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EXPOSIÇÃO
Mostra homenageia os 400 anos de nascimento de Maurício de Nassau e os 350 anos da reconquista de Pernambuco
Museu recolhe vestígios do Brasil holandês
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Um seminário internacional começa hoje no Museu Histórico
Nacional (MHN), no Rio de Janeiro, comemorando duas efemérides aparentemente contraditórias: os 400 anos do nascimento
do conde João Maurício de Nassau-Siegen, governador do Brasil
holandês de 1637 a 1644, e os 350
anos da reconquista de Pernambuco aos holandeses, em 1654. O
seminário também marca a abertura da exposição "A Presença
Holandesa no Brasil: Memória e
Imaginário", aberta ao público de
amanhã a 5 de março de 2005.
A contradição se explica pelo
que representou a presença de
Nassau na colônia. Segundo o historiador Evaldo Cabral de Mello,
os sete anos de seu governo
"constituíram um interlúdio de
relativa paz entre dois períodos de
guerra e se tornariam destarte
uma espécie de idade de ouro do
Brasil holandês". Mello, autor de
livros clássicos sobre o período
holandês, como "Rubro Veio: O
Imaginário da Restauração Pernambucana" e "Olinda Restaurada", deverá fazer a conferência da
sessão de encerramento do seminário, na sede do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
(IHGB), parceiro do MHN no seminário.
Os temas do seminário abarcam
a variada experiência da presença
holandesa no país. Apesar de curta -uma breve ocupação de Salvador em 1624/1625 e de Pernambuco e outros pontos do Nordeste
de 1630 a 1654-, a dominação
holandesa produziu uma série
marcante de fatos e realizações
inéditas.
Por exemplo, as primeiras moedas cunhadas no país foram holandesas, de forma obsidional.
Foram feitas para pagar as tropas
durante o cerco de Recife pelos luso-brasileiros. Moedas da coleção
de numismática do museu farão
parte da exposição, que inclui
quadros, mapas, objetos do cotidiano e armas. Na coleção de canhões no pátio interno do museu,
há um exemplar holandês, com o
brasão da Companhia das Índias
Ocidentais.
Entre as novidades que os holandeses trouxeram está desde
um incremento da arte e da ciência a uma maior tolerância religiosa. A primeira sinagoga das
Américas foi fundada em Recife, e
os primeiros estudos detalhados
da fauna e flora brasileira foram
obras de naturalistas trazidos pelos batavos. São bem conhecidos
as grandes pinturas de índios e
negros feitas por Albert Eckhout,
hoje na Dinamarca. A exposição
vai incluir pequenas cópias dessas
pinturas, encomendadas por d.
Pedro 2º durante sua passagem
pela Dinamarca.
A atuação dos naturalistas vai
ser tópico de conferência do zoólogo Dante Martins Teixeira, do
Museu Nacional/UFRJ.
Já o papel da religião vai ser
abordado por dois historiadores.
Jorge Couto, da Universidade de
Lisboa, falará sobre "Catolicismo
"versus" Calvinismo", e Ronaldo
Vainfas, da Universidade Federal
Fluminense, tratará da "Questão
dos Judeus Novos".
O seminário começa com a conferência "Organização Política e
Liturgias de Poder no Brasil Holandês", de Arno Wehling , presidente do IHGB. O diplomata Alberto da Costa e Silva, um dos
principais historiadores brasileiros especialista na África, fará a
conferência "O Velho e o Novo
Mundo".
Uma área particularmente importante que tem sido tema de vários trabalhos recentes e a questão
do urbanismo colonial -"O Traçado Urbano" é o tema da palestra do arquiteto José Luiz Mota
Menezes, da Universidade Federal de Pernambuco e autor de livros sobre a arquitetura e urbanismo de Recife e Olinda.
Urbanismo pressupõe mapas.
Dois outros palestrantes nessa
área são o historiador e almirante
reformado Max Justo Guedes ("O
Papel da Cartografia") e a professora da Faculdade de Arquitetura
e Urbanismo da USP Beatriz Piccolotto Siqueira Bueno ("A Guerra de Papel: Confecção e Disputa
pelos Mapas").
Entre os pesquisadores estrangeiros presentes estarão Rolf Nagel, professor da Universidade
Gerhard-Mercator, de Duisburg,
Alemanha; Ernst van den Boogaart, autor de trabalhos sobre a
expansão holandesa no Atlântico;
e Gerhard Brunn, da Universidade de Siegen, que falará especificamente sobre a vida e obra de
Nassau.
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