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Crítica/"Respire"
Cantora ganha quando não soa tão trip hop
EDITOR-ASSISTENTE DA ILUSTRADA
Tudo é muito sombrio no
trip hop. As batidas lentas, o tom claustrofóbico e a voz entoando letras tristes são um equivalente sonoro
ao clima chuvoso e nublado da
Inglaterra, local onde o gênero
surgiu, nos anos 90.
O dilema que Claudia Dorei
enfrenta em "Respire" é semelhante ao das bandas brasileiras que tentavam, nos anos 80,
seguir a onda pós-punk inglesa.
Como fazer uma sonoridade
tão escura soar autêntica num
país de sol e calor?
O principal diferencial são as
letras. Ao contrário das lamúrias de Beth Gibbons (Portishead), de ares fantasmagóricos,
Claudia cria um eu lírico de
mulher de carne e osso, bem-resolvida, que segue adiante
quando o amor não dá certo.
Tanto desprendimento às vezes redunda em letras como a
de "Gentileza" ("Já cansei do
seu mau humor/.../Gentileza
gera gentileza"), que enfatiza
um tom moral, "do bem". Contribui para isso um espírito
quase new age, como as fotos de
praia do encarte.
Musicalmente, "Respire" é
coerente com essa proposta
quase zen, já que usa poucos
elementos. Em vez de bateria,
temos o beatbox do MC Thg,
por exemplo. O saxofone de Gil
Duarte funciona para o bem e
para o mal. Na pesada "Acontece", ele contribui para a faixa
soar como algum rock brasileiro velhusco. Já em "Demorou",
ele fornece a tensão jazzística
que a música pede. Mas quando
não tenta soar tão trip hop, como na animada "Som", Claudia
se sai melhor. É o tal "calor"
brasileiro.
(BRUNO YUTAKA SAITO)
RESPIRE
Artista: Claudia Dorei
Lançamento: independente (contato: elza.cohen@gmail.com)
Quanto: R$ 16,99 (download gratuito em www.spawdin.net/respire-claudiadorei.zip)
Avaliação: bom
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