São Paulo, Sexta-feira, 05 de Fevereiro de 1999
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A REAÇÃO
Judeus aceitam bem a comédia

MARCELO STAROBINAS
especial para a Folha

A recepção calorosa de "A Vida é Bela" nos meios judaicos é o argumento que Roberto Benigni mais precisava para enfrentar os que consideram inconcebível uma comédia sobre o Holocausto.
O prêmio de melhor filme do Festival de Cinema de Jerusalém -na categoria intitulada "experiência judaica"- foi a primeira evidência de que cenas de pastelão em um campo de concentração não são vistas como sendo necessariamente de mau gosto pelos sobreviventes da barbárie.
Desde o início, o filme contou com a aprovação da comunidade judaica italiana. Benigni -que, certa vez, lamentou "não ter a honra de ser judeu"- contou com a ajuda do Centro de Documentação Hebraica Contemporânea de seu país nas pesquisas históricas.
No Brasil, dois sobreviventes da Segunda Guerra que assistiram à pré-estréia elogiaram a obra. "Apesar de o tema ser sério e pesado, o filme não deixa de ser divertido do início ao fim", disse o escritor Ben Abraham, 74, vice-presidente da Associação Mundial dos Sobreviventes do Holocausto. Ele esteve em oito campos de concentração, entre eles Auschwitz.
"Ironizando a teoria racista, ele transmite uma mensagem sobre o absurdo que é o preconceito", acrescentou Abraham, que comparou Benigni a Charles Chaplin.
O empresário de construção civil Kiwa Kozuchowicz, 76, também sobreviveu ao nazismo. Até hoje tem tatuado no braço seu número de prisioneiro. O momento do filme em que é feita uma brincadeira sobre essas marcas de identificação não o incomodou.
"Acho que é válido o humor usado por Benigni. Ele fez uma coisa mais leve, o que vai ajudar a fazer o tema da guerra entrar na cabeça das pessoas", comentou.
Os críticos do filme desaprovam o retrato "suave" de Benigni do campo de concentração e dos nazistas. Um articulista do diário francês "Le Monde" chamou o filme de "comédia revisionista".
"O filme suaviza o Holocausto e não retrata as atrocidades", disse o rabino Henry Sobel. "Mas ele não pretende ser um documentário sobre o nazismo. É só um relato sobre o amor e o espírito humano."
Sobel, presidente do rabinato da Congregação Israelita Paulista, disse que "Benigni fez mais do que misturar comédia e drama. Ele esconde o drama dentro da comédia. Isso faz o espectador chorar e rir".
"Adorei o filme, embora seja politicamente incorreto", afirmou o rabino.


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