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HISTÓRIA
Livro acima das modas
MARCELO PEN
especial para a Folha
A julgarmos pelo
sucesso dos livros
de Eduardo Bueno,
há muitas semanas
nas listas dos mais
vendidos, a história
está na moda.
Embalada pelos festejos relacionados ao descobrimento e impulsionada pela onda de biografias e
romances históricos, a disciplina
granjeia novos admiradores e recebe uma saudável injeção de capital das editoras.
Isso, em parte, explica a edição
ilustrada, enriquecida de vários
mapas antigos coloridos, de "História de um País Inexistente - O
Pantanal entre os Séculos 16 e 18",
da professora mato-grossense
Maria de Fátima Costa.
Costa procura contar a história
da maior área alagada do mundo,
descoberta pelos espanhóis e posteriormente batizada pelos portugueses de Pantanal.
Partindo dos relatos de exploradores e colonizadores, ela descortina uma paisagem paradisíaca e
intrigante, ao mesmo tempo
ameaçadora, rica e evanescente.
Em vez de se preocupar com as
verdades históricas, Costa se concentra em examinar os relatos dos
conquistadores. Capta, assim, a
imagem que os europeus faziam
da região do Alto Rio Paraguai e
de seus habitantes autóctones, até
que a delimitação das fronteiras
sufocasse o mito.
Essa imagem incorpora "seres
maravilhosos, paraísos encantados e cidades fabulosas". Abrange
os índios xarayes e guaikurús, os
senhores daquelas terras. Abriga
a mística das copiosas jazidas de
ouro e prata, que, de fato, encontravam-se mais além, no Peru.
Encerra "notícias" de batalhas,
mortes, antropofagia indígena e
cristã, traições e atos de heroísmo.
Ou tanto por seu conteúdo como por sua forma, os relatos se
assemelham "ao tom dramático
dos viajantes medievais".
Nos depoimentos, a região surge como a "fabulosa Laguna de
los Xarayes". Esse espaço sujeito
"ao ritmo das águas" cria uma
"paisagem migratória, uma geografia mutável", que aguça a imaginação. Depois de dois séculos, a
imagem castelhana da Lagoa será
eclipsada pela do Pantanal, "uma
invenção luso-brasileira".
Trata-se de uma obra de fôlego,
que recorre a inúmeras fontes
manuscritas, impressas e cartográficas, algumas bastante raras.
O cotejo é rigoroso; as análises,
precisas; o conjunto, empolgante.
Costa sabe conduzir suas informações de um modo saboroso e
articulado, que envolve o leitor.
Numa mescla de erudição, prosa límpida e estilo envolvente, a
autora realiza uma formidável
cartografia do mito de uma terra
imponderável, ainda mais visitada que habitada, mais sonhada
que vivida. O resultado é um livro
acima das modas.
Avaliação:
Livro: História de um País Inexistente - O
Pantanal entre os Séculos 16 e 18
Autor: Maria de Fátima Costa
Editora: Estação Liberdade / Kosmos
Quanto: R$ 34 (280 págs.)
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