São Paulo, segunda-feira, 05 de maio de 2008

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Crítica/ "O Clã de Rhett Butler"

Personagem clássico retorna em bom livro

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Num momento em que David Bret se esforça para atrair a atenção com uma biografia polêmica, recheada de detalhes padrão fofoca da vida de Clark Gable, o ator retorna do limbo simultaneamente graças ao personagem que o consolidou no papel de mito da era de ouro do cinema de Hollywood.
No clássico "...E o Vento Levou" (1939), Gable emprestou seu olhar irresistível e um indefectível bigodinho à figura de Rhett Butler, um tipo sedutor e único capaz de domar a espevitada Scarlett O'Hara.
O retorno do personagem vem pelas mãos do escritor Donald McCaig, que recebeu dos herdeiros de Margaret Mitchell, autora do romance homônimo que deu origem ao filme, a autorização para escrever "O Clã de Rhett Butler".
A obra, que se propõe contar "a história que não foi contada" no livro de Mitchell, de fato não é uma seqüência da epopéia dos proprietários sulistas e do retrato do fim de uma época que trazia O'Hara como mocinha.
Ao contrário de "Scarlett", escrito por Alexandra Ripley em 1991, "O Clã de Rhett Butler" é mais precisamente uma variação do ponto de vista de "...E o Vento Levou".
Foco em Butler
O principal, como fica evidente desde o título, é a conversão de Butler em protagonista. O investimento mais relevante de McCaig e que rende as melhores qualidades de seu romance é a obsessiva pesquisa histórica, que lhe permite reconstituir em detalhes a vida no Sul nos períodos que antecedem e sucedem a Guerra Civil.
Enquanto o livro de Mitchell (e sua versão nas telas) dá muitas vezes a impressão de ser uma história tortuosa de amor que toma a Guerra Civil apenas como pano de fundo, adquirindo desse modo ares de epopéia que de fato não é, o romance de McCaig opta por uma construção em negativo deste modelo.
Ao autor desta "seqüência" interessam mais as possibilidades de investir na construção de um romance histórico, e é nesta diferença que reside o interesse de "O Clã...".
Por mais que o autor se estenda às vezes em demasia no envolvimento entre Butler e O'Hara, as peripécias romanescas do personagem na sociedade sulista, seu envolvimento nos combates, a riqueza da descrição do incêndio de Atlanta e dos encantos multiculturais de Nova Orleans e, em particular, a reconstituição irônica dos valores racistas que se mantiveram arraigados na sociedade americana garantem para "O Clã de Rhett Butler" uma sobrevivência até certo ponto autônoma do fantasma glorioso do livro e filme originais.


O CLÃ DE RHETT BUTLER
Autor:
Donald McCaig
Tradução: Ana Deiró
Editora: Rocco
Quanto: R$ 46 (512 págs.)
Avaliação: bom


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