São Paulo, segunda-feira, 05 de abril de 2004

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TELEVISÃO

Conhecida pelo drama familiar "Casamento à Indiana", cineasta agora faz crônica da sociedade americana

Mira Nair encara os "exóticos" anos 80

SYLVIA COLOMBO
EDITORA DO FOLHATEEN

Primeiro foi a atmosfera de exotismo dos costumes familiares da Índia que Mira Nair empacotou em forma de filme chique, em seu premiado "Casamento à Indiana" (2001). Agora, a cineasta indiana volta-se aos EUA e a uma época que, aos olhos de hoje, parece tão exótica como sua distante terra natal, os anos 80, em todas as suas cores e seus exageros.
O elenco de "Hysterical Blindness" (cegueira histérica) é convidativo -Uma Thurman, Juliette Lewis, Gena Rowlands e o veterano Ben Gazzara- e chega a ser um desperdício num filme que não é mais do que mediano.
A história se passa em New Jersey, onde duas mulheres às voltas dos 30 desesperam-se (o "histérico" do título não é uma hipérbole) na busca do tal homem ideal. A crença de que o príncipe encantado fará sua salvadora aparição no Ollie's, sujo bar local infestado de tipos suspeitos encostados no balcão, leva-as a freqüentar o lugar. Vestem blusas de oncinha, jeans justíssimos e desbotados e cabelão tipo escova e dançam ao som de uma trilha que acaba sendo o melhor que a produção oferece, ao lado da atuação de Thurman.
Oportunidade única para ouvir de novo "clássicos" já varridos pelo tempo, como "Last Night a DJ Saved My Life" (Indeep) e "Ain't Nobody" (Chaka Khan), além de um onipresente Bruce Springsteen. A trilha diz um tanto sobre a "sedução" na época. Há um momento em que uma das garotas pergunta à outra que música deve colocar para impressionar um tipo por quem está interessada. A resposta: "Qualquer coisa do Zeppelin, não pode dar errado".
Debbie (Thurman) vive em conflito com a mãe (Rowlands), uma senhora que trabalha numa daquelas típicas lanchonetes americanas, servindo café aguado a senhores barrigudos.
Até que Debbie se interessa por um dos desclassificados que freqüentam o Ollie's e passa a fantasiar de uma maneira doentia uma história de amor. Thurman tem uma atuação brilhante ao traduzir o esforço de imaginação que Debbie faz para se convencer de que ele é o homem de sua vida, a tal "cegueira histérica".
Mas apesar da diretora badalada e do elenco estrelado, "Hysterical Blindness" é apenas um filme televisivo para mulheres que se apóia nos clichês de sempre, homens que não ligam, melhores amigas que não falham etc.
Vale sim pela viagem musical e por Uma Thurman. Mas, para conferir a habilidade da atriz ao interpretar uma mulher tomada pelo furor de uma obsessão, o melhor é esperar por "Kill Bill", de Quentin Tarantino, que é muito mais divertido e já já estréia aqui.


HYSTERICAL BLINDNESS. EUA, 2002.
Direção: Mira Nair. Com: Uma Thurman, Gena Rowlands, Juliette Lewis. Quando: estréia hoje, às 21h, no HBO (reprises dias 9, às 22h45, e 13, às 19h15).



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