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"TVs abertas desistiram da produção infantil"
Beth Carmona volta à TV Cultura como consultora de programação infantil
Especialista em produção destinada a crianças, ela diz que fazer produto infantil original custa caro e tem mercado comercial difícil
ANA PAULA SOUSA
DA REPORTAGEM LOCAL
Passados 12 anos desde que
deixou a TV Cultura, Beth Carmona retorna à emissora neste
ano, como consultora da programação infantil.
Foi durante a temporada de
Carmona (1987-1998) que a rede levou ao ar programas como
"Castelo Rá-Tim-Bum" e "O
Mundo da Lua", que chegou a
atingir 12 pontos no Ibope.
"A TV aberta só exibia programa para criança de manhã, e
sempre no universo das loiras",
lembra ela.
Após sair da emissora pública paulista, ela passou por Discovery Kids e Disney Fox Kids
Brasil. Em 2003, voltou ao sistema público, como presidente
da TVE, de onde saiu em 2008.
Na entrevista a seguir, Carmona discute os rumos da programação infantil no Brasil.
FOLHA - Depois de 15 anos, o que
mudou na programação infantil?
BETH CARMONA - Hoje, a TV por
assinatura existe e oferece 24
horas de programação infantil.
Esses canais, além de produzir,
passaram a comprar programas. O que eu noto é um desinteresse, ou até uma desistência,
da TV aberta de trabalhar com
crianças. Até pouco tempo, a
Globo fez o "Sítio do Pica-Pau
Amarelo", mas parou. Record,
SBT e RedeTV! desenterram os
desenhos japoneses e o "Pica-Pau". Sobraram somente as
TVs públicas.
FOLHA - Mas sobrou pouco, não?
CARMONA - A Cultura viveu daqueles programas e pouco se
renovou. A dispersão de gente,
a rotatividade das direções, comum nas TVs públicas em geral, é um problema. Mas o "Cocoricó" continuou e cresceu.
FOLHA - Por que o desinteresse da
TV aberta?
CARMONA - Fazer produto infantil original custa muito caro.
Fazer novela também, mas tem
anunciante. As áreas comerciais sabem que o mercado de
produto infantil é difícil.
FOLHA - Por quê?
CARMONA - A publicidade nos
programas infantis está em xeque. Cada vez mais se fala em
alimentação saudável, consumo consciente. Várias ONGs
têm se mobilizado em torno
dessas questões. A sociedade
deixou de aceitar certas coisas e
a publicidade está retraída. Os
anunciantes não querem aparecer como vilões. Por outro lado, sem anunciantes, como se
paga a programação infantil?
FOLHA - Em alguns países europeus, a publicidade infantil não é
permitida e, ainda assim, há programas no ar.
CARMONA - A maioria dos países têm restrições, mas poucos
têm proibição total. Mas nesses
lugares o Estado paga a conta.
Nos Estados Unidos, por outro
lado, pode tudo. Aqui, alguns
institutos defendem que a publicidade seja banida dos programas para crianças. Mas,
num país como o Brasil, é preciso tomar cuidado com esse radicalismo. Se não houver programas infantis, as crianças verão programas adultos. Como
já fazem, aliás.
Folha - Qual a saída?
CARMONA - Há os apoios culturais, como os da TV Cultura, e
também começam a surgir outros formatos, com empresas
bancando programas inteiros,
pensando também na responsabilidade social.
FOLHA - Mas, se a gente pensar
que só 5% da população brasileira
tem TV a cabo e que as pessoas passam, em média, cinco horas em
frente à TV, esse dado é preocupante, não?
CARMONA - Essa é minha bandeira, e o único espaço onde
acho que conseguimos fazer
um trabalho bacana foi na TV
pública. Tenho visto pesquisas
que mostram que os pré-adolescentes e adolescentes estão
cada vez mais longe da TV. A
TV não conseguiu responder a
eles de maneira satisfatória.
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