São Paulo, domingo, 04 de novembro de 2007

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Comentário/TV

"Daily Show" escracha política americana

LUCIANA COELHO
EDITORA-ADJUNTA DE MUNDO

Tão logo sentou-se na cadeira de entrevistada, Lynne Cheney (a mulher do vice-presidente americano) sacou um boneco do vilão Darth Vader e o pôs, sorridente, na mesa do apresentador. Era uma alusão ao apelido e à fama de nefasto de Dick Cheney, diariamente lembrada pelo sujeito à sua frente. Em seguida, fala da homossexualidade da filha, tabu total. Quem consegue tal comportamento inédito é o comediante Jon Stewart, cujo "Daily Show" a Sony começa a exibir semanalmente nesta terça.
Prestes a completar 45 anos, oito deles à frente do programa, Stewart acumula prêmios Emmys, convites das grandes redes abertas americanas (que recusa, dizendo que no pequeno canal a cabo Comedy Central tem mais liberdade), um best-seller ("America", 2004) e a apresentação do Oscar.
Mas nenhum de seus feitos é tão impressionante quanto o fato de pesquisas em 2004, ano da segunda eleição de George W. Bush, terem mostrado que seu programa se tornara a principal fonte de informação política para americanos com menos de 30 anos. Afinal, trata-se de um programa de humor.

Feridas americanas
Poucos, no entanto, foram tão hábeis em unir política, informação e risadas. Aqui, mesmo sendo tão vasta nossa seara de humor político, não há correlatos. O que Stewart faz é engraçado e também sério. Suas entrevistas são tão despudoradas em cutucar feridas da pudica sociedade americana que acabam produzindo resultados como o que inicia este texto.
Para o público médio americano, acostumado a poucos matizes, ele é necessário. Seu programa cobriu as eleições de 2004 melhor do que qualquer outro, sob a irônica vinheta de "Indecisão 2004". Para a Guerra do Iraque, seus afiados roteiristas saíram com "Mess-on-Potamia", um trocadilho com o nome da região e a palavra "mess", bagunça.
Como escada para Stewart, há um time de humoristas de primeira linha que atuam como "correspondentes". Já partiram para carreiras solo Steve Carrell, que hoje protagoniza a versão americana de "The Office", e Stephen Colbert, que encarnou um conservador espumoso de raiva em seu "Colbert Report", exibido nos EUA logo após o "Daily Show". Difícil é saber se um programa como esse vai "vingar" aqui.
Afinal, são piadas sobre política americana e internacional, nem sempre fáceis de entender sem o contexto. A Sony optou por exibir a edição internacional do programa, que é semanal e não diária -ela seria mais "digerível" para quem não lê o "New York Times".
Mas é também a versão que corta as engraçadíssimas pseudo-reportagens que desnudam a estupidez de alguns americanos sem nenhuma necessidade de contextualização política, muito antes de Borat existir.


DAILY SHOW
Onde:
Sony (ter., 22h30)


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