São Paulo, sábado, 05 de fevereiro de 2011

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Livros

CRÍTICA ROMANCE

Buddhadeva Bose reinventa a rara delicadeza masculina

"Meu Tipo de Garota", do escritor bengali, narra recordações amorosas

NELSON DE OLIVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

O poeta, ficcionista e dramaturgo Buddhadeva Bose (1908-1974) é o autor bengali mais importante do século 20. Ao lado do mítico Tagore (1861-1941), Bose foi um dos renovadores da literatura de seu povo.
Resenhar seu primeiro livro publicado no Brasil não é uma tarefa fácil.
Não porque "Meu Tipo de Garota" seja um romance complexo, cheio de sutilezas e camadas de sentido.
Mas porque é justamente o contrário disso: simples e inocente, sem truques ou malabarismos.
E, despido assim de todo o artifício, o específico literário por pouco não desaparece. O assunto é o amor verdadeiro, entendido como algo que está sempre no lugar onde nós o colocamos. Porém, nunca o colocamos onde nós estamos. Exatamente como a felicidade.
A estrutura é aquela celebrizada no "Decamerão", de Boccaccio (1313-1375): um grupo de desconhecidos se reúne numa situação adversa. Para matar o tempo, cada um é convocado a contar uma história. O descarrilamento de um trem obriga quatro passageiros a passar a noite na sala de espera de uma estação.
Um empresário, um burocrata, um médico e um escritor. "Quatro indivíduos muito diferentes, vindos de diferentes nichos da sociedade", avisa o narrador.
De repente a porta da sala se abre e um jovem casal apaixonado olha para dentro. O rapaz e a garota cochicham algo, fecham a porta e vão embora.
A rápida visão do casal ativa nos quatro protagonistas intensas recordações amorosas. E cada um aceita, então, contar sua história de paixão e perda.

AMOR PLATÔNICO
A tradicional instituição do casamento arranjado -por razões financeiras, quase sempre- administra todos os afetos, sem réplica ou questionamento.
Valores morais e culturais milenares impediram o empreiteiro, o burocrata e o escritor de ficarem com a mulher amada.
Já o médico bonachão ficou com uma mulher, com quem viveu "perfeitamente feliz". Porém, sem saber se de fato a amava.
Bose ganhou popularidade em 1967, quando uma de suas novelas foi censurada pelo governo, que alegou obscenidade.
Erotismo também pode ser conhecimento. Publicado originalmente em 1951, "Meu Tipo de Garota" segue outro caminho e faz da inocência conhecimento.
São homens de meados do século passado conversando sobre mulheres.
Os valores morais são masculinos, o foco narrativo também. Mas a doçura dos relatos, muito feminina, é por isso mesmo cativante.


NELSON DE OLIVEIRA é autor de "Poeira:
Demônios e Maldições" (Língua Geral)


MEU TIPO DE GAROTA
AUTOR Buddhadeva Bose
EDITORA Companhia das Letras
TRADUÇÃO Isa Mara Lando
QUANTO R$ 33 (152 págs.)
AVALIAÇÃO bom


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