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Crítica/ "O Clã de Rhett Butler"
Personagem clássico retorna em bom livro
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
Num momento em que David Bret se esforça para atrair a
atenção com uma biografia polêmica,
recheada de detalhes padrão
fofoca da vida de Clark Gable, o
ator retorna do limbo simultaneamente graças ao personagem que o consolidou no papel
de mito da era de ouro do cinema de Hollywood.
No clássico "...E o Vento Levou" (1939), Gable emprestou
seu olhar irresistível e um indefectível bigodinho à figura de
Rhett Butler, um tipo sedutor e
único capaz de domar a espevitada Scarlett O'Hara.
O retorno do personagem
vem pelas mãos do escritor Donald McCaig, que recebeu dos
herdeiros de Margaret Mitchell, autora do romance homônimo que deu origem ao filme, a autorização para escrever "O Clã de Rhett Butler".
A obra, que se propõe contar
"a história que não foi contada"
no livro de Mitchell, de fato não
é uma seqüência da epopéia dos
proprietários sulistas e do retrato do fim de uma época que
trazia O'Hara como mocinha.
Ao contrário de "Scarlett",
escrito por Alexandra Ripley
em 1991, "O Clã de Rhett Butler" é mais precisamente uma
variação do ponto de vista de
"...E o Vento Levou".
Foco em Butler
O principal, como fica evidente desde o título, é a conversão de Butler em protagonista.
O investimento mais relevante de McCaig e que rende as
melhores qualidades de seu romance é a obsessiva pesquisa
histórica, que lhe permite reconstituir em detalhes a vida
no Sul nos períodos que antecedem e sucedem a Guerra Civil.
Enquanto o livro de Mitchell
(e sua versão nas telas) dá muitas vezes a impressão de ser
uma história tortuosa de amor
que toma a Guerra Civil apenas
como pano de fundo, adquirindo desse modo ares de epopéia
que de fato não é, o romance de
McCaig opta por uma construção em negativo deste modelo.
Ao autor desta "seqüência"
interessam mais as possibilidades de investir na construção
de um romance histórico, e é
nesta diferença que reside o interesse de "O Clã...".
Por mais que o autor se estenda às vezes em demasia no
envolvimento entre Butler e
O'Hara, as peripécias romanescas do personagem na sociedade sulista, seu envolvimento
nos combates, a riqueza da descrição do incêndio de Atlanta e
dos encantos multiculturais de
Nova Orleans e, em particular, a
reconstituição irônica dos valores racistas que se mantiveram
arraigados na sociedade americana garantem para "O Clã de
Rhett Butler" uma sobrevivência até certo ponto autônoma
do fantasma glorioso do livro e
filme originais.
O CLÃ DE RHETT BUTLER
Autor: Donald McCaig
Tradução: Ana Deiró
Editora: Rocco
Quanto: R$ 46 (512 págs.)
Avaliação: bom
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