São Paulo, segunda-feira, 04 de outubro de 2004

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EXPOSIÇÃO

Mostra homenageia os 400 anos de nascimento de Maurício de Nassau e os 350 anos da reconquista de Pernambuco

Museu recolhe vestígios do Brasil holandês

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um seminário internacional começa hoje no Museu Histórico Nacional (MHN), no Rio de Janeiro, comemorando duas efemérides aparentemente contraditórias: os 400 anos do nascimento do conde João Maurício de Nassau-Siegen, governador do Brasil holandês de 1637 a 1644, e os 350 anos da reconquista de Pernambuco aos holandeses, em 1654. O seminário também marca a abertura da exposição "A Presença Holandesa no Brasil: Memória e Imaginário", aberta ao público de amanhã a 5 de março de 2005.
A contradição se explica pelo que representou a presença de Nassau na colônia. Segundo o historiador Evaldo Cabral de Mello, os sete anos de seu governo "constituíram um interlúdio de relativa paz entre dois períodos de guerra e se tornariam destarte uma espécie de idade de ouro do Brasil holandês". Mello, autor de livros clássicos sobre o período holandês, como "Rubro Veio: O Imaginário da Restauração Pernambucana" e "Olinda Restaurada", deverá fazer a conferência da sessão de encerramento do seminário, na sede do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), parceiro do MHN no seminário.
Os temas do seminário abarcam a variada experiência da presença holandesa no país. Apesar de curta -uma breve ocupação de Salvador em 1624/1625 e de Pernambuco e outros pontos do Nordeste de 1630 a 1654-, a dominação holandesa produziu uma série marcante de fatos e realizações inéditas.
Por exemplo, as primeiras moedas cunhadas no país foram holandesas, de forma obsidional. Foram feitas para pagar as tropas durante o cerco de Recife pelos luso-brasileiros. Moedas da coleção de numismática do museu farão parte da exposição, que inclui quadros, mapas, objetos do cotidiano e armas. Na coleção de canhões no pátio interno do museu, há um exemplar holandês, com o brasão da Companhia das Índias Ocidentais.
Entre as novidades que os holandeses trouxeram está desde um incremento da arte e da ciência a uma maior tolerância religiosa. A primeira sinagoga das Américas foi fundada em Recife, e os primeiros estudos detalhados da fauna e flora brasileira foram obras de naturalistas trazidos pelos batavos. São bem conhecidos as grandes pinturas de índios e negros feitas por Albert Eckhout, hoje na Dinamarca. A exposição vai incluir pequenas cópias dessas pinturas, encomendadas por d. Pedro 2º durante sua passagem pela Dinamarca.
A atuação dos naturalistas vai ser tópico de conferência do zoólogo Dante Martins Teixeira, do Museu Nacional/UFRJ.
Já o papel da religião vai ser abordado por dois historiadores. Jorge Couto, da Universidade de Lisboa, falará sobre "Catolicismo "versus" Calvinismo", e Ronaldo Vainfas, da Universidade Federal Fluminense, tratará da "Questão dos Judeus Novos".
O seminário começa com a conferência "Organização Política e Liturgias de Poder no Brasil Holandês", de Arno Wehling , presidente do IHGB. O diplomata Alberto da Costa e Silva, um dos principais historiadores brasileiros especialista na África, fará a conferência "O Velho e o Novo Mundo".
Uma área particularmente importante que tem sido tema de vários trabalhos recentes e a questão do urbanismo colonial -"O Traçado Urbano" é o tema da palestra do arquiteto José Luiz Mota Menezes, da Universidade Federal de Pernambuco e autor de livros sobre a arquitetura e urbanismo de Recife e Olinda.
Urbanismo pressupõe mapas. Dois outros palestrantes nessa área são o historiador e almirante reformado Max Justo Guedes ("O Papel da Cartografia") e a professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP Beatriz Piccolotto Siqueira Bueno ("A Guerra de Papel: Confecção e Disputa pelos Mapas").
Entre os pesquisadores estrangeiros presentes estarão Rolf Nagel, professor da Universidade Gerhard-Mercator, de Duisburg, Alemanha; Ernst van den Boogaart, autor de trabalhos sobre a expansão holandesa no Atlântico; e Gerhard Brunn, da Universidade de Siegen, que falará especificamente sobre a vida e obra de Nassau.


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