São Paulo, terça-feira, 04 de novembro de 2008

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análise

Gestão de Neves foi marcada por reforma e furto

DA REPORTAGEM LOCAL

O arquiteto Julio Neves fez uma reforma no Masp que estancou a deterioração do prédio, criou uma reserva técnica para guardar obras com padrão internacional, mas deve passar para a história como o presidente que protagonizou alguns dos maiores vexames nos 60 anos de existência do museu.
Dois eventos devem marcar os 14 anos que Neves permaneceu na presidência do museu pelo simbolismo que carregam: o furto de uma tela de Picasso e de uma de Portinari, em dezembro de 2007, e o corte da luz pela Eletropaulo por falta de pagamento, em maio de 2006.
O furto evidenciou que o museu, de acervo avaliado em US$ 1 bilhão, não possuía alarme nem sensores em suas obras. A interrupção no fornecimento, retomado três dias depois, comprovou a crise da instituição, para a qual o arquiteto havia sido eleito como salvador financeiro.
Neves chegou à presidência do Masp de uma maneira traumática: venceu o empresário e bibliófilo José Mindlin em 1994 por um voto de diferença, num processo em que os partidários de Mindlin dizem ter faltado lisura.
Esse trauma fez com que o grupo de Mindlin, mais liberal e com ligações mais fortes com a cena cultural, se afastasse do museu. Sem opositores e sem experiência na área, Neves fez o que quis com o museu -para o bem e para o mal.
O ponto alto de sua gestão foram as obras de recuperação do espaço físico. O prédio de Lina Bo Bardi (1914-1992) tinha infiltrações, sua cobertura estava curvando e faltava uma reserva com controle de ar e umidade para abrigar as obras que não ficam expostas -mais de 7.000, segundo estimativa de funcionários do museu.
Com o museu recuperado, Neves começou a desmontar o projeto de Lina: tirou os cavaletes de vidro e acabou com a concepção de sala única, considerada inovadora por alguns museólogos e um desastre para outros.
Outra inovação da gestão foi criar uma sala VIP em um museu projetado por uma arquiteta que se definia como comunista -e, portanto, contrária, a esse tipo de estratificação em espaços públicos como o de um museu.
O arquiteto tentou fazer uma torre de 110 metros de altura que levaria a marca da operadora de celular Vivo, mas o plano acabou vetado pelo patrimônio histórico.
A torre era apresentada por Neves como a solução para os problemas financeiros do Masp. As dívidas do museu somam cerca de R$ 20 milhões -a Vivo, que comprou o prédio onde seria construída a torre, cobra R$ 13 milhões na Justiça, o INSS informa que o Masp deve R$ 4 milhões à Previdência, e o débito na Eletropaulo é de R$ 3 milhões.
Com tais problemas financeiros, Neves tentou reverter a imagem do museu nomeando em 2006 um curador de prestígio, o crítico e escritor Teixeira Coelho.
Com o novo curador, o nível das exposições melhorou. O acervo passou a ser mostrado de uma maneira menos convencional e as mostras internacionais escolhidas tinham qualidade. A crise financeira e a falta de transparência, porém, continuam intocadas.
(MARIO CESAR CARVALHO)



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