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Vinte anos depois de uma grande retrospectiva, o MAM de São Paulo volta a mostrar a obra do artista italiano que se consolida como o mais importante pintor do Brasil
Reencontro com VOLPI
GABRIELA LONGMAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Novamente no MAM-SP, novamente a curadoria de Olívio Tavares de Araújo, novamente Alfredo
Volpi. Vinte anos depois da exposição "Volpi 90 Anos", o museu
paulistano inaugura hoje "Volpi,
a Música da Cor", mais nova retrospectiva do pintor italiano
(1896-1988) que transformou a
arte brasileira.
A mostra traz ao público 140
obras que percorrem diferentes
fases do artista, de suas paisagens
de beira-mar às emblemáticas fachadas e bandeirinhas, passando
pela influência do movimento
concretista na década de 50. Em
comum a todas, o trabalho rigoroso com a cor e "algo de anonimato, como numa cantiga de roda, como num finíssimo artesanato", nos termos do crítico Rodrigo Naves, autor do ensaio
"Anonimato e Singularidade em
Volpi", publicado no livro "A Forma Difícil" (editora Ática).
"Volpi é um dos grandes artistas brasileiros que equivocadamente não foram reconhecidos
no exterior. Como acabamos sendo muito pautados pela crítica internacional, isso o afastou do diálogo com movimentos contemporâneos", diz Naves.
Não obstante o relativo desconhecimento no circuito internacional, Volpi parece cada vez mais
se consolidar, na opinião de críticos e artistas, como o grande pintor brasileiro.
Importância
"Volpi figura como ponto de
partida na consolidação da nossa
arte moderna. Se a arte era um arquipélago com ilhas de modernidade, a partir de Volpi ela ganha
um território mais consistente e
contínuo", diz o crítico Paulo Sérgio Duarte. Segundo ele, a partir
de Volpi, a pintura adquire um
caráter de exterioridade, se volta
para o mundo. "Um quadro de
Volpi ocupa sempre mais espaço
do que só um quadro de Volpi",
diz.
Para o também crítico e curador
Tadeu Chiarelli, o mérito do artista está, entre outras coisas, em
"continuar dizendo sobre a possibilidade da pintura pintando. Cada vez mais ele se constitui como
referência para a pintura".
Para o pintor Paulo Pasta, Volpi
é o melhor e mais completo pintor brasileiro. "Ele faz uma equação muito sofisticada da cultura
popular. Sua potência para a cor é
equiparável à de Matisse, que, por
sinal, era seu pintor favorito. Sua
"simplicidade" me lembra Manuel
Bandeira."
Trabalhos de Pasta e de outros
pintores influenciados por Volpi,
como Marco Gianotti, também
poderão ser vistos na exposição
paralela organizada pelo museu.
A mostra "Ao Mesmo Tempo o
Nosso Tempo" também apresenta obras do acervo do MAM representativas do grupo Santa Helena e da Família Artística Paulista, grupos com os quais Volpi teve
ligação.
Descoberta de obras
Segundo o curador Olívio Tavares de Araújo, uma das vantagens
da exposição sobre a anterior é o
processo recente de catalogação
desenvolvido pelo Projeto Volpi.
Se até meados da década de 90
cerca de 400 obras eram conhecidas, esse número se multiplicou
por seis, permitindo um olhar
mais preciso sobre sua trajetória.
"Assim, há aqui mais de 30 telas
inéditas, que nunca foram publicamente apresentadas, e em torno de 20 não conhecidas nem sequer através de reproduções em
livros", diz Olívio, que conviveu
com Volpi a partir de 1971 e filmou um documentário sobre o
artista -que também será exibido na mostra.
Nascido em Lucca, na Itália, o
pintor emigrou com os pais para
o Brasil antes dos dois anos de
idade. Instalado no bairro do
Cambuci, desenvolveu sua carreira como pintor-decorador de frisos, florões etc., ornamentando
prédios e palacetes paulistanos.
Só a partir da década de 30 que viria a se tornar pintor de cavalete,
fazendo sua primeira exposição
quando já contava com 45 anos.
"Volpi não se perturbava com o
mundo ao redor, não se preocupava com o sucesso. Conservava
intacto seu lado de artesão e operário", conta Olívio, que se lembra
do artista usando seus singelos tamancos mesmo depois de receber
o prêmio de Melhor Pintor Nacional na Bienal de 1954. Outra lembrança do curador é a do cheiro
que carregavam os quadros de
Volpi: o do óleo de cravo que ele
usava na solvência da têmpera.
Volpi - A Música da Cor
Quando: abertura hoje, às 19h30; de ter.
a dom., das 10h às 18h; até 2/7
Onde: MAM (parque Ibirapuera, s/nš,
portão 3, tel. 0/xx/11/5549-9688)
Quanto: R$ 5,50; entrada franca aos
domingos
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