LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL

O cenário é um canavial, os personagens têm traços latinos e a trama pode ser descrita como uma saga familiar salpicada de conflito de gerações, disputa de poder e intrigas domésticas. Não, não se trata da nova novela rural de Benedito Ruy Barbosa. Estamos falando de "Cane", série com um pezinho em "O Rei do Gado" que a Warner Channel estréia amanhã.
A história começa com Pancho -patriarca dos cubanos-americanos Duque, que ergueu um império à base de cana e rum- posto diante de uma encruzilhada: vender o engenho para o clã arqui-rival por uma bolada ou deixar as terras para seus herdeiros? (Sim, soa como uma reedição de Mezenga x Berdinazzi, o embate de "Rei".)
O programa ressuscita o formato de veteranos da TV dos EUA, como "Dallas" (78-91) e "Dinastia" (81-89), o que parece não incomodar o intérprete de Pancho, Hector Elizondo. "É possível comparar em termos de gênero, mas o diferencial aqui é a ambigüidade. Na série, evitamos estereótipos e optamos por personagens com "zonas cinzentas", aquelas que permitem a eles crescer. Se você se tornar um espectador fiel, é como assistir a um romance de [Leon] Tolstói [1828-1910]: aquilo não pára de se expandir", exagerou ele, durante entrevista coletiva por telefone da qual a Folha participou.
Pois a crítica especializada norte-americana não viu todas essas nuances em "Cane". "Heróis e vilões são bem distintos e pouco inclinados a mudar de lado. A série poderia usar menos açúcar e mais pimenta", sapecou o "New York Times". O público parece concordar: em um mês, o programa perdeu um terço da audiência da estréia. Sinal de que o cancelamento pode chegar antes da próxima safra de cana...