São Paulo, sábado, 04 de dezembro de 2010

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Feira de Guadalajara debate modernização do espanhol

Discussões acaloradas sobre o idioma marcam edição do evento literário

Encontro anunciou gramática e dicionário novos e rechaçou propostas ortográficas de comissão espanhola

SYLVIA COLOMBO
ENVIADA ESPECIAL A GUADALAJARA

Um clima de otimismo ronda a 24ª Feria Internacional del Libro de Guadalajara, o maior evento de literatura da América Latina, que acontece até amanhã na cidade mexicana. Tendo como tema a região de Castilla y León, na Espanha, onde nasceu o castelhano, a festa comemora o bom momento que o idioma vive no mundo.
Estima-se que, hoje, cerca de 450 milhões de pessoas falem espanhol. Em entrevista à Folha, o cubano Humberto López Morales, secretário-geral da associação de academias de língua espanhola e autor de "La Andadura del Español en el Mundo", disse que, segundo as projeções, em 2050, cerca de 10% da população do planeta será "hispano-hablante". "Vamos disputar com o inglês o posto de segunda língua mais usada no mundo, perdendo apenas para o chinês", disse.
Uma das principais razões para esse fenômeno é o aumento da população de origem latino-americana nos EUA, atualmente na casa dos mais de 40 milhões de pessoas. "Há que se levar em conta que esses novos habitantes dos EUA já não são apenas catadores de tomates, mas ocupam posições de influência na sociedade, publicam teses de doutorado em espanhol, exercem cargos políticos", diz Morales.
O cubano participou do encontro, que teve lugar na FIL, entre as 22 academias da língua de distintos países que a utilizam. Este anunciou mudanças para modernizar o idioma, assim como o lançamento de uma nova gramática e de um dicionário de americanismos.
As academias também rechaçaram algumas propostas feitas por uma comissão reunida em San Millán de Cogolla, na Espanha, para sugerir uma ortografia mais comum a todos os países. O episódio foi visto como uma derrota dos espanhóis.
As transformações indicam que a língua está se tornando cada vez mais americana e menos europeia. Estruturas gramaticais têm mudado de acordo com o uso que se faz nos países do lado de cá do Atlântico. "Apesar de o voto das academias terem o mesmo peso desde 1952, só de cerca de dez anos para cá a Espanha vem perdendo a influência quando se trata de regulamentar o idioma", diz Morales.
"Aos poucos, os membros mais antigos da academia começam a perceber que o espanhol cresce por razões demográficas e econômicas, não porque mais gente quer ler "Dom Quixote" no original. Isso é positivo porque, uma vez conquistado o público pelo idioma, também é possível seduzi-lo com a literatura", conta.
Os debates foram acalorados. Em um deles, a colombiana Laura Restrepo pediu às editoras espanholas que respeitem mais os leitores hispano-americanos. "Que não façam com que os personagens de Dostoiévski digam gilipollas [gíria espanhola que quer dizer imbecil].
Já o também colombiano Fernando Vallejo, autor de "Virgem dos Sicários", fez um contraponto radical, como sempre.
Disse que o espanhol é um idioma "em bancarrota".
"Está sendo domado pelo inglês. Os gringos nos colonizaram até a alma. É irreversível. Depois nos colonizarão também os chineses, se houver tempo."

A jornalista SYLVIA COLOMBO viajou a convite da organização do evento


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