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"Éramos criminosos", lembra Iggy Pop
Cantor americano comenta a época do lançamento de "Raw Power", disco de 1973 que será a base do show no Brasil
Na entrevista à Folha, Iggy Pop fala sobre a real responsabilidade de David Bowie no álbum e comenta sua fase "bossa nova"
DA REPORTAGEM LOCAL
"Não tínhamos dinheiro, estávamos quebrados. Éramos
pequenos criminosos viciados
em drogas. Íamos a lojas de
conveniência para tentar roubar comida." Entre 1969 e 1973,
os Stooges lançaram três discos
e não ganharam dinheiro com
nenhum deles. Mas fizeram a
diferença para meio mundo de
bandas roqueiras que surgiram
depois -não fosse por eles, o
punk poderia ter aparecido
apenas nos anos 1980...
Em entrevista à Folha, Iggy
Pop, o vocalista da banda, relembrou alguns dos momentos
barras-pesadas pelos quais os
Stooges passaram, no início
dos anos 1970. Época que culminaria em "Raw Power", disco lançado em 1973 e que alfabetizou os Ramones, os Sex
Pistols e 99% do punk.
Das oito faixas de "Raw Power", seis ou sete serão tocadas
pelos Stooges no próximo sábado, no festival Planeta Terra.
"Fomos convidados para tocar "Raw Power" na íntegra em
alguns shows no Reino Unido,
em maio do ano que vem. Aí
nos chamaram para o Brasil.
Em São Paulo, tocaremos muitas do "Raw Power", mas também uma ou duas do primeiro
álbum e outras que nunca lançamos, músicas do início dos
anos 1970, quando nenhuma
gravadora queria assinar com a
gente e viajávamos pelos EUA
tocando em pequenos bares."
Os Stooges não eram bem-vistos. Brigavam com o público, com executivos de gravadoras, não economizavam em bebidas e drogas, deviam dinheiro para muita gente.
Então, David Bowie, amigo
de Iggy Pop, deu uma força à
banda. Os Stooges gravaram
"Raw Power" e Bowie fez a mixagem das canções. Com seu
nome nos créditos, o disco foi
lançado pela Columbia em
1973. Para muitos, Bowie é
considerado o principal responsável pela sonoridade de
"Raw Power".
"Não é isso. Eu produzi aquele álbum", afirma Iggy. "O que
aconteceu é que, na época, eu
não estava em uma fase muito,
digamos, boa. Eu ficava mixando o álbum várias vezes e não
conseguia me decidir por uma
versão final. Então Bowie foi
chamado e fez uma mixagem
comigo ao seu lado. O que não
gostei é de eles [a gravadora]
colocarem nos créditos "mixado por David Bowie" bem grande, como se ele tivesse feito
mais do que fez na verdade."
Em 1997, Iggy Pop relançou
"Raw Power" com outra mixagem -mais barulhenta, com a
guitarra mais distorcida e
avançada. "Bowie fez um bom
mix, usou equipamentos baratos. Mas o disco não tinha o
som poderoso característico
dos Stooges. Então, em 1997,
fui a um grande estúdio e mixei
o disco o mais alto que pude!"
Iggy bossa nova
Em 2009, Iggy Pop se afastou
novamente dos Stooges para
produzir "Préliminaires", disco
lançado em junho e que mostra
o furioso punk em uma faceta
curiosa -canta faixas com claras influências de bossa nova e
standards americanos, inclusive "How Insensitive", uma versão para "Insensatez", de Tom
Jobim e Vinicius de Moraes.
"Sempre gostei desse tipo de
música que está em "Préliminaires". Mas só agora que estou
mais velho me senti realmente
à vontade para cantar essas
canções. Antes ficaria ridículo
vestir um terno ou roupas bacanas e fazer esse tipo de coisa."
"Préliminaires" foi inspirado
em parte pelo livro "A Possibilidade de uma Ilha", publicado
em 2005 pelo francês Michel
Houellebecq. Iggy Pop havia sido convidado para compor uma
música para um filme baseado
no livro. Mas ele se empolgou e
fez um álbum inteiro.
"Compus uma música e percebi que estava gostando mais
daquilo do que das canções roqueiras que estava fazendo.
Não sei se tenho mais nada que
queira dizer ao mundo. Já falei
um monte de besteira nesses
anos todos... Mas se você me
der um assunto, um tema, algo
que me faça sentir algo, então
eu me interesso, me motivo."
Aos 62 anos, Iggy Pop mostra
que ainda não digeriu ter sido
chamado de "fracassado", entre
outros nomes, pelos críticos no
início dos anos 1970.
"Muita gente dizia que éramos ruins, que éramos uns
merdas, que não iríamos a lugar
nenhum. Então é bom sair em
mais uma turnê."
Sobre o Brasil, ele diz que é
um dos lugares preferidos para
tocar. "Nem todo mundo consegue tocar no Brasil. Tem gente que é obrigada a tocar em
Cleveland."
(THIAGO NEY)
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