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CRÍTICA
Mulheres poderosas aparecem na TV
BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA
Vitória aperta a mão de
Júlia, elas se olham nos
olhos e se abraçam -um pacto
contra a maldade do mundo está
firmado. A cena é de "Belíssima",
a novela de Silvio Abreu que,
contra todas as expectativas, está
com índices altos de audiência.
Ponto para o autor: em vez de
uma heroína romântica, sofredora e solitária, a novela tem
duas amigas brigando juntas.
É uma novidade de "Belíssima"
trazer para o centro da ação duas
mulheres em vez de uma só, boa,
em conflito com uma outra, má.
Silvio Abreu sempre acreditou
em mulheres poderosas (e do
bem) -a novela está cheia delas,
desde a sestrosa Safira à doce Sabina -, mas dessa vez deu um
passo além ao fazer de Vitória e
Júlia aliadas leais.
Como se sabe, a lealdade e a
amizade entre mulheres é negada de maneira veemente nas sociedades sexistas -a associação
solidária de duas mulheres é por
demais assustadora.
Sinal dos tempos, com certeza.
A TV, conformista que é, sempre
foi território dos estereótipos
mais tacanhos, das imagens de
gênero mais autoritárias, do machismo mais vulgar. Ainda é -
na propaganda ou no entretenimento, a objetificação do corpo
feminino continua sendo uma
tediosa e ofensiva moeda corrente-, mas não só.
Mulheres legais -entenda-se:
do bem, donas de seu nariz, de
seu corpo, poderosas etc.- ,
comportamentos e identidades
considerados pouco femininos
até pouco tempo atrás e sexualidades mais diversas têm aparecido aqui e ali, sobretudo na ficção.
É claro que os seriados norte-americanos incorporaram antes
e melhor as conquistas do feminismo (e do pós-feminismo).
"Sex and the City" é um exemplo
óbvio e "The L Word", idem,
mas há muitos outros.
Entre os mais recentes e interessantes, estão os que desafiam
algumas da convenções mais intocáveis, como a bondade fundamental da mãe de família, em séries como "Weeds" e "Desperate
Housewives".
Ah, sim, e num seriado considerado menor, "That 70's Show",
há a sensacional Donna, um garota grande, meio molecona, que
não leva desaforo para casa, sobretudo do namorado.
(Aliás, Maria João, da mesma
"Belíssima", também recusa a feminilidade-padrão e vive em
atritos com a mãe gostosona e a
irmã modelo por conta de suas
escolhas identitárias; espero que
o autor não a revele lésbica mais
adiante).
Aqui, as coisas sempre foram
hesitantes nesse terreno, mas,
mesmo assim, já são muitas as
mulheres bacanas e as garotas
superpoderosas que circulam
pela TV -uma lista possível teria, além das já citadas, Marinete
e Ipanema, do seriado cômico "A
Diarista", Penny Lane, de "Bang
Bang", Dona Nenê, de "A Grande Família"... Viva elas, mesmo
que só existam na ficção.
biabramo.tv@uol.com.br
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