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Comentário/música
Sexteto reproduz com brilhantismo tom etéreo do clássico "Kind of Blue"
CARLOS CALADO
ENVIADO ESPECIAL A NOVA ORLEANS
Minutos antes, na plateia, ou mesmo entre
os fotógrafos à frente
do palco, era possível sentir que
algo especial estava por acontecer. Festejando sua 40ª edição,
o New Orleans Jazz & Heritage
Festival também comemorou,
no último sábado, os 50 anos da
gravação do cultuado álbum
"Kind of Blue", obra-prima do
jazzista Miles Davis.
Compenetrado, como se estivesse numa missão mística, o
baterista Jimmy Cobb, 80, único remanescente do grupo que
participou das gravações com
Davis, não se dirigiu à plateia
uma única vez. Com a atenção
focada na música, comandou
seu sexteto formado por feras
da cena jazzística nova-iorquina com segurança e sutileza.
Sem a intenção de reproduzir
nota por nota as cinco faixas do
álbum (algo impensável para
um gênero que tem a improvisação como essência), o sexteto
resgatou com brilho a atmosfera etérea das gravações.
O roteiro do concerto não poderia ser diferente: as cinco
composições são tocadas, ou
melhor, improvisadas, na mesma ordem do álbum.
Assobios, gritos e palmas se
misturaram, assim que as primeiras notas do tema "So
What" (tocado em andamento
mais rápido), foram reconhecidas pelos fãs.
Depois vieram o saboroso
blues "Freddie Freeloader", a
melancólica balada "Blue in
Green", o valsante "All Blues"
(aplaudido de pé) e a nostálgica
"Flamenco Sketches".
Usando um modelito que remetia ao visual extravagante de
Miles Davis, o trompetista Wallace Roney lembra, em seus solos, o estilo cool do mestre, sem
decalcá-lo.
Também é possível sentir
traços das influências de John
Coltrane e Cannonball Adderley, nos improvisos dos saxofonistas Javon Jackson e Vincent
Herring, respectivamente.
Sem o mesmo clima emotivo
das edições anteriores (o que
mostra que Nova Orleans já assimilou a tragédia provocada
pelo furacão Katrina), mais
uma vez o festival se valeu de figurões da música pop. Os
shows de Bon Jovi e Kings of
Leon, no sábado, contribuíram
para que o evento tenha voltado a repetir as multidões dos
anos pré-Katrina.
O jornalista CARLOS CALADO viajou a convite
do Bourbon Street Music Club e do festival Bridgestone Music.
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