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Torre em Dubai simboliza fim da extravagância
Arquitetura da próxima década declara fim dos excessos e retorna às linhas austeras de um modernismo sustentável
Projetos como a filial do Pompidou, de Shigeru Ban, e o Museu Nacional de Artes do Século 21, em Roma, são exemplos do neomodernismo
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL
Tem nome de xeique o último exemplo da era dos excessos na arquitetura. Em meio à
crise econômica, Dubai inaugurou no mês passado o arranha-céu mais alto do mundo, que teve de batizar com o nome do
sultão de Abu Dhabi, que evitou
a bancarrota do projeto.
Agulha que desponta no deserto, o Burj Khalifa tem 828
metros de altura, 192 andares,
57 elevadores, 1.044 apartamentos de luxo, 49 salas comerciais, 160 quartos de hotel,
uma piscina suspensa e até
uma mesquita no 158º andar.
Custou US$ 1,5 bilhão e ainda
não vendeu todos os espaços.
Executivos do emirado que
sucumbiu no colapso econômico estão cruzando os dedos para a coisa deslanchar, mas a torre reluzente, na melhor das
previsões, deve amargar algum
prejuízo. No horizonte poeirento, de canteiros de obras paralisadas, é um símbolo incontestável do fim da arquitetura
extravagante que marcou a primeira década deste século.
"Os tempos do excesso acabaram", afirmou Frank Gehry,
em entrevista recente, ele mesmo um dos maiores representantes do star system dos arquitetos. "É preciso poupar energia e dinheiro. Não sei se isso é
bom ou ruim, mas é o que há."
No caso de Gehry, está mais
para ruim. Seu projeto de mais
uma filial do Guggenheim no
emirado vizinho, Abu Dhabi,
não vai muito bem das pernas e
coleciona ataques dos críticos
antes mesmo de ser concluído.
À sombra da megatorre de
Dubai e do faraonismo das ilhas
artificiais, renasce como tendência um modernismo comedido, um retorno às linhas ortogonais mais austeras, um compromisso com o ambiente, e a
fusão definitiva entre os espaços interno e externo.
Neomodernismo
Projetos em andamento neste ano já trazem na planta essa
reabilitação do modernismo.
Quando veio a São Paulo, Jacques Herzog, da dupla Herzog e
De Meuron, disse que seu Teatro da Dança, megaprojeto na
região da Luz, recicla preceitos
de Lina Bo Bardi e Oscar Niemeyer. Viu nesses arquitetos
um "frescor ainda chocante".
Niemeyer, Le Corbusier,
Mies van der Rohe também estão entre os "heróis" de Ryue
Nishizawa e Kazuyo Sejima,
dupla de japoneses do escritório Sanaa. Além de projetar a filial do Louvre no norte da
França, translúcida, em fusão
com o entorno, são pontas de
lança desse neomodernismo.
Sinal de que é essa a tônica
dos anos 2010, Sejima foi eleita
para presidir a próxima Bienal
de Arquitetura de Veneza.
Elencou entre suas metas a
busca pela arquitetura que consiga se integrar melhor ao espaço circundante, sem sobressaltos e formas mirabolantes.
Shigeru Ban, japonês que
projeta a filial do Pompidou,
também na França, parece seguir essa cartilha. "Queria fazer
um museu aberto ao público,
não uma escultura", disse à Folha sobre o museu que será
inaugurado neste ano. "Será
um grande telhado aberto ao
entorno, um prédio flexível."
Estrela do calibre de Gehry,
Zaha Hadid mostrou que também sabe domar suas formas
arredias. No Museu Nacional
das Artes do Século 21, em Roma, reduziu suas curvas orgânicas e elipses estonteantes a blocos de concreto aparente, numa distribuição que encarna
essa nova onda de austeridade.
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