São Paulo, quinta-feira, 04 de outubro de 2001

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MÚSICA

"A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana" é o primeiro CD só de músicas inéditas em seis anos

Titãs vêm enfrentar o presente e o futuro

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Os anos 2000 estão definitivamente inaugurados nas casas dos Titãs. Depois de seis anos vividos mais às voltas com acústicos, releituras e covers, o grupo roqueiro paulistano entrega ao público seu primeiro disco inteiramente inédito desde "Domingo" (95).
"A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana" foi gravado sob o impacto da morte prematura do guitarrista Marcelo Fromer, em junho passado. Esse se tornou um (traumático) dado a mais de um momento de recomeço para os Titãs.
Esgotada a fase revisionista, é hora de mostrar canções e idéias novas. Concluído o ciclo de uma carreira inteira -de 84 até o ano passado- na gravadora Warner, é hora de estrear em casa nova, a Abril Music. Em outro lance inédito, a Abril remete 250 mil cópias do CD às bancas de jornal, pelo preço fixo de R$ 19,90, copiando um modelo que vinha sendo até aqui alternativa bem-sucedida de sobrevivência artística para nomes independentes.
Os Titãs seguem defendendo os "anos comerciais" do "Acústico MTV" (97) e de seus derivados e não admitem no reinício um pique ressabiado ou defensivo, como poderia sugerir a ironia-título de "melhor banda de todos os tempos/da última semana".
"Há a sensação de retomada, mas não dá para deixar de dizer que os últimos anos nos acrescentaram muito", afirma Sérgio Britto (vocais e teclados). "Não parece para nós que tenha acontecido esse intervalo que alguns apontam", diz Nando Reis (vocais e baixo).
"Muitos artistas fizeram projetos revisionistas ultimamente, mas o sucesso do nosso "Acústico" foi estrondoso. O "Volume 2" (98) foi decorrência disso, é claro, mas aquilo tudo estava nos dando uma grande satisfação", intercepta Tony Bellotto (guitarra).
Fala Branco Mello (vocais): "Esses seis anos difíceis em termos de inventividade -embora essa idéia nunca tenha saído de nossas bocas- foram uma experiência, uma vivência. Acho natural, embora não esteja pregando a acomodação. O nome do disco não é uma defesa, não é tão no alvo assim. É jocoso, uma brincadeira, não no sentido babaca".
Marcelo Fromer foi atropelado no dia em que os Titãs entrariam em estúdio para gravar o disco, segundo eles com repertório e arranjos já totalmente determinados. Eles falam sobre o baque.
"O fato de ele ter morrido no momento de começar diminuiu um pouco as nossas expectativas, tudo ficou menor diante daquele episódio", diz Bellotto. "Temos a alma ocupada de outro assunto", reforça Paulo Miklos (vocais).
"Vimos um monte de tragédias recentemente e sabemos que é legítimo de parte do público querer se apropriar e se aproximar da gente nisso. Mas a dimensão da tragédia é muito mais de âmbito pessoal", desenvolve Reis.
Resume Charles Gavin (bateria): "Sem querer dramatizar, acho que estamos tratando esse episódio com naturalidade. O fato de termos entrado em estúdio uma semana depois e conseguido fazer o disco é importante. Parar seria muito pior para a gente, ficaríamos deprimidos, isolados".
"Tínhamos ensaiado dois meses, estava tudo pronto e arranjado. A nossa tarefa então era gravar, só", diz Miklos. O músico Emerson Villani, que já acompanhou os Titãs em shows, fez as guitarras que seriam de Fromer.
Sendo como eles dizem, letras que parecem ter relação direta com a morte do guitarrista, como "Epitáfio", "É Bom Desconfiar" e "Não Fuja da Dor", foram compostas anteriormente.
"Conforme fomos nos dando conta, ficamos pasmos", reconhece Miklos. ""Um Morto de Férias" foi uma idéia do próprio Marcelo, tirá-la seria contra a natureza da gente", diz Mello. "Seria higienizar nosso trabalho. O disco ter tanta música sobre a morte é enigmático, mas foi assim", segue Britto. "Até há uma explicação lógica para isso. Marcelo estava passando por uma crise pessoal, individual. Estava chegando aos 40 anos, eram naturais essas questões", atalha Bellotto.
Enfim, falam sobre o momento em que vários Titãs compõem individualmente para o disco da banda (há faixas só de Nando Reis, de Sérgio Britto, de Paulo Miklos e de Tony Bellotto) e em que se fortalecem determinadas subparcerias dentro do grupo.
"Não se faz música com seis, sete caras", diz Britto, embora eles próprios lembrem que fizeram isso no passado. "Mas às vezes o mais representativo dos Titãs é o que mais fraciona. E discos feitos assim não resultam divididos", opina Reis. "A dinâmica nos anos 80 era diferente, compúnhamos mais juntos, naturalmente", diz Gavin. "E ainda assim metade das músicas deste disco foi feita nos encontros. A liga entre a gente é o mais interessante dos Titãs", termina Miklos.


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