São Paulo, terça-feira, 04 de novembro de 2008

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Artista nu tenta preencher vazio

Sem roupas, Maurício Ianês vai depender de doações do público para comer, dormir e se vestir na Bienal

Em exposições passadas, artista já ficou nu e coberto de purpurina e apareceu em vídeo em que levava jato de sêmen no rosto


SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

Pelado no vazio, Maurício Ianês precisa de atenção. O artista vai morar no pavilhão da Bienal pelas próximas duas semanas, sem roupa nem comida.
Vai depender das doações do público para comer, dormir e se vestir a partir de hoje. "Chegou o momento de fazer minha performance mais despida de artifícios", diz Ianês em entrevista à Folha. "É a limpeza, reduzir a ação à essência, à coisa mais crua possível."
De fato, um homem nu vagando pelo vazio da Bienal deve acentuar a crueza que marca esta edição da mostra. "Meu pensamento tem a ver com os vazios da palavra, com a não-comunicação", concorda Ianês, que nega, no entanto, ter feito uma obra sob encomenda.
"É que só a presença é mesmo capaz de encher o espaço", conclui. "É um ser humano que está se expondo para outro, o que gera um calor imenso."
Talvez por isso a performance de Ianês seja das mais pertinentes -e arriscadas- diante da proposta dos curadores Ivo Mesquita e Ana Paula Cohen para esta Bienal, a idéia de que é preciso reacender o vínculo do público com uma obra de arte, implícita no título oficial da mostra, "Em Vivo Contato".
O público, aliás, vai precisar fazer esse contato para evitar "situações extremas", já que Ianês só vai aceitar doações de visitantes comuns ao pavilhão, não de funcionários nem de amigos ou conhecidos. "Fiz um pedido oficial que não me trouxessem nada", diz. "É importante não interferir, senão não seria um trabalho honesto."
Não é a primeira vez, aliás, que Ianês tira a roupa em nome da arte: na galeria Vermelho, já ficou pelado coberto de purpurina e, na mostra sobre sexo que a galeria fez no mês passado, aparecia num vídeo com sêmen no rosto.
O calor e a participação ativa sempre presentes no trabalho de Ianês são parte indispensável da atual incursão na Bienal.
Ele espera que se repitam histórias de sucesso do passado: numa performance em que corria por uma sala de olhos vendados, alguém do público evitou que ele se machucasse.
"Outro dia, ficaram incomodados com a minha imobilidade e pediram que eu me mexesse, pelo amor de Deus."
"O lugar ideal para uma exposição se pensar é ela mesma", defende Ianês, que vê "muita força" nas ações performáticas desta Bienal, como a festa que o coletivo assume vivid astro focus deve armar para encerrar a mostra.
"O espetacular nem sempre provoca reação, as pessoas assistem passivas aos filmes de Hollywood", diz.

28ª BIENAL DE SÃO PAULO
Quando: de ter. a dom., das 10h às 22h; até 6/12
Onde: pavilhão da Bienal (pq. Ibirapuera, portão 3, tel. 0/xx/11/5576-7600)
Quanto: entrada franca



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