São Paulo, quarta-feira, 04 de novembro de 2009

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"Éramos criminosos", lembra Iggy Pop

Cantor americano comenta a época do lançamento de "Raw Power", disco de 1973 que será a base do show no Brasil

Na entrevista à Folha, Iggy Pop fala sobre a real responsabilidade de David Bowie no álbum e comenta sua fase "bossa nova"

DA REPORTAGEM LOCAL

"Não tínhamos dinheiro, estávamos quebrados. Éramos pequenos criminosos viciados em drogas. Íamos a lojas de conveniência para tentar roubar comida." Entre 1969 e 1973, os Stooges lançaram três discos e não ganharam dinheiro com nenhum deles. Mas fizeram a diferença para meio mundo de bandas roqueiras que surgiram depois -não fosse por eles, o punk poderia ter aparecido apenas nos anos 1980...
Em entrevista à Folha, Iggy Pop, o vocalista da banda, relembrou alguns dos momentos barras-pesadas pelos quais os Stooges passaram, no início dos anos 1970. Época que culminaria em "Raw Power", disco lançado em 1973 e que alfabetizou os Ramones, os Sex Pistols e 99% do punk.
Das oito faixas de "Raw Power", seis ou sete serão tocadas pelos Stooges no próximo sábado, no festival Planeta Terra.
"Fomos convidados para tocar "Raw Power" na íntegra em alguns shows no Reino Unido, em maio do ano que vem. Aí nos chamaram para o Brasil. Em São Paulo, tocaremos muitas do "Raw Power", mas também uma ou duas do primeiro álbum e outras que nunca lançamos, músicas do início dos anos 1970, quando nenhuma gravadora queria assinar com a gente e viajávamos pelos EUA tocando em pequenos bares."
Os Stooges não eram bem-vistos. Brigavam com o público, com executivos de gravadoras, não economizavam em bebidas e drogas, deviam dinheiro para muita gente.
Então, David Bowie, amigo de Iggy Pop, deu uma força à banda. Os Stooges gravaram "Raw Power" e Bowie fez a mixagem das canções. Com seu nome nos créditos, o disco foi lançado pela Columbia em 1973. Para muitos, Bowie é considerado o principal responsável pela sonoridade de "Raw Power".
"Não é isso. Eu produzi aquele álbum", afirma Iggy. "O que aconteceu é que, na época, eu não estava em uma fase muito, digamos, boa. Eu ficava mixando o álbum várias vezes e não conseguia me decidir por uma versão final. Então Bowie foi chamado e fez uma mixagem comigo ao seu lado. O que não gostei é de eles [a gravadora] colocarem nos créditos "mixado por David Bowie" bem grande, como se ele tivesse feito mais do que fez na verdade."
Em 1997, Iggy Pop relançou "Raw Power" com outra mixagem -mais barulhenta, com a guitarra mais distorcida e avançada. "Bowie fez um bom mix, usou equipamentos baratos. Mas o disco não tinha o som poderoso característico dos Stooges. Então, em 1997, fui a um grande estúdio e mixei o disco o mais alto que pude!"

Iggy bossa nova
Em 2009, Iggy Pop se afastou novamente dos Stooges para produzir "Préliminaires", disco lançado em junho e que mostra o furioso punk em uma faceta curiosa -canta faixas com claras influências de bossa nova e standards americanos, inclusive "How Insensitive", uma versão para "Insensatez", de Tom Jobim e Vinicius de Moraes.
"Sempre gostei desse tipo de música que está em "Préliminaires". Mas só agora que estou mais velho me senti realmente à vontade para cantar essas canções. Antes ficaria ridículo vestir um terno ou roupas bacanas e fazer esse tipo de coisa."
"Préliminaires" foi inspirado em parte pelo livro "A Possibilidade de uma Ilha", publicado em 2005 pelo francês Michel Houellebecq. Iggy Pop havia sido convidado para compor uma música para um filme baseado no livro. Mas ele se empolgou e fez um álbum inteiro.
"Compus uma música e percebi que estava gostando mais daquilo do que das canções roqueiras que estava fazendo. Não sei se tenho mais nada que queira dizer ao mundo. Já falei um monte de besteira nesses anos todos... Mas se você me der um assunto, um tema, algo que me faça sentir algo, então eu me interesso, me motivo."
Aos 62 anos, Iggy Pop mostra que ainda não digeriu ter sido chamado de "fracassado", entre outros nomes, pelos críticos no início dos anos 1970.
"Muita gente dizia que éramos ruins, que éramos uns merdas, que não iríamos a lugar nenhum. Então é bom sair em mais uma turnê."
Sobre o Brasil, ele diz que é um dos lugares preferidos para tocar. "Nem todo mundo consegue tocar no Brasil. Tem gente que é obrigada a tocar em Cleveland." (THIAGO NEY)


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