São Paulo, #!L#Sábado, 05 de Fevereiro de 2000


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DÉCIO DE ALMEIDA PRADO
Diabético, crítico morreu em sua casa, em SP

da Reportagem Local

O crítico de teatro e ensaísta Décio de Almeida Prado morreu anteontem, por volta das 22h30, em sua casa no bairro do Pacaembu (zona noroeste de São Paulo), provavelmente em razão de uma parada cardíaca. Almeida Prado tinha 82 anos. A cerimônia de cremação ocorreu ontem, às 15h, no crematório municipal de Vila Alpina (zona sudeste).
Ao velório, no cemitério São Paulo, em Pinheiros (zona sudoeste), compareceram intelectuais e personalidades do teatro, como o crítico teatral Sábato Magaldi, as dramaturgas Consuelo de Castro e Maria Adelaide Amaral e os professores de literatura Davi Arrigucci, Vilma Arêas e Modesto Carone.
Considerado o maior crítico teatral brasileiro, sofria de diabetes e, desde dezembro, apresentava problemas cardiorrespiratórios. Segundo o empresário Rodrigo de Almeida Prado, 51, seu filho, ele passou mal anteontem à tarde e morreu à noite.
O autor de "Apresentação do Teatro Brasileiro Moderno" (1956), entre outros livros, passou o mês de janeiro em seu sítio em Hortolândia, interior de SP, onde, segundo familiares, esperava se recuperar. Mas, na última semana de janeiro, o crítico voltou a sentir falta de ar e foi tratado em um hospital de São Joaquim da Barra.
Almeida Prado voltou a São Paulo no último dia 29, procurou um médico e tomou medicamentos -não chegou a ser internado. "Ele estava fraco, mas sob controle", afirmou o genro Aluizio Sampaio. Viúvo de Ruth de Almeida Prado, o ensaísta deixou os filhos Rodrigo e Silvia de Almeida Prado Sampaio, 52, mais seis netos.
Almeida Prado nasceu em São Paulo em 14 de agosto de 1917. Formou-se em ciências sociais e filosofia e era também bacharel em direito pela Universidade de São Paulo (USP), onde, em 1968, criou a cadeira de teatro brasileiro na Faculdade de Filosofia, Ciências Sociais e Letras, da qual foi titular. Foi ator e diretor de teatro.
Em 1941, Almeida Prado passou a colaborar com a revista "Clima", fundada por Alfredo Mesquita e Lourival Gomes Machado, estreando como crítico teatral.
Ao lado de Antonio Candido, seu melhor amigo, e de Paulo Emílio Salles Gomes, Almeida Prado formou a chamada "geração "Clima"". Almeida Prado, Candido e Salles Gomes são tidos como os principais teóricos contemporâneos brasileiros em teatro, literatura e cinema.
"Não posso falar nada. Preciso controlar a emoção", disse Candido, durante o velório. "O Lourival foi o primeiro a furar a fila. Depois, o Paulo Emílio. Agora foi o Décio", comentava ele com o bibliófilo José Mindlin, enquanto assinava o livro de condolências.
A partir de 1946, Almeida Prado passou a trabalhar no jornal "O Estado de S. Paulo". Em 1968, deixou a crítica teatral. Naquele ano, artistas decidiram em assembléia devolver ao jornal o Prêmio Saci, pelo qual o crítico era responsável. Os artistas reagiram a um editorial de "O Estado de S. Paulo" que afirmava que os abusos do teatro justificavam a censura.
São-paulino, Almeida Prado era um fanático por futebol, sobre o qual escreveu "Seres, Coisas, Lugares: do Teatro ao Futebol".
Segundo Consuelo de Castro, Almeida Prado estava escrevendo um artigo sobre as personagens femininas da ópera.
"Ele estava muito lúcido", disse no velório a jornalista Maria Helena Amaral. Diretora de TV, Maria Helena gravou, nos últimos dois meses, como projeto pessoal, seis horas de depoimentos de Almeida Prado, com as presenças de Antonio Candido e Paulo Autran. Ela ainda busca patrocínio para editar o material.
(DANIEL CASTRO e CASSIANO ELEK MACHADO)


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