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Emanuelle Araújo é elitização do Carnaval
PAULO VIEIRA
especial para a Folha, em Salvador
A progressiva elitização do Carnaval baiano acaba de ganhar seu
mais perfeito emblema: deixa a
Banda Eva Ivete Sangalo, 26, baiana de Juazeiro, voz rude de interiorana, contralto, joanete, entra
Emanuelle Araújo, 22, baiana de
Salvador, curso superior de biologia não concluído, filha de comerciante e professora universitária,
base financeira "bacana, mas sem
luxos", soprano, feições delicadas,
pés impecáveis.
A substituição causou frisson entre as muitas candidatas a candidata, mas foi decidida aparentemente
sem conflito no interior das organizações Eva: Emanuelle foi aprovada pelos sete sócios do bloco e
pelo estafe artístico da banda
-que tem outro regimento-
após um show solo em que cantava
sua música funk "de raiz baiana",
como define.
Foi em meados de 98, embora a
comunicação oficial da troca só tenha se dado mais tarde. Excursionando pela Europa com o grupo
Eva durante a Copa, o saxofonista
e arranjador Paulinho Andrade foi
chamado às pressas à Bahia para
começar a preparação da nova
cantora. Era o início, intramuros,
da sucessão.
Emanuelle passou os últimos
anos se balançando entre a música
e o teatro. Aos 15, subia em trios
elétricos com a Bier Banda (no
qual também começou Sangalo),
mas antes disso já participava de
uma companhia de teatro infantil
-apoiada por verbas oficiais-,
levando textos de Maria Clara Machado e musicais leves. Aprofundou-se na faculdade, transferindo-se da biologia para o teatro na mesma Universidade Federal da Bahia,
seguiu o método Stanislavski,
montou esquetes de Nelson Rodrigues e fez workshop de Shakespeare.
Tudo isso seria conversa de hebdomadário, se Emanuelle não assumisse o lugar de Ivete, que levou
o Eva à marca de 3 milhões de cópias vendidas, entre outros feitos.
"Sinto-me lisonjeada por ter sido
escolhida. Dá um friozinho na barriga pensar na responsabilidade,
mas confio muito em mim. Não tenho grande experiência, tenho alguma, e vou levá-la para esse trabalho."
As duas mal trocaram "experiências" durante o tempo comum de
Eva. "Nos batemos algumas vezes
na academia de ginástica, somos
sócias da mesma", diz Emanuelle.
E de novo: "Tenho a preocupação
de ser muito eu, não estou começando agora, tenho personalidade.
Encaro estar no Eva como estar
numa peça de teatro em que existe
um personagem, e cada ator dá
uma interpretação a ele".
Ivete evita a polêmica. Chama
Emanuelle de "figura muito simpática", rechaça o termo "substituta" e sai-se com o aforismo "se a
escolheram, é porque era para ser
ela".
Emanuelle fará seu debute no
Carnaval temporão de Porto Seguro, daqui a duas semanas (a terminologia inclui expressões como
quinta e sexta-feira "de cinzas") e,
além dos ensaios exaustivos, trata
de afinar o discurso com o da banda. "Sempre gostei do Eva, a banda
consegue passar a energia da Bahia
com astral e uma música de qualidade, de cuidado." Sabe que vai
enfrentar uma maratona de shows
inacreditável -cerca de 20 por
mês, incluindo micaretas. E ela terá de participar de todos, pois o
Eva, diferentemente do Olodum,
não tem um "Expressinho". Os
compromissos com a mídia já se
avolumam (gravou "Fantástico" e
"Vídeo Show", é capa da "Nova"
deste mês). Já em março o Eva pretende gravar um show que dará em
Salvador. Com a inclusão no repertório de quatro inéditas, e previsão
para junho, é o disco da Banda Eva
de 99. Durante seus primeiros
shows, Emanuelle e Ivete -esta na
carreira solo- deverão dividir o
mesmo repertório.
Afinal, músicas como "Arerê" e
"Alô, Paixão" são sucessos espalhafatosos e sempre pedidas pelo
público. Foram escritas por um
banco de compositores para o Eva.
Elas estão recebendo novos arranjos para a voz de Emanuelle.
"Carro Velho", um dos últimos
sucessos do grupo, em que Ivete
canta com extrema perícia acima
do seu tom, escapa do esquema,
tendo sido composta pela própria
intérprete, já visando sua carreira
solo.
Emanuelle assinou contrato de
três anos, tem direito a participações de porcentagens de bilheteria
e contratos publicitários (o Eva
tem acordos com a Brahma e a Telebahia). É empresariada por Jorge
Sampaio -sócio do Eva e grande
impulsionador da carreira de Daniela Mercury e Ara Ketu.
No meio do turbilhão, Emanuelle percebeu que acabou por sepultar seus planos de um ano atrás,
quando tentou se lançar como cantora, naquele repertório de funk. Já
tem uma música composta especialmente para ela tocando em rádios de Salvador, "40 Graus".
"Nem por um momento hesitei em
vir para o Eva. As pessoas dizem
que vai ser meu maior trampolim,
mas para mim isso já é o salto."
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