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MÚSICA
"A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana" é o primeiro CD só de músicas inéditas em seis anos
Titãs vêm enfrentar o presente e o futuro
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
Os anos 2000 estão definitivamente inaugurados nas casas dos
Titãs. Depois de seis anos vividos
mais às voltas com acústicos, releituras e covers, o grupo roqueiro
paulistano entrega ao público seu
primeiro disco inteiramente inédito desde "Domingo" (95).
"A Melhor Banda de Todos os
Tempos da Última Semana" foi
gravado sob o impacto da morte
prematura do guitarrista Marcelo
Fromer, em junho passado. Esse
se tornou um (traumático) dado a
mais de um momento de recomeço para os Titãs.
Esgotada a fase revisionista, é
hora de mostrar canções e idéias
novas. Concluído o ciclo de uma
carreira inteira -de 84 até o ano
passado- na gravadora Warner,
é hora de estrear em casa nova, a
Abril Music. Em outro lance inédito, a Abril remete 250 mil cópias
do CD às bancas de jornal, pelo
preço fixo de R$ 19,90, copiando
um modelo que vinha sendo até
aqui alternativa bem-sucedida de
sobrevivência artística para nomes independentes.
Os Titãs seguem defendendo os
"anos comerciais" do "Acústico
MTV" (97) e de seus derivados e
não admitem no reinício um pique ressabiado ou defensivo, como poderia sugerir a ironia-título
de "melhor banda de todos os
tempos/da última semana".
"Há a sensação de retomada,
mas não dá para deixar de dizer
que os últimos anos nos acrescentaram muito", afirma Sérgio Britto (vocais e teclados). "Não parece
para nós que tenha acontecido esse intervalo que alguns apontam",
diz Nando Reis (vocais e baixo).
"Muitos artistas fizeram projetos revisionistas ultimamente,
mas o sucesso do nosso "Acústico"
foi estrondoso. O "Volume 2" (98)
foi decorrência disso, é claro, mas
aquilo tudo estava nos dando
uma grande satisfação", intercepta Tony Bellotto (guitarra).
Fala Branco Mello (vocais): "Esses seis anos difíceis em termos de
inventividade -embora essa
idéia nunca tenha saído de nossas
bocas- foram uma experiência,
uma vivência. Acho natural, embora não esteja pregando a acomodação. O nome do disco não é
uma defesa, não é tão no alvo assim. É jocoso, uma brincadeira,
não no sentido babaca".
Marcelo Fromer foi atropelado
no dia em que os Titãs entrariam
em estúdio para gravar o disco,
segundo eles com repertório e arranjos já totalmente determinados. Eles falam sobre o baque.
"O fato de ele ter morrido no
momento de começar diminuiu
um pouco as nossas expectativas,
tudo ficou menor diante daquele
episódio", diz Bellotto. "Temos a
alma ocupada de outro assunto",
reforça Paulo Miklos (vocais).
"Vimos um monte de tragédias
recentemente e sabemos que é legítimo de parte do público querer
se apropriar e se aproximar da
gente nisso. Mas a dimensão da
tragédia é muito mais de âmbito
pessoal", desenvolve Reis.
Resume Charles Gavin (bateria): "Sem querer dramatizar,
acho que estamos tratando esse
episódio com naturalidade. O fato
de termos entrado em estúdio
uma semana depois e conseguido
fazer o disco é importante. Parar
seria muito pior para a gente, ficaríamos deprimidos, isolados".
"Tínhamos ensaiado dois meses, estava tudo pronto e arranjado. A nossa tarefa então era gravar, só", diz Miklos. O músico
Emerson Villani, que já acompanhou os Titãs em shows, fez as
guitarras que seriam de Fromer.
Sendo como eles dizem, letras
que parecem ter relação direta
com a morte do guitarrista, como
"Epitáfio", "É Bom Desconfiar" e
"Não Fuja da Dor", foram compostas anteriormente.
"Conforme fomos nos dando
conta, ficamos pasmos", reconhece Miklos. ""Um Morto de Férias"
foi uma idéia do próprio Marcelo,
tirá-la seria contra a natureza da
gente", diz Mello. "Seria higienizar nosso trabalho. O disco ter
tanta música sobre a morte é enigmático, mas foi assim", segue
Britto. "Até há uma explicação lógica para isso. Marcelo estava passando por uma crise pessoal, individual. Estava chegando aos 40
anos, eram naturais essas questões", atalha Bellotto.
Enfim, falam sobre o momento
em que vários Titãs compõem individualmente para o disco da
banda (há faixas só de Nando
Reis, de Sérgio Britto, de Paulo
Miklos e de Tony Bellotto) e em
que se fortalecem determinadas
subparcerias dentro do grupo.
"Não se faz música com seis, sete caras", diz Britto, embora eles
próprios lembrem que fizeram isso no passado. "Mas às vezes o
mais representativo dos Titãs é o
que mais fraciona. E discos feitos
assim não resultam divididos",
opina Reis. "A dinâmica nos anos
80 era diferente, compúnhamos
mais juntos, naturalmente", diz
Gavin. "E ainda assim metade das
músicas deste disco foi feita nos
encontros. A liga entre a gente é o
mais interessante dos Titãs", termina Miklos.
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