São Paulo, sábado, 04 de dezembro de 2010

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Liga Católica censura obra em Washington

Vídeo que mostra Jesus na cruz coberto por formigas foi retirado da National Portrait Gallery após controvérsia

Religiosos protestaram na imprensa e no Congresso contra a destinação de verbas federais ao Smithsonian

ANDREA MURTA
DE WASHINGTON

Por 11 segundos de um vídeo de quatro minutos do artista americano David Wojnarowicz, a tela mostra formigas pretas andando sobre o corpo de Cristo crucificado.
A controvérsia gerada entre cristãos forçou a National Portrait Gallery, da rede Smithsonian, em Washington, a retirar o vídeo "A Fire in My Belly" (fogo na minha barriga), de 1987, da exposição "Hide/Seek" (esconde-esconde), de temas gays, que prossegue até 13/2.
Foi um ato incomum, senão inédito, para o museu, que mostrou a vulnerabilidade das instituições artísticas dos EUA à pressão e à censura de grupos religiosos.
A principal origem das reclamações foi a Liga Católica americana, que considerou o vídeo ofensivo. O grupo contatou a imprensa e o Congresso para protestar contra a destinação de verbas federais ao Smithsonian.
Os ativistas conseguiram apoio de deputados como o republicano John Boehner, que se tornará em 2011 líder da Câmara nos EUA.
"Não vemos formigas em cima de Maomé ou da estrela da Davi. Por que os cristãos devem aceitar ser ofendidos?", afirmou à Folha Jeff Field, porta-voz do grupo.
Ele diz que a remoção da peça nunca foi explicitamente pedida. "O que solicitamos foi a revisão do financiamento público. Não há verba pública para promoção religiosa, então não deve haver para prejudicar religiões."
Para a National Portrait Gallery, não há motivação ofensiva no vídeo. "A intenção do artista foi mostrar o sofrimento de uma vítima de Aids", afirmou em carta pública Martin Sullivan, diretor da instituição.
Wojnarowicz, que era gay, morreu de complicações causadas pela Aids em 1992, aos 37 anos. O caráter homossexual da mostra contribuiu para a polêmica.
O curador David Ward disse à Folha que "a questão do suposto sacrilégio se tornou uma forma de atacar o artista por construir um trabalho baseado na homossexualidade e na luta contra a Aids".
"Entendo que é delicado usar material religioso. [Mas o vídeo] é um uso moderno de um tema tradicional: o sofrimento de Cristo em conjunção com nossa dor."
Ward rejeita a sugestão de que instituições financiadas publicamente deveriam ter restrições com base em critérios não artísticos. Apesar de o Smithsonian receber fundos públicos para custos operacionais e salários, as mostras têm financiamento privado e a entrada é grátis.
Bethany Bentley, porta-voz do museu, disse que "o Smithsonian decidiu remover o trabalho porque estava se tornando uma distração". Ela não soube citar outra ocasião em que protestos levaram à supressão de obras.
Houve críticas de conservadores também a fotos de homens se beijando, mas nenhuma outra imagem deverá ser retirada da exposição. "Hide/Seek" tem outros 105 trabalhos de artistas como Andy Warhol, Thomas Eakins e Annie Leibovitz.


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