São Paulo, terça-feira, 05 de fevereiro de 2008

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Traço mais livre de Debret é destaque de catálogo

Julio Bandeira e Pedro Corrêa do Lago assinam edição

MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um Debret de traços mais livres, que se afasta do neoclássico em desenhos feitos para montagens teatrais, é uma das preciosidades revistas em "Debret e o Brasil - Obra Completa, 1816-1831", catálogo raisonée sobre o artista, assinado por Julio Bandeira e Pedro Corrêa do Lago.
"Fazer um catálogo desse tipo é um trabalho de peso. E era preciso separar o joio do trigo no caso do Debret", diz Corrêa do Lago, editor, bibliófilo e ex-diretor da Biblioteca Nacional. Jean-Baptiste Debret (1768-1848) foi um dos principais artistas da Missão Artística Francesa, que aportou no Brasil em 1816. Permaneceu aqui até 1831, quando retornou a Paris, tendo elaborado o que é considerada sua grande obra, "Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil", dividida em três volumes e publicada entre 1834 e 1839, na França.
O conjunto tornou-se famoso na Europa por retratar os tipos brasileiros, em mais de 220 litografias de temáticas diversas, retratando de cenas oficiais da realeza no Brasil a prosaicos utensílios indígenas.
No entanto, tanto nesses volumes como em diversas outras fases de sua produção, o artista se destacará em documentar o cotidiano da população brasileira da época. "Debret foi fundamental por construir uma iconografia do brasileiro, por meio de sua pintura de rua, com uma variedade de tipos humanos e seus costumes", afirma Corrêa do Lago.
O autor, no entanto, acredita que o catálogo que compila a obra completa de Debret é importante não apenas por fixar tal conceito, mas por trazer novos trabalhos que ajudam a compor uma nova leitura na obra do artista francês.
"A produção feita para teatro, por exemplo, é muito interessante por revelar um traço livre do artista, que abandona completamente o neoclássico nesses trabalhos. As seis pinturas a óleo descobertas no ano passado também acrescentam novos dados para estudo", avalia Corrêa do Lago.
Em 1816, Debret é nomeado cenógrafo do Real Teatro São João, no Rio, destruído em 1824 por um incêndio. Para o espaço, o artista criou cenários, vestimentas e panos de boca, muitos deles perdidos. "Certamente esses trabalhos o encantaram, têm um traço mais livre", diz Corrêa do Lago.
Entre as outras raridades do catálogo, há uma natureza-morta (que está em um museu em Dijon, França) e paisagens pouco exibidas da cidade de São Paulo, a maioria pertencente a coleções particulares.
Corrêa do Lago também destaca as aquarelas preparatórias de "Viagens Pitorescas...". "São muito bem acabadas, diferentes de obras similares de outros artistas-viajantes."

Erros
Um comitê, formado pelos dois autores e por Claudine Lebrun Jouve, Jean Boghici, João Hermes Pereira de Araújo e Zuzana Paternostro, certificou as cerca de mil obras presentes no livro. O grupo avaliou como "atribuição equivocada" uma tela famosa, "Índios Atravessando um Riacho (O Caçador de Escravos)", pertencente ao Masp. No acervo dos Museus Castro Maya, 42 gravuras foram qualificadas como falsas.
"Acredito que o catálogo tenha ressonância no exterior, destacando a figura de Debret, hoje muito ofuscada na França por David e Taunay", diz Corrêa do Lago.


DEBRET E O BRASIL - OBRA COMPLETA, 1816-1831
Autores:
Julio Bandeira e Pedro Corrêa do Lago
Editora: Capivara
Quanto: R$ 195 (708 págs.)


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