São Paulo, #!L#Sábado, 05 de Fevereiro de 2000


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LIVRO LANÇAMENTO
O que escreviam as mulheres do Brasil

MARILENE FELINTO
da Equipe de Articulistas


Que mulheres, antes de Rachel de Queiroz (1910) ou Cecília Meireles (1901-1964), teriam escrito literatura no Brasil? Por acaso existiram escritoras e poetas antes dessas? Quem foram? O que pensavam?
O quase deserto de informações sobre a produção literária feminina anterior ao século 20 diminui agora com o lançamento da excelente antologia "Escritoras Brasileiras do Século 19", organizada por Zahidé Lupinacci Muzart.
E as brasileiras do século 19 -algumas delas nascidas ainda no século 18- não só escreviam como, em muitos casos, eram autoras de uma prosa e de uma poesia talentosa, ousada na forma e no conteúdo, capazes de derrubar o machismo e as estreitas barreiras do tipo de educação que recebiam as meninas daquele tempo: "Leitura, com objetivo religioso, bordado, piano e, para algumas, o ensino do francês, língua da sociedade!" (Zahidé Muzart).
São 52 autoras, do Maranhão ao Rio Grande do Sul, introduzidas por biografia, ensaio crítico da obra e bibliografia. Uma pequena, mas representativa, amostragem de trechos da prosa literária e jornalística, do ensaio, das memórias e da poesia das mesmas distingue essa antologia dos poucos similares já publicados.
Comecemos com o caso incrível de Maria Firmina dos Reis, nascida em São Luís (MA), em 1825, mulata e bastarda. Enfrentou todas as barreiras do preconceito e publicou, em 1859, o romance "Úrsula", considerado nosso primeiro romance abolicionista e um dos primeiros escritos por mulher brasileira. Em 1887, Firmina escreveu o conto "A Escrava". Foi também professora de primeiras letras, colaboradora de jornais literários e fundadora de uma escola gratuita e mista, para meninos e meninas, que causou escândalo em Maçaricó, em 1880.
Na poesia, o nome da baiana Adélia Fonseca (1827) é uma (re)descoberta mais do que surpreendente. Seu verso, "marcado pela economia, excluindo dele qualquer exagero sentimental" e de influência camoniana, recebeu elogios de Machado de Assis.
Outro nome digno de destaque é o da gaúcha Maria Benedita Câmara Bormann (1853), que usava o pseudônimo de Délia. De espírito rebelde, idéias próprias e estilo potente, ela se rebela contra o casamento e advoga a idéia de educação sexual para os jovens já naquela época. Publicou, em 1890, um romance chamado "Lésbia", definido por Norma Telles como seu livro mais importante, um verdadeiro "künstlerroman" (romance de artista).
Esta antologia é o resultado de um projeto de pesquisa realizado por 16 pesquisadoras da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB), com apoio do CNPq.
Juntas, elas escreveram mais de 900 páginas, num trabalho braçal para tirar do esquecimento o nome de escritoras que todo um século de machismo enterrou.


Avaliação:    


Livro: Escritoras Brasileiras do Século 19
Organização: Zahidé Lupinacci Muzart
Editora: Mulheres/Edunisc (tel. 0/xx/48/ 233-2164; em SP, 0/xx/11/ 889-7388)
Quanto: R$ 60 (908 págs.)

E-mail:foradaqui@uol.com.br


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