternativa, que levara três décadas para se estabelecer nos Estados Unidos e na Inglaterra, estava esfacelada. "Nevermind" foi, paradoxalmente, o auge e o início da derrocada da cena independente.
Poucos anos depois, a maioria das bandas estava desempregada, e incontáveis gravadoras pequenas fecharam as portas.
Por um breve momento, em 1991/92, muitos acreditaram que o espírito alternativo havia triunfado. Foi um rio que passou em nossas vidas.


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