São Paulo, terça-feira, 04 de outubro de 2011

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Cinema no plural

Jovens cineastas usam modelo coletivo, com controle total da verba, para produzir filmes ousados que chegam agora ao circuito

NATÁLIA PAIVA
ENVIADA ESPECIAL A FORTALEZA
E A BELO HORIZONTE


"É o momento de 'tomada'. Simplesmente conseguir fazer um filme já não é mais lá grandes coisas", diz Guto Parente, 28, sentado no chão de uma casa no centro de Fortaleza, ponto de encontro dos cineastas do Alumbramento.
Guto faz um jogo de palavras que cita a retomada do cinema brasileiro nos anos 90 -sob modelo de grandes verbas e equipes- e a atitude da atual produção independente, impulsionada por grupos de jovens cinéfilos.
Seja em filmes de R$ 2.000 ou de R$ 2 milhões, ele é marcado pelo controle total da verba, pela criação coletiva e por um desprendimento, total ou parcial, da estética do cinema clássico e da TV.
O resultado são filmes ousados (veja acima), que têm obtido boas críticas, prêmios e espaço em grandes festivais. A maior parte dos grupos nasceu nas universidades, cinco ou dez anos atrás. Mas só agora essa geração vê seus primeiros longas nas telas dos cinemas. Um dos grupos mais antigos é o Teia. Em janeiro completa dez anos o aluguel de uma casa em Belo Horizonte, sede do grupo e abrigo de seus mais de 40 filmes.
"Há coletividade na gestão do espaço e muita troca, porque todo mundo está sempre presente", diz Clarissa Campolina, 32. Ela e Helvécio Marins, também do Teia, representaram o Brasil em Veneza neste ano, com "Girimunho". O modelo coletivo acaba impulsionando a produção e abrindo horizontes criativos, diz Caetano Gotardo, 30, do paulista Filmes do Caixote.
Seu segundo curta só saiu quando o colega Marco Dutra, 31, resolveu produzir. E o caráter musical de "O Que Se Move", seu longa recém-rodado, só surgiu como solução dramatúrgica após trocas com Dutra e Juliana Rojas, diretores de "Trabalhar Cansa".

ECONOMIA DO FILME
Após "A Fuga da Mulher Gorila" (que custou R$ 10 mil, venceu Tiradentes em 2009 e chega agora aos cinemas), Felipe Bragança e Marina Meliande, da Duas Mariola, foram assediados por grandes produtoras para fazer "A Alegria", também em cartaz. A ideia era transformar o filme, de US$ 800 mil (cerca de R$ 1,5 milhão, via edital da Petrobras), numa produção de R$ 3 milhões, após dois ou três anos de captação.
Recusaram. "O que importava era a gente poder rodar pelo tempo que quisesse e com o elenco que escolhesse, tendo uma parceria com a produção que não fosse de hierarquia", diz Bragança, 31.
A falta de hierarquia nos grupos se deve, em primeiro lugar, ao rodízio na equipe (o montador de um filme dirige outro, por exemplo). Deve-se também a uma "autoria compartilhada": dois ou quatro dirigem um mesmo filme, criam-se "parcerias criativas" e há uma hipervalorização do papel do fotógrafo e do montador.
"É um exercício de se despir de vaidades", diz Guto Parente. Ele, Pedro Diógenes e Luiz e Ricardo Pretti escreveram, dirigiram, estrelaram e montaram "Os Monstros".
Após vencer Tiradentes em 2010 com "Estrada para Ythaca", ignoraram o "caminho lógico" de tentar edital. Usaram os R$ 6.000 que tinham no banco para fazer o filme.


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