São Paulo, terça-feira, 04 de dezembro de 2007

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Música/crítica

Police é reverente demais ao passado

Em Buenos Aires, banda faz show competente, mas abre mão do ska e do pós-punk em favor de uma sonoridade "cool"

THIAGO NEY
ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES

Vinte e três anos após sua última grande turnê, o Police voltou em 2007 para uma extensa série mundial de shows que passa pelo Maracanã no sábado e que esteve na Argentina no último fim de semana. O trio inglês procura fazer da apresentação algo que não seja apenas nostálgico, mas não é capaz de se desvencilhar da reverência a suas canções históricas.
Sting (56 anos; vocal e baixo), Stewart Copeland (55; bateria) e Andy Summers (64; guitarra) lotaram o estádio Monumental de Nuñez, em Buenos Aires, no sábado à noite. Tocaram para público de pouco mais de 50 mil pessoas, em noite que ainda teve show de abertura do cantor norte-americano Beck.
Apresentações de artistas que retornam após vários anos ou que estão por aí desde sempre, como Led Zeppelin, The Who e Rolling Stones, têm um valor sentimental para os fãs que supera qualquer análise racional a respeito da atualidade do valor artístico e da relevância desses artistas. A não ser que façam um show desastroso, que os músicos estejam inaptos a tocar seus instrumentos, o que vale mesmo é ver os ídolos de perto (bem, em muitos casos, nem tão de perto), ouvir canções que estão presas à nossa memória afetiva.
Com o Police não é diferente, e o show visto em Buenos Aires cumpriu o papel de aproximar a banda de seus fãs órfãos. Mas foi só.
Porque essas bandas históricas que retornam após vários anos normalmente seguem dois caminhos: tocam os hits exatamente como eles foram compostos; ou mudam os arranjos para tentar atualizar as canções. Mas são caminhos sem saída -porque apenas xerocar faixas decanas é se render à nostalgia; e dar uma nova roupagem às músicas dificilmente será tão eficiente quanto as originais. O Police apostou na segunda alternativa e, embora não tenha desapontado os fãs argentinos, ficou claro que as versões ao vivo não são das mais empolgantes.
Diferentemente de seu período clássico, entre o final dos anos 70 e a primeira metade dos 80, em que fazia uso do reggae, do ska e até do pós-punk, o Police 2007 trocou quaisquer traços de agressividade ou de energia de suas faixas por arranjos mais... "suingados" (uma fusão rock-soul-jazz que lembra a fase solo de Sting).
Das cerca de 20 canções apresentadas, algumas ainda estão bem parecidas com o que eram, como "Message in a Bottle" (que abre o show), e "So Lonely". Já "Walking on the Moon" é uma grata surpresa -a faixa modorrenta é transformada em um reggae meio espacial, apoiada pelos grafismos coloridos que são formados por milhares de pequenas lâmpadas em torno do palco.
A produção do show é competente -o som é alto e claro, e três enormes telões na parte de trás do palco perseguem cada um dos integrantes da banda.
Em "Invisible Sun", a miséria é lembrada, por meio de imagens de crianças de países africanos exibidas nos telões. Todos os hits do Police estão no show. Mas faixas mais agitadas, como "Don't Stand So Close to Me", "Every Little Thing She Does Is Magic" e "Can't Stand Losing You", ganham aplausos porque são ótimas músicas, e não pelos arranjos pálidos com que foram apresentadas.


THE POLICE
Quando:
sábado, a partir das 21h30 (os Paralamas tocam às 20h)
Onde: estádio do Maracanã (r. Professor Eurico Rabelo, s/nº, Rio de Janeiro)
Quanto: R$ 160 (arquibancada lateral); R$ 190 (cadeira azul central) e R$ 270 (cadeira azul central)
Onde comprar: www.ingresso.com
Avaliação: regular


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