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"Humor prolonga a vida", diz palestino
Cineasta Elia Suleiman faz filme sobre família em território ocupado por Israel
Em "O que Resta do Tempo", diretor tece a trama a partir de 1948, ano da criação do Estado de Israel, até os dias de hoje
SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES
Por sua origem palestina, o
cineasta Elia Suleiman ("Intervenção Divina") é frequentemente indagado sobre como
"luta" com a realidade.
Ocorre que lutar não é um
verbo que Suleiman empregue
para descrever sua relação com
a realidade conflituosa da disputa árabe-israelense.
"Prefiro tolerar, resistir, evadir", disse o diretor à Folha e a
jornalistas estrangeiros, após a
exibição de "O que Resta do
Tempo", no Festival de Cannes, em maio passado.
O filme, que estreia hoje, é
um relato em primeira pessoa
sobre uma família palestina em
território ocupado por Israel.
Mais uma vez, ele atua, exercendo um jogo cênico que lhe
rende comparações com Jacques Tati e Buster Keaton. Há
muito humor na atuação, mas
um humor tristíssimo, cuja finalidade ele aborda entre os
trechos da entrevista, a seguir.
VIOLÊNCIA
É difícil. O problema é tentar
manter certa elasticidade em
face da intolerância. Não sou
um padre. Também não sou um
macaco, mas não estou longe da
fé num certo sentido espiritual.
Quer dizer que tentei trabalhar
certas coisas em mim.
Com o tempo, você desenvolve sua maneira de lidar com
certos temas -escrever, amar,
cozinhar. São maneiras que você aprende para afastar a agressividade dirigida a você.
HUMOR NEGRO
Há um tipo de humor negro
que alarga o seu tempo de vida,
num certo sentido, porque o
tempo não é algo que se guie
pelo relógio. Quando você ri de
você mesmo, você vive um momento que não pode ser medido. Isso vale para o humor dos
guetos. Acho que o humor é
sempre uma combinação do
que você é com as circunstâncias em que você vive.
ATUAR
Atuar pode ser um prazer. É
um outro tipo de "momentum"
espiritual em que você se revela
e pode ser muito interessante.
O tipo de atuação que eu faço,
que se esvazia de toda psicologia, para se fixar na tela sem ter
nenhuma expressão, não é a
coisa mais fácil do mundo.
Exige que você tire tudo de
dentro de você para fora, de tal
forma que você se transforma
numa espécie de transparência. Isso requer muita solidão
no set, o que não é fácil conseguir.
O SENTIDO DO FILME
O que quis dizer com tudo isso é que, passados 60 anos, ainda estamos lidando com uma
ocupação histórica. Israel queria ocupar todas aquelas áreas
há muito tempo, desde 1948.
A CARREIRA
Quando tinha uns 15 anos,
comecei a fugir da escola e
menti para umas pessoas, dizendo que estudava cinema. De
alguma forma, essa mentira se
tornou verdade.
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