São Paulo, terça-feira, 04 de outubro de 2011

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ANÁLISE

Esforço para exibir os longas atesta passo rumo à maturidade


A FASE EM QUE SE ENCONTRA HOJE CONSISTE EM ARTICULAR AS CONDIÇÕES QUE PERMITAM A ESSE CINEMA SE FORTALECER


CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Quem só assiste a filmes em shopping ou na TV ainda não sabe nem vai querer saber da existência desses "monstros" atrás da porta. Mas é bom esclarecer que a emergência de um novo (ou novíssimo) cinema independente brasileiro movido pela força de coletivos não é resultado de geração espontânea.
Ativíssima pelo menos desde o início da década passada, a "nova" cinefilia proliferou na internet, em sites e blogs que fomentaram uma efervescência crítica que não se encontrava mais nos meios impressos.
A etapa seguinte consistiu em promover a circulação das ideias, o que foi conseguido por meio da ocupação de zonas de influência em festivais e mostras, enriquecidos com discussões que aproximam pesquisadores, realizadores e público em torno de uma mesma curiosidade.
A fase em que se encontra hoje consiste em articular as condições de produção, distribuição e exibição que permitam a esse cinema se fortalecer de modo autônomo.
Os longas que agora despertam a curiosidade ao chegar a salas de grandes capitais são manifestações de um processo organizado que dura bem mais que 365 dias.
Seus autores integram uma geração que reinterpreta a cinefilia como pensamento na prática. Predominantemente jovem, ela reúne talentos mobilizados por uma vontade comum de assistir, questionar e realizar um cinema do presente, em vez de reproduzir fórmulas bem-sucedidas em outros lugares e tempos.
O lado positivo dessa característica aparece no aspecto reflexivo das obras. Nelas, narrar acompanha-se de indagações sobre o que o cinema ainda pode.
Além de um notável conhecimento das qualidades e dos limites do cinema já feito até hoje no Brasil. O negativo consiste em forçar a aceitação internacional e a nacional por mimetismo. Ou seja, na tentação de replicar procedimentos em alta na bolsa dos festivais, o que resulta no máximo em filmes karaokê de valor duvidoso.
Um aspecto superior a essas forças e fragilidades reside no modo de produção coletivo, por meio do qual se verificam a agregação e a contaminação de talentos. E que força os filmes a se libertarem do narcisismo que os amarra às intenções ou ao desejo de expressão de um autor.
Além da vantagem da ação colaborativa, também se verifica a aproximação e o intercâmbio entre grupos, o que permite o compartilhamento de sensibilidades e propostas e oferece um antídoto aos riscos de asfixia criativa ou de esgotamento. O que esse cinema plural tenta promover agora é um encontro com seu público.
Em vez de se vangloriar de um status marginal, o esforço necessário consiste em se mostrar para plateias heterogêneas, fora da estufa dos festivais. É mais uma etapa rumo à maturidade.


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