São Paulo, quinta-feira, 05 de maio de 2005

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TEATRO

Grupo mineiro espanca!, destaque no último Festival de Curitiba, apresenta peça de Grace Passô no Sesc Pompéia

"Por Elise" vê ciranda de medos e afetos

Lenise Pinheiro/Folha Imagem
Os atores Gustavo Bones, que interpreta o lixeiro, e Paulo Azevedo, o funcionário do espetáculo "Por Elise", escrito por Grace Passô


VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O mundo carece de boas histórias para se proteger do mundo. Em "Por Elise", elas são trançadas por uma dona-de-casa, um lixeiro, um homem, uma mulher, um funcionário da carrocinha e um cão. Vizinhos -tão perto e tão longe-, os personagens são sacudidos por encontros delicados na dramaturgia de Grace Passô, 24, que contracena com mais quatro atores-criadores no grupo espanca!, de Belo Horizonte, uma das revelações do Fringe no último Festival de Teatro de Curitiba.
O espetáculo chega a São Paulo para três apresentações no Sesc Pompéia, de amanhã a domingo.
"O lixeiro é a representação da fé. Portanto, a ação da fé na peça é a ação de correr. A mulher é a representação da emoção. A emoção na peça tem a ação de cair. O cão é a representação da verdade. A ação da verdade é latir. Latir é a reação mais fiel ao instante. O funcionário é a representação do medo. A ação do medo é portanto, esconder-se. A dona-de-casa é a representação da razão. A ação da razão é falar", cravou Passô, às 14h26 do dia 17 de fevereiro, no diário virtual da montagem (www.porelise.blogger.com.br), quando alcançou o que diz ser sua versão particular do texto.
Não se trata de pragmatismo, longe disso. Em um ano de existência, o espanca! assimilou que o tempo dá cambalhotas.
As coisas se cristalizam no "durante", como o sol que agora, pós-Curitiba, ganha corpo na iluminação, um céu cujo movimento, nos conformes da narrativa, traduz o ciclo da natureza.
Circular é mesmo a estrutura, fim e recomeço. O lixeiro (Gustavo Bones) e a mulher (Samira Ávila) correm para lá e para cá. Ele, por conta do ofício, atrás do caminhão; ela em busca de consolo: seu cão será sacrificado.
O cão (Marcelo Castro, que desmonta a estereotipia do intérprete que se quer passar por animal e, ao "imitá-lo", dá com os burros n'água) e o funcionário (Paulo Azevedo) emanam afetividade e derrubam o muro que os separava à beira do sacrifício.
Destino, acaso, sabe-se lá, assim gira a ciranda dessa fábula contemporânea costurada pela senhora Elise, a dona-de-casa (Passô). Ela é demasiado insegura quanto ao outro, assim como o é em relação ao abacateiro no quintal, que lhe prega sustos com os frutos que se espatifam no chão, mas, antes, podem colher alguma cabeça. Abacates, abates. "Os personagens se salvam mais pela fé", diz Passô. Ou pela correria, o ir e vir que, em certos momentos, vaza para as coxias e alonga o vazio no palco, corações em eco.
""Por Elise" é muito a gente, a maneira como nossa geração vê as coisas. O que nos uniu foi mais uma questão filosófica do que técnica", diz a autora e diretora.
Passô é estudante de letras. Caçula de sete irmãos, tem numa das irmãs, professora de língua estrangeira, a inspiração pela palavra que depois viu lapidada em Guimarães Rosa e Clarice Lispector. "Por Elise" é o seu primeiro texto para teatro.
Azevedo, 27, e Ávila, 25, são jornalistas. Castro, 22, e Bones, 20, estudam artes cênicas e, como Passô, pertenciam à cia. Clara, também de BH ("Coisas Invisíveis"). "Por Elise" nasceu para a edição 2004 do Festival de Cenas Curtas Galpão Cine Horto e dali cresceu para correr o mundo.

Por Elise
Quando:
amanhã e sáb., às 21h; dom., às 18h; até 8/5
Onde: Sesc Pompéia - galpão (r. Clélia, 93, SP, tel. 0/xx/11/3871-7700)
Quanto: R$ 10


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