São Paulo, segunda-feira, 05 de abril de 2004

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Estudioso liga "Fausto" ao Brasil

FREE-LANCE PARA A FOLHA

Pode parecer estranha uma aproximação entre Fausto e Brasília. Mas, para o pesquisador Michael Jaeger, da Universidade Livre de Berlim, as relações entre Fausto e a história do Brasil "são mais expressivas do que poderiam parecer à primeira vista".
"Brasília poderia ter sido construída por Fausto, faz parte da sua "colônia", da utopia da modernidade, cujo símbolo mais evidente é a arquitetura. Não me surpreenderia se entre as anotações do arquiteto de Brasília se encontrassem pensamentos de inspiração genuinamente fáustica", disse Jaeger à Folha. O pesquisador acaba de lançar na Alemanha "Fausts Kolonie" (A Colônia de Fausto), estudo de mais de 600 páginas sobre a obra de Goethe.
A sugestão de uma "Brasília fáustica" resulta de uma análise de Jaeger: no final da tragédia, "vemos o mundo de Fausto transformado em gigantesco canteiro de obras", e Goethe coloca na boca do herói citações literais do socialista Saint-Simon, "expressão da crença tecnicista e construtivista, sob a divisa do progresso (e também da ordem)".
Jaeger propõe novo paradigma à leitura da obra: em vez da idéia de "perfectibilidade", o subtítulo "tragédia" tem sido levado mais a sério, e "Fausto" passa a ser lido como uma história de catástrofes, sem reconciliação terrena. ""Fausto" seria a verdadeira figura do "horror". O poeta deu forma literária ao seu crescente mal-estar na modernidade." (AA)


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