São Paulo, sexta, 4 de setembro de 1998

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ARTES PLÁSTICAS
Exposição discute deformidade das metrópoles
"Canibal" resiste ao massacre urbano

CAMILA VIEGAS
especial para a Folha

Enquanto a curadora Daniela Bousso concedia entrevista sobre a exposição "City Canibal", em cartaz no Paço das Artes, passava na televisão mais uma sessão de humilhação do "Programa do Ratinho". Ele apresentava um rapaz que sofre de uma doença que deforma seu rosto.
Os trabalhos de "City Canibal" referem-se exatamente à deformação, não do rosto do rapaz, mas do gosto que leva milhões de pessoas a assistir programas assim. "As obras são respostas à dispersão do homem urbano", diz Daniela, que também é diretora do Paço.
A mostra está dividida em cinco blocos temáticos. O primeiro refere-se a "Não-Lugares, Circuitos, Fluxos, Cartografias" e apresenta trabalhos de Ana Tavares, Rubens Mano, Marco Giannotti, Paulo Climachauska e do espanhol Pedro Mora.
"Os "não-lugares' existem em todos os grandes centros urbanos do mundo", explica a curadora. São escadarias de metrô, aeroportos e shopping centers em que a individualidade é massacrada pela quantidade de gente ou pelo "condensado de propostas de consumo".
Rubens Mano montou "Geometrias do Tempo" um trilho de condutores elétricos e caixas de passagem feitas de alumínio que se confunde com a estrutura de PVC do espaço. "O trabalho só é visível por causa de um foco de luz e é antropofágico, pois se apropria dos espaços de outras obras como as de Cristina Guerra, Lino Villaventura e Rochelle Costi", explica.
O segundo grupo trata do "Ícones do Desejo, da Memória/Apagamento, da Contaminação, do Visível/Invisível". Participam os artistas Ricardo Ribenboim, Iran do Espírito Santo, Lilian Amaral, Eli Sudbrack e Artur Lescher.
"Violência, Ruído, Digressão, Paradoxo, Nonsense e Ironia" faz parte do terceiro bloco, que é formado por peças de Lucas Bambozzi, José Fujocka Neto e Luciana Molisani, José Damasceno, do sul-africano Kendell Geers e da nova-iorquina Maureen Connor.
O quarto grupo foi batizado de "Identidade, Padronização, Comportamento e Artifício" e é composto por trabalhos dos brasileiros Cristina Guerra, Vik Muniz, Carina Weidle, Marta Strambi, Lino Villaventura e do polonês Maciej Toporowicz.
A escultura "Mutilação", realizada neste ano por Carina Weidle, mostra duas figuras que se cumprimentam sem as mãos. Além disso, uma delas não tem braço, a outra não tem perna. "O trabalho revela a condição virulenta de relacionamentos contaminados", conta Daniela. "A ironia e o nonsense são a tônica de sua produção."
No último bloco formado por obras ligadas à "Apropriação, Ocupação, Fusão e Movimento" traz trabalhos de Gilbertto Prado, Edith Derdyk, Rochelle Costi, Analívia Cordeiro e Cássio Vasconcelos.

Exposição: City Canibal
Quando: de seg. a sex., das 13h às 20h, sáb., das 10h às 14h. Até 31 de outubro
Onde: Paço das Artes (av. da Universidade, 1, Cidade Universitária, tel. 011/211-0682)
Quanto: entrada franca




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