São Paulo, sexta-feira, 05 de maio de 2006

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DVDS

Marilyn oscila entre o drama e a comédia

Pacote reunindo três DVDs traz a estréia da lendária atriz em papéis dramáticos

CRÍTICO DA FOLHA

O que teria em mente Daniel Taradash em 1952 ao escrever o roteiro de "Almas Desesperadas"? O primeiro filme dramático de Marilyn Monroe parece, no entanto, captar muito bem o desequilíbrio de que a estrela era vítima e que, afinal, resultaria no seu suicídio em 1962.
Nesse suspense de orçamento modesto, ela faz Nell, jovem recém-saída de uma instituição psiquiátrica que, ao encontrar um piloto de avião (Richard Widmark), acredita estar diante de seu noivo, piloto, morto anos antes num desastre no Pacífico.
Quando isso acontece, ela é "babysitter" de uma garota em um hotel de Nova York e acredita que a menina está ali exclusivamente para atrapalhar o reencontro com o suposto noivo.
O papel é espeto, pois Marilyn tem de interpretar não propriamente uma psicopata, mas uma limítrofe, oscilando entre sanidade e insanidade. Também sua atuação é um tanto instável neste filme de Roy Ward Baker.
Nos momentos-chave deste suspense, quando ela coloca a vida de outras pessoas em perigo, Marilyn se sai muito bem, conseguindo alternar um jeito angelical e diabólico. Outro aspecto não desimportante do filme é Anne Bancroft ter feito sua estréia nele, já com uma presença de dar inveja.
Em "O Inventor da Mocidade", Marilyn é coadjuvante e faz a secretária sapeca de um velho industrial do ramo farmacêutico, empenhado, por razões tanto comerciais quanto pessoais, em encontrar a fórmula da juventude.
As honras do estrelato cabem aqui a Cary Grant, o gênio encarregado de criar a fórmula, e Ginger Rogers, sua mulher. O melhor momento de Marilyn é quando, tendo Cary tomado a fórmula, volta à juventude para fazer estrepolias em companhia da secretária, falsa ingênua, que parece nada fazer para ser tão sensual, mas está fazendo tudo.
Embora Howard Hawks, o diretor do filme (que a dirigiria novamente em "Os Homens Preferem as Loiras"), não se interessasse em nada por ela, Marilyn já mostra aqui os dotes de comediante que a consagrariam em seguida. E o filme vale por ser uma das melhores comédias dos anos 50 e, seguramente, um dos mais profundos filmes já feitos tendo como tema o envelhecimento.
Em "Nunca Fui Santa", de 1956, quem está em cena é já o mito Marilyn. Ela interpreta uma corista de Phoenix, Arizona, a quem um vaqueiro chucro, porém de bom coração, tenta convencer a se casar com ele e morar em seu sítio.
O diretor Joshua Logan errou aqui o tom de seu ator principal, Don Murray. Em vez de parecer um chato a ela, seu comportamento exagerado acaba por torná-lo insuportável também a quem vê o filme.
Como ocorre com freqüência, este é o filme "de prestígio" do lote, mas também o que mais sofreu com o tempo. O vaqueiro que pretende tratar mulheres como trata novilhos é um personagem ultrapassado. Marilyn faz a mundana ingênua e de alma boa.
Os três filmes foram objeto de restauro e, nesse item, "Nunca Fui Santa", colorido e em cinemascope, se deu bem. "O Inventor da Mocidade", ao contrário, ganhou contrastes dignos de filme policial. É muito mais agradável vê-lo na cópia que a TV a cabo exibia há algum tempo. No mais, a Fox economizou o que pôde em extras. (INÁCIO ARAUJO)
O Inventor da Mocidade
Filme:
0     
Cópia:°   
Nunca Fui Santa
   
Almas Desesperadas
  
Distribuidora: Fox Quanto: R$ 35, em média, cada um


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