São Paulo, domingo, 05 de março de 2006

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Pirataria de seriados americanos pela internet vira mania entre fãs

Bruno Miranda/Folha Imagem
O webmaster Danilo, que tem cerca de 60 horas de programação de TV no computador de casa


NINA LEMOS

COLUNISTA DA FOLHA

O DJ André (os nomes são fictícios), 28, é fã do seriado "24 Horas". Mas isso não quer dizer que ele esteja ansioso com a estréia da quinta temporada da série, dia 13, na Fox. André faz parte de um time cada vez mais numeroso, o dos piratas de seriados. No caso, sua falta de ansiedade em relação à estréia tem um motivo muito simples. Ele já viu o episódio. No momento, delicia-se com o meio da quinta temporada (o mesmo momento da série que está sendo exibido nos EUA).
André baixa em seu computador cada um dos episódios poucos minutos depois de eles estrearem e serem exibidos em Los Angeles. A pirataria de programas de TV é parecida com a de MP3, o já conhecido formato de músicas que são "trocadas" ou compradas pelo computador.
A diferença é que os seriados demoram mais tempo para serem baixados, cerca de oito horas, e só agora a prática começa a ser popularizada. "Oito horas depois de o episódio passar nos EUA, eu já o tenho na minha casa", conta André, que também já tem toda a segunda temporada de "Lost".
Não é preciso ser um nerd de computador para conseguir baixar as séries já legendadas. Existem centenas de blogs e comunidades no Orkut que fornecem os links onde podem ser obtidos. Também já há programas que permitem que os seriados sejam legendados. Em qualquer comunidade das séries no site de relacionamentos dá para encontrar mensagens com títulos como "já legendei a quarta temporada, podem copiar daqui". O trabalho é feito pelos próprios fãs das séries.
A prática preocupa as emissoras, que ainda não têm uma posição definida em relação às novas tecnologias. "A internet pode ser considerada uma concorrente tanto para a TV paga quanto para a fechada", diz Elie Wahba, vice-presidente sênior para a América Latina do canal Fox. De acordo com ele, "trata-se de pirataria, uma prática que prejudica as TVs". Ao mesmo tempo, Wahba disse não saber o que fazer a respeito. "Eu nem sabia que isso acontecia nessa escala. Agora vou ter que alertar a sede da emissora nos Estados Unidos", disse ao ser comunicado pela Folha sobre a existência das comunidades e dos blogs que disponibilizam os seriados para download. Procurado, o canal Warner disse que não tinha como se posicionar a respeito.

Traficante de seriados
Os piratas não têm remorso em relação à prática. "Não sinto que preciso ficar à mercê das TVs esperando eles exibam [o programa] quando for mais conveniente. Acho que os capitalistas vão ter que se adaptar às novas tecnologias. Não é a tecnologia que vai ter que ser barrada por causa dos capitalistas", diz André, que tem cerca de cem horas de programação de TV armazenadas em seu computador, incluindo todos os episódios de seriados como "Desperate Housewives" e "Lost". André faz a alegria de seus amigos menos tecnológicos. "Ele é o meu traficante de seriados. Quando quero algum, peço para ele, que me dá uma cópia em DVD", diz o roteirista Marcelo, 25.
O webmaster Danilo, 28, também não se considera criminoso. "É um caminho natural da tecnologia. Se você possui todas as ferramentas para assistir às coisas quando quer, é melhor assim. Eles que se adaptem."
O stylist Renato, 26, é ainda mais ligado a essa tecnologia. Copia as temporadas de seriados que baixa pela internet para seu iPod vídeo (aparelho de execução de MP3 da Apple que também permite a exibição de vídeos). Tem no aparelho, que cabe no bolso do jeans, dezenas de episódios de "Desperate Housewives".

Direitos autorais
O fato é que copiar seriados de TV é proibido, de acordo com a Lei de Direitos Autorais. "A lei diz que você só pode copiar trechos de audiovisuais", explica o advogado Guilherme de Almeida, especializado em direito digital e um dos sócios do escritório Kaminski, Cerdeira e Pesserl Advogados. Ao mesmo tempo, ele diz que a lei é dúbia. "Existe uma brecha que diz que a pessoa copiar para consumo próprio não é um crime tão grave. É uma lei que permite várias interpretações."
Os piratas não têm muito medo, apesar de saberem que estão burlando a lei. "É muito difícil ser pego", diz Danilo, que tem cerca de 60 horas de programação de TV no computador de sua casa. E mais um bom número em DVD.


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