São Paulo, segunda-feira, 05 de janeiro de 2004

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Décima edição do festival carioca Humaitá Pra Peixe terá novos nomes do cenário pop do Rio de Janeiro

O milagre da multiplicação dos peixes

ALEXANDRE MATIAS
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Enquanto os termômetros anunciam o verão carioca mais quente dos últimos dez anos, o tradicional festival Humaitá Pra Peixe aproveita para esquentar a temperatura da estação na edição em que comemora uma década -o que inclui até o lançamento de um novo selo de discos.
O evento começa hoje, em Ipanema, com a primeira noite da temporada de BNegão e seus Seletores de Frequência (que segue por todas as segundas de janeiro), e termina no próximo dia 3 de fevereiro, no Canecão, com show de encerramento pilotado pelo grupo Pato Fu.
Mas, na essência, o festival "continua sendo para novos talentos musicais de variados estilos", diz o produtor Bruno Levinson. "São chamados artistas que julgo prontos para conquistarem mais público e entrarem no mercado. Artistas autorais com identidade artística bem definida."
Além dos citados, ainda passam pelo festival (que ocupa, principalmente, o Espaço Cultural Sérgio Porto, no bairro do Humaitá) nomes que compõem a nova cara da cena carioca: do rapper Marechal (que convida seus compadres do coletivo Quinto Andar) à estréia solo do baterista Nervoso, passando pelo drum'n'bass latino de Marcelinho Da Lua, dois herdeiros de Novos Baianos (Pedro Baby e Ari Moraes) e a volta do grupo Acabou La Tequila.
A décima edição do Humaitá Pra Peixe comemora a chegada de um dos primeiros filhotes do evento, o selo Cardume, que lançará quatro artistas por ano.
Os primeiros lançamentos do selo são a estréia solo de China, ex-vocalista do grupo pernambucano Sheik Tosado; a cantora Thalma de Freitas (filha do maestro Laércio de Freitas) e os cariocas Bangalafumenga e Jimi James, que se apresentam no festival.
O selo é uma parceria da produção do festival com a gravadora EMI. "Eles querem que o Cardume seja a maternidade de novos artistas para eles, e é exatamente isso que quero ser", diz Levinson, que explica que, durante o festival, o público receberá um single com uma faixa de cada artista.
"Em março, saem juntos os quatro EPs com seis faixas de cada um. Queremos lançar os discos com a volta às aulas. Circuito estudantil será o nosso foco principal", diz, explicando que deseja fazer com que o preço dos discos não passe de R$ 12,90.
Os próximos passos do Humaitá incluem um programa de rádio, uma versão itinerante do evento, um DVD com os primeiros artistas do selo e um projeto de venda de discos num ponto de vendas nada ortodoxo: uma van.
"Não posso ficar dependendo das vendas no mercado tradicional de discos, até porque esse mercado tradicional está ruindo", afirma Levinson. "E essa idéia da Towner Discos é uma das que mais gosto. Pretendo chamar outros selos para essa história."

Acabou La Tequila
Uma das principais atrações da décima edição do festival Humaitá Pra Peixe é a volta do grupo Acabou La Tequila, banda dos anos 90 que é crucial para entender o atual pop carioca, de Los Hermanos a Autoramas, passando pela Orquestra Imperial, De Leve, Matanza e os Djangos. O grupo, formado na metade dos anos 90, lançou apenas um disco homônimo e desapareceu.
"Nosso segundo disco tinha uma música falando sobre jabá de rádio e queríamos que essa fosse a música de trabalho", explica o produtor Kassin, um dos integrantes da banda, que hoje toca com Moreno Veloso e Domenico. "O cara da gravadora pediu que mudássemos a letra, não mudamos, e o disco não saiu."
Kassin conta que esse trabalho, considerado o "disco perdido" do grupo, será lançado neste ano, pela sua gravadora, a Ping Pong.
O grupo voltou no final do ano passado em aparições não anunciadas em festas. A apresentação do Humaitá Pra Peixe 2004 marca a volta do grupo. "Teremos no palco Gabriel [Thomaz, guitarrista do grupo Autoramas] tocando teclado e o Perna, que foi o nosso primeiro baterista. Seremos duas baterias, três guitarras, baixo e teclado." É ver para crer.



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