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Comentário/TV
"Daily Show" escracha política americana
LUCIANA COELHO
EDITORA-ADJUNTA DE MUNDO
Tão logo sentou-se na cadeira de entrevistada, Lynne Cheney (a mulher do vice-presidente americano) sacou um boneco do vilão Darth Vader e o
pôs, sorridente, na mesa do
apresentador. Era uma alusão
ao apelido e à fama de nefasto
de Dick Cheney, diariamente
lembrada pelo sujeito à sua
frente. Em seguida, fala da homossexualidade da filha, tabu
total. Quem consegue tal comportamento inédito é o comediante Jon Stewart, cujo "Daily
Show" a Sony começa a exibir
semanalmente nesta terça.
Prestes a completar 45 anos,
oito deles à frente do programa,
Stewart acumula prêmios
Emmys, convites das grandes
redes abertas americanas (que
recusa, dizendo que no pequeno canal a cabo Comedy Central tem mais liberdade), um
best-seller ("America", 2004) e
a apresentação do Oscar.
Mas nenhum de seus feitos é
tão impressionante quanto o
fato de pesquisas em 2004, ano
da segunda eleição de George
W. Bush, terem mostrado que
seu programa se tornara a principal fonte de informação política para americanos com menos de 30 anos. Afinal, trata-se
de um programa de humor.
Feridas americanas
Poucos, no entanto, foram
tão hábeis em unir política, informação e risadas. Aqui, mesmo sendo tão vasta nossa seara
de humor político, não há correlatos. O que Stewart faz é engraçado e também sério. Suas
entrevistas são tão despudoradas em cutucar feridas da pudica sociedade americana que
acabam produzindo resultados
como o que inicia este texto.
Para o público médio americano, acostumado a poucos matizes, ele é necessário.
Seu programa cobriu as eleições de 2004 melhor do que
qualquer outro, sob a irônica
vinheta de "Indecisão 2004".
Para a Guerra do Iraque, seus
afiados roteiristas saíram com
"Mess-on-Potamia", um trocadilho com o nome da região e a
palavra "mess", bagunça.
Como escada para Stewart,
há um time de humoristas de
primeira linha que atuam como
"correspondentes". Já partiram para carreiras solo Steve
Carrell, que hoje protagoniza a
versão americana de "The Office", e Stephen Colbert, que encarnou um conservador espumoso de raiva em seu "Colbert
Report", exibido nos EUA logo
após o "Daily Show".
Difícil é saber se um programa como esse vai "vingar" aqui.
Afinal, são piadas sobre política
americana e internacional,
nem sempre fáceis de entender
sem o contexto. A Sony optou
por exibir a edição internacional do programa, que é semanal
e não diária -ela seria mais "digerível" para quem não lê o
"New York Times".
Mas é também a versão que
corta as engraçadíssimas pseudo-reportagens que desnudam
a estupidez de alguns americanos sem nenhuma necessidade
de contextualização política,
muito antes de Borat existir.
DAILY SHOW
Onde: Sony (ter., 22h30)
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