São Paulo, domingo, 05 de março de 2006

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CRÍTICA

Mulheres poderosas aparecem na TV

BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA

Vitória aperta a mão de Júlia, elas se olham nos olhos e se abraçam -um pacto contra a maldade do mundo está firmado. A cena é de "Belíssima", a novela de Silvio Abreu que, contra todas as expectativas, está com índices altos de audiência. Ponto para o autor: em vez de uma heroína romântica, sofredora e solitária, a novela tem duas amigas brigando juntas.
É uma novidade de "Belíssima" trazer para o centro da ação duas mulheres em vez de uma só, boa, em conflito com uma outra, má. Silvio Abreu sempre acreditou em mulheres poderosas (e do bem) -a novela está cheia delas, desde a sestrosa Safira à doce Sabina -, mas dessa vez deu um passo além ao fazer de Vitória e Júlia aliadas leais.
Como se sabe, a lealdade e a amizade entre mulheres é negada de maneira veemente nas sociedades sexistas -a associação solidária de duas mulheres é por demais assustadora.
Sinal dos tempos, com certeza. A TV, conformista que é, sempre foi território dos estereótipos mais tacanhos, das imagens de gênero mais autoritárias, do machismo mais vulgar. Ainda é - na propaganda ou no entretenimento, a objetificação do corpo feminino continua sendo uma tediosa e ofensiva moeda corrente-, mas não só.
Mulheres legais -entenda-se: do bem, donas de seu nariz, de seu corpo, poderosas etc.- , comportamentos e identidades considerados pouco femininos até pouco tempo atrás e sexualidades mais diversas têm aparecido aqui e ali, sobretudo na ficção.
É claro que os seriados norte-americanos incorporaram antes e melhor as conquistas do feminismo (e do pós-feminismo). "Sex and the City" é um exemplo óbvio e "The L Word", idem, mas há muitos outros.
Entre os mais recentes e interessantes, estão os que desafiam algumas da convenções mais intocáveis, como a bondade fundamental da mãe de família, em séries como "Weeds" e "Desperate Housewives".
Ah, sim, e num seriado considerado menor, "That 70's Show", há a sensacional Donna, um garota grande, meio molecona, que não leva desaforo para casa, sobretudo do namorado.
(Aliás, Maria João, da mesma "Belíssima", também recusa a feminilidade-padrão e vive em atritos com a mãe gostosona e a irmã modelo por conta de suas escolhas identitárias; espero que o autor não a revele lésbica mais adiante).
Aqui, as coisas sempre foram hesitantes nesse terreno, mas, mesmo assim, já são muitas as mulheres bacanas e as garotas superpoderosas que circulam pela TV -uma lista possível teria, além das já citadas, Marinete e Ipanema, do seriado cômico "A Diarista", Penny Lane, de "Bang Bang", Dona Nenê, de "A Grande Família"... Viva elas, mesmo que só existam na ficção.
biabramo.tv@uol.com.br

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