São Paulo, terça-feira, 05 de maio de 2009

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Comentário/música

Sexteto reproduz com brilhantismo tom etéreo do clássico "Kind of Blue"

CARLOS CALADO
ENVIADO ESPECIAL A NOVA ORLEANS

Minutos antes, na plateia, ou mesmo entre os fotógrafos à frente do palco, era possível sentir que algo especial estava por acontecer. Festejando sua 40ª edição, o New Orleans Jazz & Heritage Festival também comemorou, no último sábado, os 50 anos da gravação do cultuado álbum "Kind of Blue", obra-prima do jazzista Miles Davis. Compenetrado, como se estivesse numa missão mística, o baterista Jimmy Cobb, 80, único remanescente do grupo que participou das gravações com Davis, não se dirigiu à plateia uma única vez. Com a atenção focada na música, comandou seu sexteto formado por feras da cena jazzística nova-iorquina com segurança e sutileza. Sem a intenção de reproduzir nota por nota as cinco faixas do álbum (algo impensável para um gênero que tem a improvisação como essência), o sexteto resgatou com brilho a atmosfera etérea das gravações. O roteiro do concerto não poderia ser diferente: as cinco composições são tocadas, ou melhor, improvisadas, na mesma ordem do álbum. Assobios, gritos e palmas se misturaram, assim que as primeiras notas do tema "So What" (tocado em andamento mais rápido), foram reconhecidas pelos fãs. Depois vieram o saboroso blues "Freddie Freeloader", a melancólica balada "Blue in Green", o valsante "All Blues" (aplaudido de pé) e a nostálgica "Flamenco Sketches".
Usando um modelito que remetia ao visual extravagante de Miles Davis, o trompetista Wallace Roney lembra, em seus solos, o estilo cool do mestre, sem decalcá-lo. Também é possível sentir traços das influências de John Coltrane e Cannonball Adderley, nos improvisos dos saxofonistas Javon Jackson e Vincent Herring, respectivamente. Sem o mesmo clima emotivo das edições anteriores (o que mostra que Nova Orleans já assimilou a tragédia provocada pelo furacão Katrina), mais uma vez o festival se valeu de figurões da música pop. Os shows de Bon Jovi e Kings of Leon, no sábado, contribuíram para que o evento tenha voltado a repetir as multidões dos anos pré-Katrina.


O jornalista CARLOS CALADO viajou a convite do Bourbon Street Music Club e do festival Bridgestone Music.


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