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Livro compila "argentinismos"
Feito sob cuidados do presidente da Academia Argentina de Letras, dicionário reúne 11 mil verbetes
Lançamento integra série de eventos que comemoram o bicentenário da revolução que abriu caminho para a independência argentina
DENISE MOTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Terror dos tradutores e tempero indispensável das conversas cotidianas no outro lado da
fronteira, as gírias e expressões
populares da Argentina passarão a engrossar as bibliotecas
de Buenos Aires.
Estarão compiladas em volume com 11 mil verbetes, o "Diccionario del Habla de los Argentinos", a ser lançado em
abril pela Academia Argentina
de Letras e a editora Emecé.
O dicionário recupera maneiras de falar utilizadas no século 19 e já desaparecidas. E
componentes do léxico vizinho
nascidos há não mais de uma
década que, por sua atualidade
e recorrência, terminam por
ajudar a compor um raio-x da
oralidade argentina de hoje.
O volume resgata ainda expressões que se vinculam diretamente a períodos cruciais da
história dos argentinos, caso de
"cabecitas negras" -usada por
Eva Perón para se referir afetivamente à massa trabalhadora.
Ou "la mano de Dios", imediatamente associada ao gol de
mão que Maradona marcou
contra a seleção inglesa em
1986, mas que tem origem bíblica e significados que transcendem o universo do futebol.
O lançamento do título é apenas um entre a série de eventos
de ordem cultural que terão lugar no país vizinho por conta da
comemoração do bicentenário
da revolução que abriu caminho para a independência argentina, efeméride que se celebra em 25 de maio de 2010.
"Ser un churro"
"O dicionário é uma homenagem à criatividade do povo
argentino no que diz respeito
ao uso da língua comum, o espanhol. Prova que não temos
sido maus administradores
dessa fortuna: a aumentamos",
diz Pedro Luis Barcia, presidente da Academia Argentina
de Letras e mentor do volume.
Apesar de muitas expressões
serem utilizadas também na
Espanha, o dicionário foi pautado pela busca de conteúdo
"contrastivo", como explica
Barcia -ou seja, de termos que
representassem significados
propriamente argentinos ou,
no máximo, compartilhados
regionalmente, especialmente
com o Uruguai e o Paraguai.
Assim, "ser un churro", que
na Espanha corresponde a "ser
uma casualidade", em todo o
Rio da Prata significa "ser bonito, atraente".
"Há expressões que parecem
de um portenhismo extremo,
mas são usadas nos dois lados
do Atlântico", aponta. "São os
casos de "de mala leche" (pessoa
ruim), "estar hecho puré" (estar
esgotado ou triste), "ponerse las
pilas" (animar-se a fazer algo) e
"pasarla bomba" (divertir-se)."
Modismos, frases feitas e expressões idiomáticas se fazem
acompanhar por indicações de
sua função gramatical, do nível
de uso (se são coloquiais, vulgares ou jargões), sua conotação
(humorística, depreciativa etc.)
e de comentários sobre as origens do termo, o contexto histórico em que surgiram e
exemplos de uso.
A obra não contém provérbios, que serão tema, segundo
conta o presidente da academia, de um volume a ser lançado futuramente.
"Ser un fanfurriña"
Outro critério utilizado por
Barcia foi eternizar frases que
tivessem um mínimo de longevidade definido em pelo menos
cinco anos. "Os âmbitos com
presença mais caudalosa de
termos são o sexual, o esportivo, o rural e o de turfe."
De acordo com o autor, trata-se do primeiro dicionário exclusivamente fraseológico da
fala argentina. Outros volumes
latino-americanos de naturezas semelhantes existem no
Uruguai, na Colômbia, em
Honduras e na Nicarágua.
"Mas o nosso traz expressões
muito antigas, do século 19, e
que desapareceram, como "tomar un chino" (irritar-se) ou
"ser un fanfurriña", oriunda do
português do Brasil e que significa ser um covarde com pretensões de valente. Também
apresenta termos bicentenários: "donde el diablo perdió el
poncho" (algo como onde o diabo perdeu as botas), "andar de
capa caída" (andar cabisbaixo),
"armar quilombo" (armar confusão) e outros que são recentes, mas já saíram de uso."
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