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Música/crítica
Police é reverente demais ao passado
Em Buenos Aires, banda faz show competente, mas abre mão do ska e do pós-punk em favor de uma sonoridade "cool"
THIAGO NEY
ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES
Vinte e três anos após
sua última grande turnê, o Police voltou em
2007 para uma extensa série
mundial de shows que passa
pelo Maracanã no sábado e que
esteve na Argentina no último
fim de semana. O trio inglês
procura fazer da apresentação
algo que não seja apenas nostálgico, mas não é capaz de se
desvencilhar da reverência a
suas canções históricas.
Sting (56 anos; vocal e baixo),
Stewart Copeland (55; bateria)
e Andy Summers (64; guitarra)
lotaram o estádio Monumental
de Nuñez, em Buenos Aires, no
sábado à noite. Tocaram para
público de pouco mais de 50
mil pessoas, em noite que ainda
teve show de abertura do cantor norte-americano Beck.
Apresentações de artistas
que retornam após vários anos
ou que estão por aí desde sempre, como Led Zeppelin, The
Who e Rolling Stones, têm um
valor sentimental para os fãs
que supera qualquer análise racional a respeito da atualidade
do valor artístico e da relevância desses artistas. A não ser
que façam um show desastroso,
que os músicos estejam inaptos
a tocar seus instrumentos, o
que vale mesmo é ver os ídolos
de perto (bem, em muitos casos, nem tão de perto), ouvir
canções que estão presas à nossa memória afetiva.
Com o Police não é diferente,
e o show visto em Buenos Aires
cumpriu o papel de aproximar
a banda de seus fãs órfãos.
Mas foi só.
Porque essas bandas históricas que retornam após vários
anos normalmente seguem
dois caminhos: tocam os hits
exatamente como eles foram
compostos; ou mudam os arranjos para tentar atualizar as
canções. Mas são caminhos
sem saída -porque apenas xerocar faixas decanas é se render
à nostalgia; e dar uma nova roupagem às músicas dificilmente
será tão eficiente quanto as originais. O Police apostou na segunda alternativa e, embora
não tenha desapontado os fãs
argentinos, ficou claro que as
versões ao vivo não são das
mais empolgantes.
Diferentemente de seu período clássico, entre o final dos
anos 70 e a primeira metade
dos 80, em que fazia uso do reggae, do ska e até do pós-punk, o
Police 2007 trocou quaisquer
traços de agressividade ou de
energia de suas faixas por arranjos mais... "suingados" (uma
fusão rock-soul-jazz que lembra a fase solo de Sting).
Das cerca de 20 canções
apresentadas, algumas ainda
estão bem parecidas com o que
eram, como "Message in a Bottle" (que abre o show), e "So Lonely". Já "Walking on the
Moon" é uma grata surpresa
-a faixa modorrenta é transformada em um reggae meio
espacial, apoiada pelos grafismos coloridos que são formados por milhares de pequenas
lâmpadas em torno do palco.
A produção do show é competente -o som é alto e claro, e
três enormes telões na parte de
trás do palco perseguem cada
um dos integrantes da banda.
Em "Invisible Sun", a miséria
é lembrada, por meio de imagens de crianças de países africanos exibidas nos telões. Todos os hits do Police estão no
show. Mas faixas mais agitadas,
como "Don't Stand So Close to
Me", "Every Little Thing She
Does Is Magic" e "Can't Stand
Losing You", ganham aplausos
porque são ótimas músicas, e
não pelos arranjos pálidos com
que foram apresentadas.
THE POLICE
Quando: sábado, a partir das 21h30
(os Paralamas tocam às 20h)
Onde: estádio do Maracanã (r. Professor Eurico Rabelo, s/nº, Rio de Janeiro)
Quanto: R$ 160 (arquibancada lateral); R$ 190 (cadeira azul central) e R$
270 (cadeira azul central)
Onde comprar: www.ingresso.com
Avaliação: regular
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