|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Traço mais livre de Debret
é destaque de catálogo
Julio Bandeira e Pedro Corrêa do Lago assinam edição
MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Um Debret de traços mais livres, que se afasta do neoclássico em desenhos feitos para
montagens teatrais, é uma das
preciosidades revistas em "Debret e o Brasil - Obra Completa,
1816-1831", catálogo raisonée
sobre o artista, assinado por
Julio Bandeira e Pedro Corrêa
do Lago.
"Fazer um catálogo desse tipo é um trabalho de peso. E era
preciso separar o joio do trigo
no caso do Debret", diz Corrêa
do Lago, editor, bibliófilo e ex-diretor da Biblioteca Nacional.
Jean-Baptiste Debret (1768-1848) foi um dos principais artistas da Missão Artística Francesa, que aportou no Brasil em
1816. Permaneceu aqui até
1831, quando retornou a Paris,
tendo elaborado o que é considerada sua grande obra, "Viagem Pitoresca e Histórica ao
Brasil", dividida em três volumes e publicada entre 1834 e
1839, na França.
O conjunto tornou-se famoso na Europa por retratar os tipos brasileiros, em mais de 220
litografias de temáticas diversas, retratando de cenas oficiais
da realeza no Brasil a prosaicos
utensílios indígenas.
No entanto, tanto nesses volumes como em diversas outras
fases de sua produção, o artista
se destacará em documentar o
cotidiano da população brasileira da época. "Debret foi fundamental por construir uma
iconografia do brasileiro, por
meio de sua pintura de rua,
com uma variedade de tipos
humanos e seus costumes",
afirma Corrêa do Lago.
O autor, no entanto, acredita
que o catálogo que compila a
obra completa de Debret é importante não apenas por fixar
tal conceito, mas por trazer novos trabalhos que ajudam a
compor uma nova leitura na
obra do artista francês.
"A produção feita para teatro, por exemplo, é muito interessante por revelar um traço
livre do artista, que abandona
completamente o neoclássico
nesses trabalhos. As seis pinturas a óleo descobertas no ano
passado também acrescentam
novos dados para estudo", avalia Corrêa do Lago.
Em 1816, Debret é nomeado
cenógrafo do Real Teatro São
João, no Rio, destruído em
1824 por um incêndio. Para o
espaço, o artista criou cenários,
vestimentas e panos de boca,
muitos deles perdidos. "Certamente esses trabalhos o encantaram, têm um traço mais livre", diz Corrêa do Lago.
Entre as outras raridades do
catálogo, há uma natureza-morta (que está em um museu
em Dijon, França) e paisagens
pouco exibidas da cidade de São
Paulo, a maioria pertencente a
coleções particulares.
Corrêa do Lago também destaca as aquarelas preparatórias
de "Viagens Pitorescas...". "São
muito bem acabadas, diferentes de obras similares de outros
artistas-viajantes."
Erros
Um comitê, formado pelos
dois autores e por Claudine Lebrun Jouve, Jean Boghici, João
Hermes Pereira de Araújo e
Zuzana Paternostro, certificou
as cerca de mil obras presentes
no livro. O grupo avaliou como
"atribuição equivocada" uma
tela famosa, "Índios Atravessando um Riacho (O Caçador
de Escravos)", pertencente ao
Masp. No acervo dos Museus
Castro Maya, 42 gravuras foram qualificadas como falsas.
"Acredito que o catálogo tenha ressonância no exterior,
destacando a figura de Debret,
hoje muito ofuscada na França
por David e Taunay", diz Corrêa do Lago.
DEBRET E O BRASIL - OBRA
COMPLETA, 1816-1831
Autores: Julio Bandeira e Pedro Corrêa
do Lago
Editora: Capivara
Quanto: R$ 195 (708 págs.)
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Artista ganha livro juvenil neste mês Índice
|