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"Matrix Revolutions" estréia mundialmente amanhã e põe fim à cinessérie dos irmãos Wachowski
FILOSOFIA do FRACASSO
Divulgação
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Cena de "Matrix Revolutions", de Andy e Larry Wachowski, terceiro e último episódio da cinessérie "Matrix" |
SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL
Há duas analogias possíveis
para a cinessérie "Matrix",
cujo terceiro e último episódio,
"Matrix Revolutions", estréia
amanhã no mundo todo, Brasil
incluído. A primeira é política. Os
dois criadores dos filmes, os irmãos americanos Wachowski,
são o Bill Clinton de Hollywood.
Em seu primeiro mandato, o jovem democrata mudou a história
do país. Nunca os EUA haviam
crescido tanto em tão pouco tempo, as liberdades individuais viveram seu auge, a preocupação social do governo era uma realidade. Mas aí veio o segundo mandato; com ele, Monica Lewinski,
charutos, mentiras, os perdões
polêmicos, o sumiço de móveis na
Casa Branca... É por isso que ele é
lembrado.
A outra é estética. Quando começou, o rapper Puff Daddy era
original e talentoso. Por isso mesmo, ficou rico -e agora só fala
em suas músicas de grifes, modelos e carrões. O símbolo da mudança é sua nova casa, um tributo
ao exagero, com estátuas de animais em tamanho natural e fonte
luminosa no meio da sala.
Andy e Larry Wachowski eram
dois jovens humildes de Chicago,
Illinois. Desenharam todo o primeiro "Matrix" (1999) em storyboards antes de conseguir os dólares para filmá-lo. Conseguiram
e mudaram o cinema de ficção
científica, tanto na técnica de filmar quanto na forma de contar
uma história. Nos que se seguiram, já tinham todo o orçamento
e os recursos à disposição.
Moral da história: eles deveriam
ter parado no primeiro.
Resolveram fazer os dois capítulos seguintes. Perderam-se. O
anterior, "Matrix Reloaded", que
estreou em maio, era um tributo à
Doutrina Bush, como se o roteiro
tivesse sido escrito por Paul Wolfowitz, o secretário adjunto de
Defesa dos EUA.
O que no primeiro encantava
pela discussão entre o real e o virtual, com pitadas que iam de Jean
Baudrillard à filosofia oriental,
passando pela Bíblia e pelos clássicos gregos, no segundo era pau
puro, militarista e com ecos do
pior de "Guerra nas Estrelas".
O atual, que chega às telas de todo o mundo hoje, nem isso consegue ser. É um emaranhado de cenas sem conexão que mal esconde
o objetivo de sua existência: dar
um ponto final a todos os plots e
subplots que foram criados até
agora. Como o último capítulo de
uma novela das oito.
Recapitulando, Neo (Keanu
Reeves) é um hacker transformado num messias relutante quando
descobre que a Terra virou uma
simulação de computador, feita
por máquinas que dominaram o
mundo e precisam da energia gerada por seres humanos, que são
mantidos em incubadoras. Os
que conseguem fugir da realidade
virtual vão para Zion, onde fica a
resistência.
"Revolutions" começa com Neo
num purgatório, retratado como
uma estação de trem limpíssima,
do qual deve ser solto pelo Trainman (Bruce Spence), o que acontece com a intervenção de Trinity
(Carrie-Anne Moss), Morpheus
(Laurence Fishburne) e Seraph
(Collin Chou).
Livre, ele se dirige à Cidade das
Máquinas, onde vai pedir ajuda (a
"deus"?) para derrotar o vírus
agente Smith (Hugo Weaving,
sempre excelente), que coloca em
risco a própria existência de Matrix. Enquanto isso, Zion se prepara para a invasão das máquinas, que finalmente ocorre.
Um blablablá sem fim.
Salvam-se, é óbvio, alguns efeitos especiais, como a luta final entre Neo e Smith, que dura uns
bons dez minutos. De novo, "Matrix" é vítima de seu próprio sucesso: já não se sabe mais se tal
efeito foi visto no original (foi) ou
num comercial de uma loja de
roupas (também foi).
Não que alguém, além dos críticos, esteja reclamando. Com os
filmes, DVDs, games, licenciamento etc. (e bote etc. aí), a série já
rendeu US$ 2 bi. Os dois criadores
poderiam se aposentar, assim como seus filhos e netos. Pois que
agora eles só saiam de seu descanso se tiverem algo tão original
quanto o primeiro "Matrix".
Eles devem isso ao cinema.
Matrix Revolutions
Produção: EUA, 2003
Direção: Andy e Larry Wachowski
Com: Keanu Reeves, Carrie-Anne Moss
Quando: a partir de amanhã, nos cines
Bristol, Ibirapuera e circuito
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