Conhecido por suspenses jurídicos como "Acima de Qualquer Suspeita", Scott Turow questiona o métier em "Os Limites da Lei'

Lançado originalmente em 16 capítulos no "New York Times", romance ganhou personagem e trechos inéditos, antes descartados Turow lança romance no Brasil

EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

Considerado um dos mais bem-sucedidos autores do gênero "thriller jurídico", Scott Turow volta às prateleiras brasileiras com "Os Limites da Lei", romance em que questiona justamente o métier de seus personagens.
Dois deles são recorrentes: Rusty Sabich, de "Acima de Qualquer Suspeita" -vivido no cinema por Harrison Ford na adaptação de 1990-, e George Mason, de "Ofensas Pessoais". Antes advogado criminalista, Mason agora é juiz. E, no tribunal, vê-se diante de um caso de abuso sexual.
Às voltas com a recém-diagnosticada doença da mulher, e recebendo ameaças anônimas por e-mail, Mason encontra dificuldade para determinar sua sentença.
Em entrevista à Folha, Turow conta que, passados dez anos, Mason mantém sua ambição por tornar-se um modelo do "perfeito homem da lei", mas está pouco à vontade com suas próprias limitações.
"Os processos supostamente objetivos e neutros da lei na verdade operam sob limitações humanas", diz Turow, referindo-se ao seu protagonista. "E a subjetividade, os elementos pessoais, sempre acabam se intrometendo."

Série
"Os Limites da Lei" foi lançado originalmente em série, no jornal "The New York Times". Turow disse que achou fácil o processo de serialização: primeiro escreveu a história toda, releu para determinar como dividir os 16 capítulos impressos pelo jornal. Para condensá-lo num único volume, Turow eliminou os ganchos que havia posto em cada final de capítulo.
"Uma vez que eu estava livre desta restrição artificial [dos ganchos], acrescentei boa parte do material que eu havia cortado antes e até coloquei um novo personagem, cuja presença aumentou o suspense. Também deixei os capítulos terminarem mais naturalmente", conta o escritor.

Gênero
Com mais de 20 anos de carreira, Turow defende que a popularidade do gênero "thriller jurídico" se deve ao fato de ele, de certa forma, educar "uma população que é profundamente curiosa e desconfiada de uma instituição que tem um papel tão importante em suas vidas".
Amigo e eleitor do pré-candidato democrata à Presidência dos Estados Unidos, Barack Obama, Turow não acredita que temas literários da moda como "terrorismo" e "multiculturalismo" estejam esvaziando o leitorado de seu livros. "Não se pode ter a expectativa de ficar no auge do interesse público para sempre. Mas ainda existe um público substancial para meu trabalho e romances sobre leis em geral."
Turow acredita que seu leitor, sobretudo o norte-americano, tem cada vez mais conhecimento jurídico, e o seu "fardo" de explicar os meandros das leis em um romance tem diminuído.
Sua experiência como advogado continua fornecendo a matéria-prima de seus enredos. Mas a inspiração, diz ele, vem do "estímulo diário da vida, dos conflitos e guerras do coração e da mente." O resultado, espera ele, deve ir além do simples entretenimento.
"Espero jogar uma luz tanto sobre a nobreza da missão das leis, de tornar mais razoável a pequena porção da vida que os homens podem controlar, e sua inevitável falibilidade."