São Paulo, sábado, 04 de dezembro de 2010

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Imortal da APL, Mauricio de Sousa promete "inventar"

Recém-eleito para a Academia Paulista de Letras, criador da Mônica quer atrair crianças e jovens para a instituição

Quadrinista afirma não possuir "tantos livros" e ser "autor de textos dentro de balões"; posse é em fevereiro de 2011

Eduardo Knapp/Folhapress
O quadrinista Mauricio de Sousa desenha seu "perfil acadêmico" em seu estúdio, em SP

MARCO RODRIGO ALMEIDA
DE SÃO PAULO

À intensa agenda do quadrinista Mauricio de Sousa, 75, um novo compromisso acaba de ser somado.
Todas às quintas, às 17h, o criador da Turma da Mônica degustará o famoso chá das reuniões da Academia Paulista de Letras (APL), no largo do Arouche.
Sousa foi eleito na tarde da última quinta para a cadeira 24 da APL, substituindo o poeta e jurista Geraldo de Camargo Vidigal (1921 -2010).
"Não tenho tantos livros e sou, antes de tudo, um quadrinista. Mas também sou autor de textos, mas textos dentro de balões", afirma.
A posse oficial deve ocorrer apenas em fevereiro de 2011, mas o recém-eleito já está cheio de planos. Ele não pretende ser, definitivamente, um acadêmico de perfil convencional.
"Quero contribuir para rejuvenescer a academia. Se me permitirem, eu vou inventar coisas."
As invenções terão como ingredientes básicos "cor, alegria e música", para atrair crianças e adolescentes para as sessões da APL. O primeiro plano é instituir um concurso de redação.
"O público não conhece a academia, não sabe o que acontece lá. Está na hora de a APL se acostumar com a algazarra da criançada."

REPÓRTER POLICIAL
Em 2009, Mauricio de Sousa completou 50 anos de carreira como desenhista.
O primeiro quadrinho, protagonizado pelo cãozinho Bidú, foi publicado no jornal "Folha da Manhã" (atual Folha) em 19 de julho de 1959.
O sucesso foi instantâneo, mas o caminho até ele não foi fácil. Quando saiu de Mogi das Cruzes, onde passou a infância, e veio para São Paulo, em 1954, Sousa estava determinado a ganhar a vida como quadrinista.
Bateu na porta da "Folha da Manhã" pedindo emprego como ilustrador, mas só havia vaga para repórter policial. Uma única vaga, disputada por 200 candidatos.
Sousa tinha então 19 anos. Nos cinco anos seguintes, ele viveu em meio a delegacias, crimes, brigas e tiroteios. Conta que medo mesmo ele só sentia de ver sangue, algo difícil de evitar para um repórter policial.
"Eu tinha que pedir para o fotógrafo ver a cena do crime e depois me contar o que havia acontecido", afirma. Devorador precoce de gibis, o repórter Sousa percorria as ruas de São Paulo como se fosse Dick Tracy, detetive de quadrinhos americanos da década de 1930.
"Era muito divertido. Tinha um jipe, um motorista e um fotógrafo à disposição. E o melhor: quando a situação complicava, era o fotógrafo quem apanhava em meu lugar", diz, entre risos.
No geral, o jornalismo ensinou o cartunista a dizer muito com poucas palavras.
Na mistura entre clareza narrativa e temas universais reside, julga ele, o sucesso da Turma da Mônica, hoje publicada em 20 línguas.
"Criança é igual em qualquer lugar", diz, com experiência de meio século dedicado a elas, o novo imortal.


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