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DÉCIO DE ALMEIDA PRADO
Diabético, crítico morreu em sua casa, em SP
da Reportagem Local
O crítico de teatro e ensaísta Décio de Almeida Prado morreu anteontem, por volta das 22h30, em
sua casa no bairro do Pacaembu
(zona noroeste de São Paulo),
provavelmente em razão de uma
parada cardíaca. Almeida Prado
tinha 82 anos. A cerimônia de cremação ocorreu ontem, às 15h, no
crematório municipal de Vila Alpina (zona sudeste).
Ao velório, no cemitério São
Paulo, em Pinheiros (zona sudoeste), compareceram intelectuais e personalidades do teatro,
como o crítico teatral Sábato Magaldi, as dramaturgas Consuelo
de Castro e Maria Adelaide Amaral e os professores de literatura
Davi Arrigucci, Vilma Arêas e
Modesto Carone.
Considerado o maior crítico
teatral brasileiro, sofria de diabetes e, desde dezembro, apresentava problemas cardiorrespiratórios. Segundo o empresário Rodrigo de Almeida Prado, 51, seu filho, ele passou mal anteontem à
tarde e morreu à noite.
O autor de "Apresentação do
Teatro Brasileiro Moderno"
(1956), entre outros livros, passou
o mês de janeiro em seu sítio em
Hortolândia, interior de SP, onde,
segundo familiares, esperava se
recuperar. Mas, na última semana
de janeiro, o crítico voltou a sentir
falta de ar e foi tratado em um
hospital de São Joaquim da Barra.
Almeida Prado voltou a São
Paulo no último dia 29, procurou
um médico e tomou medicamentos -não chegou a ser internado.
"Ele estava fraco, mas sob controle", afirmou o genro Aluizio Sampaio. Viúvo de Ruth de Almeida
Prado, o ensaísta deixou os filhos
Rodrigo e Silvia de Almeida Prado Sampaio, 52, mais seis netos.
Almeida Prado nasceu em São
Paulo em 14 de agosto de 1917.
Formou-se em ciências sociais e
filosofia e era também bacharel
em direito pela Universidade de
São Paulo (USP), onde, em 1968,
criou a cadeira de teatro brasileiro
na Faculdade de Filosofia, Ciências Sociais e Letras, da qual foi titular. Foi ator e diretor de teatro.
Em 1941, Almeida Prado passou
a colaborar com a revista "Clima", fundada por Alfredo Mesquita e Lourival Gomes Machado,
estreando como crítico teatral.
Ao lado de Antonio Candido,
seu melhor amigo, e de Paulo
Emílio Salles Gomes, Almeida
Prado formou a chamada "geração "Clima"". Almeida Prado,
Candido e Salles Gomes são tidos
como os principais teóricos contemporâneos brasileiros em teatro, literatura e cinema.
"Não posso falar nada. Preciso
controlar a emoção", disse Candido, durante o velório. "O Lourival
foi o primeiro a furar a fila. Depois, o Paulo Emílio. Agora foi o
Décio", comentava ele com o bibliófilo José Mindlin, enquanto
assinava o livro de condolências.
A partir de 1946, Almeida Prado
passou a trabalhar no jornal "O
Estado de S. Paulo". Em 1968, deixou a crítica teatral. Naquele ano,
artistas decidiram em assembléia
devolver ao jornal o Prêmio Saci,
pelo qual o crítico era responsável. Os artistas reagiram a um editorial de "O Estado de S. Paulo"
que afirmava que os abusos do
teatro justificavam a censura.
São-paulino, Almeida Prado era
um fanático por futebol, sobre o
qual escreveu "Seres, Coisas, Lugares: do Teatro ao Futebol".
Segundo Consuelo de Castro,
Almeida Prado estava escrevendo
um artigo sobre as personagens
femininas da ópera.
"Ele estava muito lúcido", disse
no velório a jornalista Maria Helena Amaral. Diretora de TV, Maria Helena gravou, nos últimos
dois meses, como projeto pessoal,
seis horas de depoimentos de Almeida Prado, com as presenças
de Antonio Candido e Paulo Autran. Ela ainda busca patrocínio
para editar o material.
(DANIEL CASTRO e CASSIANO ELEK MACHADO)
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