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análise
Gestão de Neves foi marcada por reforma e furto
DA REPORTAGEM LOCAL
O arquiteto Julio Neves fez
uma reforma no Masp que
estancou a deterioração do
prédio, criou uma reserva
técnica para guardar obras
com padrão internacional,
mas deve passar para a história como o presidente que
protagonizou alguns dos
maiores vexames nos 60
anos de existência do museu.
Dois eventos devem marcar os 14 anos que Neves permaneceu na presidência do
museu pelo simbolismo que
carregam: o furto de uma tela
de Picasso e de uma de Portinari, em dezembro de 2007,
e o corte da luz pela Eletropaulo por falta de pagamento, em maio de 2006.
O furto evidenciou que o
museu, de acervo avaliado
em US$ 1 bilhão, não possuía
alarme nem sensores em
suas obras. A interrupção no
fornecimento, retomado três
dias depois, comprovou a crise da instituição, para a qual
o arquiteto havia sido eleito
como salvador financeiro.
Neves chegou à presidência do Masp de uma maneira
traumática: venceu o empresário e bibliófilo José Mindlin em 1994 por um voto de
diferença, num processo em
que os partidários de Mindlin dizem ter faltado lisura.
Esse trauma fez com que o
grupo de Mindlin, mais liberal e com ligações mais fortes
com a cena cultural, se afastasse do museu. Sem opositores e sem experiência na
área, Neves fez o que quis
com o museu -para o bem e
para o mal.
O ponto alto de sua gestão
foram as obras de recuperação do espaço físico. O prédio
de Lina Bo Bardi (1914-1992)
tinha infiltrações, sua cobertura estava curvando e faltava uma reserva com controle
de ar e umidade para abrigar
as obras que não ficam expostas -mais de 7.000, segundo estimativa de funcionários do museu.
Com o museu recuperado,
Neves começou a desmontar
o projeto de Lina: tirou os cavaletes de vidro e acabou
com a concepção de sala única, considerada inovadora
por alguns museólogos e um
desastre para outros.
Outra inovação da gestão
foi criar uma sala VIP em um
museu projetado por uma
arquiteta que se definia como comunista -e, portanto,
contrária, a esse tipo de estratificação em espaços públicos como o de um museu.
O arquiteto tentou fazer
uma torre de 110 metros de
altura que levaria a marca da
operadora de celular Vivo,
mas o plano acabou vetado
pelo patrimônio histórico.
A torre era apresentada
por Neves como a solução
para os problemas financeiros do Masp. As dívidas do
museu somam cerca de R$
20 milhões -a Vivo, que
comprou o prédio onde seria
construída a torre, cobra R$
13 milhões na Justiça, o INSS
informa que o Masp deve R$
4 milhões à Previdência, e o
débito na Eletropaulo é de
R$ 3 milhões.
Com tais problemas financeiros, Neves tentou reverter
a imagem do museu nomeando em 2006 um curador de prestígio, o crítico e
escritor Teixeira Coelho.
Com o novo curador, o nível das exposições melhorou.
O acervo passou a ser mostrado de uma maneira menos convencional e as mostras internacionais escolhidas tinham qualidade. A crise financeira e a falta de
transparência, porém, continuam intocadas.
(MARIO CESAR CARVALHO)
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