São Paulo, sexta-feira, 05 de fevereiro de 2010

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"Humor prolonga a vida", diz palestino

Cineasta Elia Suleiman faz filme sobre família em território ocupado por Israel

Em "O que Resta do Tempo", diretor tece a trama a partir de 1948, ano da criação do Estado de Israel, até os dias de hoje

SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES

Por sua origem palestina, o cineasta Elia Suleiman ("Intervenção Divina") é frequentemente indagado sobre como "luta" com a realidade.
Ocorre que lutar não é um verbo que Suleiman empregue para descrever sua relação com a realidade conflituosa da disputa árabe-israelense.
"Prefiro tolerar, resistir, evadir", disse o diretor à Folha e a jornalistas estrangeiros, após a exibição de "O que Resta do Tempo", no Festival de Cannes, em maio passado. O filme, que estreia hoje, é um relato em primeira pessoa sobre uma família palestina em território ocupado por Israel.
Mais uma vez, ele atua, exercendo um jogo cênico que lhe rende comparações com Jacques Tati e Buster Keaton. Há muito humor na atuação, mas um humor tristíssimo, cuja finalidade ele aborda entre os trechos da entrevista, a seguir.

 


VIOLÊNCIA
É difícil. O problema é tentar manter certa elasticidade em face da intolerância. Não sou um padre. Também não sou um macaco, mas não estou longe da fé num certo sentido espiritual. Quer dizer que tentei trabalhar certas coisas em mim. Com o tempo, você desenvolve sua maneira de lidar com certos temas -escrever, amar, cozinhar. São maneiras que você aprende para afastar a agressividade dirigida a você.

HUMOR NEGRO
Há um tipo de humor negro que alarga o seu tempo de vida, num certo sentido, porque o tempo não é algo que se guie pelo relógio. Quando você ri de você mesmo, você vive um momento que não pode ser medido. Isso vale para o humor dos guetos. Acho que o humor é sempre uma combinação do que você é com as circunstâncias em que você vive.

ATUAR
Atuar pode ser um prazer. É um outro tipo de "momentum" espiritual em que você se revela e pode ser muito interessante. O tipo de atuação que eu faço, que se esvazia de toda psicologia, para se fixar na tela sem ter nenhuma expressão, não é a coisa mais fácil do mundo. Exige que você tire tudo de dentro de você para fora, de tal forma que você se transforma numa espécie de transparência. Isso requer muita solidão no set, o que não é fácil conseguir.

O SENTIDO DO FILME
O que quis dizer com tudo isso é que, passados 60 anos, ainda estamos lidando com uma ocupação histórica. Israel queria ocupar todas aquelas áreas há muito tempo, desde 1948.

A CARREIRA
Quando tinha uns 15 anos, comecei a fugir da escola e menti para umas pessoas, dizendo que estudava cinema. De alguma forma, essa mentira se tornou verdade.


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