São Paulo, quinta, 5 de fevereiro de 1998

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Estrelas da MPB não comparecem ao enterro de Silvio Caldas

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
enviado especial a Atibaia

O cantor e compositor carioca Silvio Caldas foi sepultado ontem às 18h no cemitério Parque das Flores, em Atibaia (65 km ao norte de São Paulo). Ele morreu anteontem, aos 89, de parada cardiorrespiratória em função de uma anemia profunda. Ele sofria de anorexia há cerca de um ano.
Cerca de 1.500 pessoas compareceram ao velório, segundo estimativa da Câmara Municipal da cidade, desde a meia-noite de anteontem até a saída do cortejo às 17h10 de ontem. Estiveram presentes os artistas Francisco Petrônio, Noite Ilustrada, Jair Rodrigues, Wilson Simonal e Claudia Moreno.
Petrônio, Rodrigues e Simonal levaram ao violão uma versão improvisada de "Chão de Estrelas", o maior sucesso de Caldas, composto em 1937 em parceria com Orestes Barbosa. Noite Ilustrada também cantou "Chão de Estrelas", na capela do cemitério.
Cerca de 300 pessoas estiveram presentes ao enterro, de acordo com a Polícia Militar.
Rodrigues definiu Silvio Caldas como um dos artistas que mais o auxiliaram no início de sua carreira. "Quando gravei meu primeiro disco, em 1962, comecei a me aproximar de meus ídolos: Agostinho dos Santos, Ataulfo Alves, Ciro Monteiro e Silvio Caldas. A primeira coisa que ele me perguntou foi: 'Já está guardando seu dinheirinho?'. Fiz o que ele mandou."
A família de Silvio Caldas colocou recentemente à venda o sítio em Atibaia, por não poder pagar uma dívida de R$ 295 mil com a Caixa Econômica Federal.
"Ele era tudo para nós, nosso ídolo e mestre", disse o seresteiro Francisco Petrônio. "Nós procuramos modestamente dar continuidade ao que ele fez, mas com certeza ele foi o maior de todos."
"Ele plantou uma semente de estímulo ao amor à nacionalidade brasileira", proferiu um orador improvisado, o professor campineiro Paulino da Costa, amigo de Silvio Caldas nos últimos 30 anos. Costa saudou a chegada de Simonal, segundo ele "outro porta-voz da nacionalidade e um dos homens mais injustiçados do país".
"Os amigos de Silvio não são pessoas que gostem de fazer oba-oba", disse Simonal, tentando justificar a ausência de estrelas da MPB na despedida a Caldas. "No Brasil não existe desenvolvimento cultural, a cultura jovem supervaloriza o inconsequente." Ele classificou Caldas como uma de suas maiores influências. "Os cantores modernos não cantam mais. Muitos nem gravam discos. Mas o talento não morre."



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