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A REAÇÃO
Judeus aceitam bem a comédia
MARCELO STAROBINAS
especial para a Folha
A recepção calorosa de "A Vida é
Bela" nos meios judaicos é o argumento que Roberto Benigni mais
precisava para enfrentar os que
consideram inconcebível uma comédia sobre o Holocausto.
O prêmio de melhor filme do
Festival de Cinema de Jerusalém
-na categoria intitulada "experiência judaica"- foi a primeira
evidência de que cenas de pastelão
em um campo de concentração
não são vistas como sendo necessariamente de mau gosto pelos sobreviventes da barbárie.
Desde o início, o filme contou
com a aprovação da comunidade
judaica italiana. Benigni -que,
certa vez, lamentou "não ter a honra de ser judeu"- contou com a
ajuda do Centro de Documentação
Hebraica Contemporânea de seu
país nas pesquisas históricas.
No Brasil, dois sobreviventes da
Segunda Guerra que assistiram à
pré-estréia elogiaram a obra.
"Apesar de o tema ser sério e pesado, o filme não deixa de ser divertido do início ao fim", disse o escritor Ben Abraham, 74, vice-presidente da Associação Mundial dos
Sobreviventes do Holocausto. Ele
esteve em oito campos de concentração, entre eles Auschwitz.
"Ironizando a teoria racista, ele
transmite uma mensagem sobre o
absurdo que é o preconceito",
acrescentou Abraham, que comparou Benigni a Charles Chaplin.
O empresário de construção civil
Kiwa Kozuchowicz, 76, também
sobreviveu ao nazismo. Até hoje
tem tatuado no braço seu número
de prisioneiro. O momento do filme em que é feita uma brincadeira
sobre essas marcas de identificação não o incomodou.
"Acho que é válido o humor usado por Benigni. Ele fez uma coisa
mais leve, o que vai ajudar a fazer o
tema da guerra entrar na cabeça
das pessoas", comentou.
Os críticos do filme desaprovam
o retrato "suave" de Benigni do
campo de concentração e dos nazistas. Um articulista do diário
francês "Le Monde" chamou o filme de "comédia revisionista".
"O filme suaviza o Holocausto e
não retrata as atrocidades", disse o
rabino Henry Sobel. "Mas ele não
pretende ser um documentário sobre o nazismo. É só um relato sobre o amor e o espírito humano."
Sobel, presidente do rabinato da
Congregação Israelita Paulista,
disse que "Benigni fez mais do que
misturar comédia e drama. Ele esconde o drama dentro da comédia.
Isso faz o espectador chorar e rir".
"Adorei o filme, embora seja politicamente incorreto", afirmou o
rabino.
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