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Artista nu tenta preencher vazio
Sem roupas, Maurício Ianês vai depender de doações do público para comer, dormir e se vestir na Bienal
Em exposições passadas, artista já ficou nu e coberto de purpurina e apareceu
em vídeo em que levava
jato de sêmen no rosto
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL
Pelado no vazio, Maurício Ianês precisa de atenção. O artista vai morar no pavilhão da Bienal pelas próximas duas semanas, sem roupa nem comida.
Vai depender das doações do
público para comer, dormir e se
vestir a partir de hoje.
"Chegou o momento de fazer
minha performance mais despida de artifícios", diz Ianês em
entrevista à Folha. "É a limpeza, reduzir a ação à essência, à
coisa mais crua possível."
De fato, um homem nu vagando pelo vazio da Bienal deve acentuar a crueza que marca
esta edição da mostra. "Meu
pensamento tem a ver com os
vazios da palavra, com a não-comunicação", concorda Ianês,
que nega, no entanto, ter feito
uma obra sob encomenda.
"É que só a presença é mesmo capaz de encher o espaço",
conclui. "É um ser humano que
está se expondo para outro, o
que gera um calor imenso."
Talvez por isso a performance de Ianês seja das mais pertinentes -e arriscadas- diante
da proposta dos curadores Ivo
Mesquita e Ana Paula Cohen
para esta Bienal, a idéia de que
é preciso reacender o vínculo
do público com uma obra de arte, implícita no título oficial da
mostra, "Em Vivo Contato".
O público, aliás, vai precisar
fazer esse contato para evitar
"situações extremas", já que Ianês só vai aceitar doações de visitantes comuns ao pavilhão,
não de funcionários nem de
amigos ou conhecidos. "Fiz um
pedido oficial que não me trouxessem nada", diz. "É importante não interferir, senão não
seria um trabalho honesto."
Não é a primeira vez, aliás,
que Ianês tira a roupa em nome
da arte: na galeria Vermelho, já
ficou pelado coberto de purpurina e, na mostra sobre sexo
que a galeria fez no mês passado, aparecia num vídeo com sêmen no rosto.
O calor e a participação ativa
sempre presentes no trabalho
de Ianês são parte indispensável da atual incursão na Bienal.
Ele espera que se repitam histórias de sucesso do passado:
numa performance em que
corria por uma sala de olhos
vendados, alguém do público
evitou que ele se machucasse.
"Outro dia, ficaram incomodados com a minha imobilidade e
pediram que eu me mexesse,
pelo amor de Deus."
"O lugar ideal para uma exposição se pensar é ela mesma", defende Ianês, que vê
"muita força" nas ações performáticas desta Bienal, como a
festa que o coletivo assume
vivid astro focus deve armar
para encerrar a mostra.
"O espetacular nem sempre
provoca reação, as pessoas assistem passivas aos filmes de
Hollywood", diz.
28ª BIENAL DE SÃO PAULO
Quando: de ter. a dom., das 10h às
22h; até 6/12
Onde: pavilhão da Bienal (pq. Ibirapuera, portão 3, tel. 0/xx/11/5576-7600)
Quanto: entrada franca
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