São Paulo, terça-feira, 05 de abril de 2011 |
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20º FESTIVAL DE CURITIBA Em "Tio Vânia", Galpão reflete sobre maturidade Prestes a completar 30 anos, grupo tenta desconstruir leitura fatalista da peça em montagem em Curitiba Figuração incompleta da encenação rompe com a noção de que realismo seja essencial nos textos de Tchékhov
GUSTAVO FIORATTI ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA O encontro do grupo Galpão com a obra de Anton Tchékhov (1860-1904) calcificou-se quase como um acidente na recente trajetória da companhia mineira. A estreia da peça "Tio Vânia" na próxima sexta no Festival de Curitiba, indica um toque do acaso. O Galpão não pretendia encenar o autor russo quando Yara de Novaes, atriz e diretora que também é de Minas, foi chamada para dirigir uma nova montagem. "A ideia era fazer [o inglês] Harold Pinter, mas não conseguimos os direitos." Rondava essa parceria a vontade de encenar um texto psicológico, portanto. Um drama faria contraponto à última montagem do grupo, "Till - A Saga de um Herói Torto", espetáculo de rua que transitava no campo das comédias burlescas. Tchékhov parecia estar engatilhado. O grupo havia se aproximado de sua obra em uma experiência para o cinema assinada por Eduardo Coutinho: "Moscou" (2009) documentou uma montagem de "As Três Irmãs" que nunca foi a público. A segunda opção foi rever uma adaptação de "Tio Vânia" assinada pelo argentino Daniel Veronese. A terceira tentativa foi adaptar a peça em processo colaborativo com todo o elenco. E a quarta, enfim, foi levantar o texto tal qual ele veio ao mundo. Novaes também atribui esse encontro a um sentimento de maturidade que ronda uma companhia com quase 30 anos de existência -boa parte de seus atores já passou a casa dos 40. ""Tio Vânia" traz questões de quem vive essa idade", ela reitera. Que questões seriam essas? A percepção da passagem do tempo? Também, ela diz. Tio Vânia é um sujeito que se dedicou a um projeto familiar que vai ruir diante de seus olhos. A história culmina em um vazio existencial acentuado pela chuva ininterrupta que aprisiona os personagens na casa de uma fazenda no segundo ato. FELICIDADE DISTANTE O Galpão, no entanto, procura uma leitura menos fatalista. O russo Jurij Alschitz, que vai dirigir adaptações de contos de Tchékhov com a companhia, derrubou alguns mitos sobre a obra, afirma Novaes. "Ele nos fez ver que não há só excesso de melancolia em Tchékhov. E não há necessariamente a representação de um tempo estacionado." A leitura da diretora reitera um contraponto: os personagens de "Tio Vânia" estão todos em busca de felicidade, ainda que ela seja representada como um ponto distante e quase inalcançável. Uma casa animada, cujos pilares se deslocam no palco italiano, faz com que o espaço cênico funcione como um último personagem. "É um lugar decadente, que não se sustenta", descreve Novaes. Com suas goteiras e móveis velhos, essa casa simboliza também "algo que não se sustenta". A figuração se faz de modo incompleto (com paredes interrompidas), mais uma quebra na ideia de que o realismo seja algo fundamental na obra de Tchékhov. O jornalista GUSTAVO FIORATTI viajou a convite do Festival de Curitiba. Texto Anterior: Mônica Bergamo Próximo Texto: Crítica/Comédia: Jogo satírico entre a Rússia e o Brasil tem final entediante Índice | Comunicar Erros |
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